SPD dividido dá aval a Schulz para negociar. Alemanha pode ter novo governo até à Páscoa

SPD ainda terá que votar eventual acordo com CDU/CSU.
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Sem disfarçar as divisões que têm vindo a consumir o partido, os sociais-democratas alemães, reunidos hoje em congresso extraordinário, em Bona, aprovaram a abertura de negociações para formar nova grande coligação com os conservadores de Angela Merkel. Num total de 642 delegados, 362 votaram a favor das negociações, 279 votaram contra essa ideia (com uma diferença de apenas 83). Houve uma abstenção.

"É um momento chave para a história do partido", disse o líder do SPD, Martin Schulz, no discurso de 57 minutos que fez ao congresso após ser conhecido o resultado. "A Europa está à espera de uma Alemanha que assuma a sua responsabilidade e atue de forma decisiva", declarou Schulz, ex-presidente do Parlamento Europeu. E colocou a pressão sobre os delegados. "Trata-se de decidir entre negociações ou novas eleições legislativas. Não creio que novas eleições seja o caminho certo para nós. Dizem que uma nova grande coligação só irá fortalecer a direita. E quem é que garante que novas eleições não irão fortalecer mais a direita?". Schulz tem visto o seu partido cair nas intenções de voto desde as eleições legislativas de 24 de setembro, nas quais o SPD obteve 20,5%. Segundo uma sondagem Forsa divulgada na quinta-feira, o partido conta atualmente com 18%.

"Seria um erro não aproveitar esta oportunidade. É uma oportunidade de Alemanha e Europa chegarem a maior justiça social no nosso país e em todo o continente", afirmou ainda Schulz. "Não devemos governar a todo o custo, mas também não devemos estar preparados para pagar o preço de recusar chegar a governar", sublinhou, prometendo para trabalhar o acordo preliminar de 28 páginas. Os críticos do mesmo consideram que ficaram de fora dois pontos essenciais para os sociais-democratas e que se prendem com o aumento de impostos para quem ganha mais e um sistema universal de seguro de saúde. Para agradar mais à CSU, congénere bávara da CDU, Merkel acomodou muitas das exigências deste pequeno partido sobre migrantes e refugiados. No sentido de ter políticas mais restritivas na Alemanha, como, por exemplo, deixar entrar por ano apenas 220 mil refugiados. Entre os que estão contra a reedição da grande coligação estão o líder da juventude do SPD, Kevin Kühnert, de 28 anos. "Dizer não, não é o fim do SPD, mas o início de uma nova história", declarou hoje ao congresso, considerando necessário "acabar com este círculo vicioso" de "não queremos mas temos de..."

As afirmações de pressão de Schulz prendem-se com o facto de qualquer acordo final de coligação entre o SPD e a CDU/CSU ainda ter que ser aprovado pelos 450 mil militantes sociais-democratas. Se tudo correr bem, a Alemanha poderá ter um novo governo antes ainda da Páscoa. Seria a terceira vez que os sociais-democratas e os conservadores governariam juntos os destinos da maior economia da União Europeia. Isso já aconteceu no primeiro e no terceiro executivo de Angela Merkel (o qual continua em funções atualmente). Mas se tudo correr mal, além de se ir para novas eleições (pois Merkel recusa governar em minoria), estaria em causa a própria liderança de Martin Schulz no SPD.

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