Eleições alemãs podem forçar 'grande coligação' CDU/SPD
As últimas sondagens publicadas na Alemanha, a uma semana das eleições legislativas antecipadas de dia 18, abriram espaço a um debate que até agora estava praticamente arredado da campanha a possibilidade de o novo Governo ter por base uma "grande coligação" entre a CDU, de Angela Merkel (agora com 41%), e o SPD, do ainda chanceler Gerhard Schroeder (34%).
Poucos dias depois do único debate televisivo entre os dois líderes partidários, ganho por Schroeder (o que se reflecte nas sondagens), as previsões continuam a indicar uma vitória da CDU. Mas os menos dois pontos percentuais que regista agora (beneficiando directamente o SPD) inviabilizam a desejada coligação dos conservadores com o partido dos liberais (que têm 6,5% das intenções de voto), pois não alcançam a maioria absoluta.
Em teoria, e apesar de a CDU ser o partido mais votado, segundo os analistas, poderia haver uma outra coligação liderada pelos partidos da chamada esquerda - SPD, Verdes (7%) e o novo Partido da Esquerda (8,5%). Só que Schroeder já declarou, taxativamente, que se recusa a formar Governo com o Partido da Esquerda (formado por dissidentes do SPD, chefiados por Oscar Lafontaine, e os neocomunis- tas da ex-RDA). Pelo que, a confirmarem-se os resultados das últimas sondagens - onde a nova esquerda se mantém como terceira força política -, não haverá alternativa a uma coligação CDU/SPD.
O passado, embora longínquo, é lembrado "Tivemos uma grande coligação em 1966-69, e foi bem sucedida porque concretizou vários programas de reforma. Por isso há algumas pessoas a pensar que uma nova grande coligação poderá concretizar reformas que são necessárias na Alemanha de hoje", referiu Peter Loesche, professor de política na Universidade de Goettingen, ouvido pela BBC - segundo a qual "se esta ideia pode ser popular entre os eleitores, é fortemente rejeitada por ambos os partidos". Mas, falhada uma coligação com os liberais (com os quais fez um acordo pré- -eleitoral com esse objectivo), acrescenta a televisão britânica, Merkel "terá de admitir a desagradável opção da 'grande coligação'".
a melhor solução. O facto é que as sondagens indicam que 36% dos alemães consideram uma coligação CDU/SPD como "a melhor solução para a Alemanha", enquanto só 29% são favoráveis a uma coligação de centro-direita (conservadores e liberais).
Ontem, Gerhard Schroeder mostrava-se mais confiante do que nunca. Apesar de estar a sete pontos da CDU (contra os dois de atraso a uma semana das eleições de há quatro anos, que venceu), o chanceler ganharia com 53% dos votos (mais quatro do que há uma semana) se as eleições alemãs se realizassem por sufrágio universal directo. "Tudo é ainda possível", declarou o líder do SPD numa entre- vista ontem publicada. "Havia, por assim dizer, um ambiente geral favorável à mudança mas já não é, de todo, esse o caso", referiu Schroeder ao diário Suddeutsche Zeitung.
Com a generalidade da imprensa alemã e internacional a falar da hipótese da "grande coligação" CDU/SPD, quem não parece satisfeito com essa solução de Governo são os patrões da indústria germânica e os politólogos. Segundo a Deutsche-Welle, "muitos temem que possa conduzir a um beco político sem saída, com o SPD impedindo Merkel de adoptar reformas duras no sistema fiscal e no mercado de trabalho, enquanto outros temem que a disputa política possa levar ao enfraquecimento das reformas feitas por Schroeder".
A par do carisma pessoal do chanceler, também a elevada votação prevista para o Partido da Esquerda nas regiões da ex-RDA (30%) explica a incapacidade da CDU em chegar à maioria absoluta. Segundo a revista Der Spiegel, 73% dos alemães de leste acreditam que a crítica de Karl Marx ao capitalismo "ainda é válida".