Speedy Gonçalves, o anti-herói prémio de ética no desporto
No dia 9 de janeiro, Paulo Gonçalves liderava o Dakar e tudo parecia encaminhado para vencer a mítica prova de todo-o-terreno, mas ao quilómetro 15 da 7.ª etapa o motard parou para dar o alerta de acidente e ajudar Matthias Walkner. O austríaco tinha sofrido uma queda feia e o piloto português da Honda parou para o ajudar... durante 10 minutos e 53 segundos, o tempo que demorou a chegar a equipa médica.
Walkner era apontado como um dos favoritos à vitória nas motos e por isso um adversário direto de Gonçalves, mas nem isso o impediu de auxiliar o rival da KTM. A atitude de Speedy Gonçalves correu mundo, tendo a organização do Dakar reconhecido o gesto do português e descontado o tempo que perdeu na assistência. E valeu-lhe agora também o Prémio Ética no Desporto, do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ).
"Podia ter seguido a corrida, sabendo que a equipa médica iria socorrer o acidentado, mas Paulo Gonçalves parou de imediato para prestar auxílio e dar o alerta do sucedido, permanecendo com o piloto acidentado até à chegada da equipa médica", enalteceu o IPDJ, que hoje lhe entregará o troféu na Gala da Confederação do Desporto em Portugal, no Casino Estoril.
Paulo Gonçalves diz que só fez o que lhe competia... e sem heroísmo algum. "No Dakar o risco está sempre à espreita. Não sou um herói, sou um ser humano com respeito pelos outros. A nossa vida vale mais do que qualquer vitória, sem ela não vencemos", disse ontem ao DN, feliz por saber que o seu gesto foi visto como um exemplo de fair--play e entreajuda.
O piloto recordou que não foi a primeira vez que parou para ajudar, embora admitindo que desta vez o gesto foi mais mediático, pois foi filmado e porque na altura ele era líder da geral. "O espírito do Dakar é isso mesmo. Passamos horas sozinhos, muitas vezes no deserto. Uma vezes ajudamos, outras somos ajudados", diz o piloto de Esposende, revelando que Walkner lhe agradeceu e que depois disso já correram juntos no Chile e em Marrocos. E devem voltar a fazê-lo no Dakar 2017.
Poucas etapas depois de ajudar o austríaco, o português foi ele vítima de uma queda feia, com perda de consciência, que lhe roubou a possibilidade de seguir em prova e (talvez) vencer a prova. Algo que está preparado e mentalizado para fazer neste ano. E novamente em parceria com o Benfica, "o clube do coração".
Paulo Speedy Gonçalves iniciou a carreira desportiva em 1991, numa prova de Motocross 80cc, e é hoje o expoente máximo do motociclismo em Portugal, depois de ter sido campeão do mundo de todo-o-terreno em 2013 e de estar a preparar o décimo Dakar.