FC Porto ultrapassa obstáculo com bolas paradas
Tarde de sol, bancadas cheias, cinco golos, alternâncias no marcador. Um grande jogo? Uma grande emoção do princípio ao fim, em que a estrela de campeão empurrou o FC Porto para mais uma vitória sobre o Sp. Braga (defrontam-se terça na 2.ª mão das meias-finais da Taça, que os dragões arrumaram com um 3-0 em casa). Casillas foi mal batido nos dois golos, Claudemir arrumou com a organização e inteligência da equipa ao provocar os dois penáltis da reviravolta azuil e branca.
A emoção foi tanta que Abel Ferreira foi expulso, Sérgio Conceição teve de ser repreendido pelo árbitro e afastado da zona onde discutia com um adepto após o apito final e até o habitualmente esfíngico Casillas viu um amarelo por não perdoar a indelicadeza de Wilson Eduardo (podia ter evitado o contact com o guarda-redes).
Para começar, um golo contra, mas animador para o FC Porto. Foi a quinta vez que começou a perder antes dos 10' e acabou como vencedor. Cinco em cinco, diga-se. Naquela que talvez tenha sido a jogada melhor definida de todo o jogo, Dyego Sousa (jogaço a desgastar adversários e a servir os companheiros) descobriu a entrada de Claudemir. Aqui, o brasileiro ainda tinha frescura para pensar e soltou quase de primeira para o lado contrário da área, onde estava sozinho Wilson Eduardo. Casillas deslizou na relva para o segundo poste a protestar fora-de-jogo (inexistente) e a bola enrolada, lentamente, foi ter com as redes.
O campeão abanou, mas esteve longe de cair. Na verdade, ativou a sua identidade da era Sérgio Conceição e, qual rolo compressor, ia jogando um futebol aparentado com o râguebi (como sempre foi, historicamente), forçando em potência física o adversário a recuar. Mas nem por isso conseguia muitas oportunidaders claras de golo.
Até que nas letais bolas paradas (três, hoje; 22 golos na Liga, quase 40% do total...), Soares empatou. Bem Felipe a ganhar no primeiro poste um canto batido por Corona, a bola seguiu para o segundo e Soares antecipou-se a Militão - num salto à peixe, empurrou de cabeça para o 1-1.
No sistema formação musculada, o FC Porto tentava ir empurrando o Braga para trás, e foi-o conseguindo, embora ficasse sempre a ideia de consentimento enganador da equipa de Abel Ferreira - para aproveitar a velocidade, inteligência e poder de finalização de Murillo, Dyego e Wilson, aproveitando a capacidade de passe de Sequeira e Palhinha.
O Braga aguentou sem grandes dramatismos a pressão do FC Porto e, no recomeço, novo golo madrugador. Dyego levou tudo à frente e manteve a clarividência, mesmo barrado por Felipe, para servir Murillo. Militão parou perante a saída de Casillas, mas o guarda-redes foi contra o colega e deixou Murillo com abola nos pés em frente às redes desertas. Os arsenalistas voltavam à liderança no marcador.
Depois, obviamente que o Braga tentou dar um passo atrás para dar três em frente - defendia com uma primeira linha de cinco, uma segunda de três e com Dyego e Murillo a condicionarem a saída dos centrais e de Danilo. Mas eis que Claudemir perdeu a noção. Num lance em que Militão estava cercado de adversários, o médio tentou pontapear a bola, mas de forma imprudente. No caminho, apanhou a perna do defesa brasileiro. Primeiro penálti. Foi o 2-2, mas com sabor agridoce para Alex Telles. O lateral marcou sem mácula, mas lesionou-se ao pousar o pé após bater a bola. Saiu e agora ver-se-á a extensão da lesão.
Faltavam vinte minutos. As oportunidades evidentes de golo foram escassas, mas num jogo de enorme coração, de parte a parte, a emoção manteve-se até ao fim. A cerca de dez minutos dos 90', Claudemir voltou a ter uma ação completamente descabida. Fernando Andrade estava de costas para a baliza e tentava dominar a bola; o médio do Braga disparou o pé, por trás, e a possibilidade maior era acertar no adversário. E acertou. Segundo penálti, desta vez transformado por Tiquinho Soares, que foi festejar com o dono dos penáltis Alex Telles, desolado no banco.
Num jogo em que sofreu dois golos fora para a Liga pela segunda vez (depois do 2-3 na visita ao Belenenses no início da Liga - em casa, sofreu três do V. Guimarães, na derrota por 2-3, e dois do Benfica, na derrota por 1-2; e foram estes os quatro jogos em que sofreu mais do que um golo), o pulmão, o músculo e o coração chegaram para o campeão passar em Braga. Num estilo que pede um: mais três pontos para o rolo compressor.
O FC Porto, no mínimo, mantém-se no topo da Liga - se o Benfica ganhar ao Tondela mais logo na Luz, em 2.º com os mesmos pontos do que o rival. O Braga, em vez de se aproximar da frente, colocou o 3.º lugar em discussão com o Sporting (a jogar em Chaves).
E Marega? E Otávio? E Corona? Resposta: Tiquinho Soares, melhor marcador do FC Porto esta época. Com outro resultado, Dyego Sousa entraria aqui com grande facilidade, pelos mesmos predicados: poder de choque, posicionamento quase sempre irrepreensível, conexões com os colegas bem ativas. Mas foi Soares quem bisou e decidiu um jogo emocionante, estando no sítio certo no golo que anulou a primeira vantagem arsenalista e mostrando frieza e força mental ao marcar o penálti decisivo. Militão foi o outro jogador dos campeões nacionais que se destacou, tanto a defender como a atacar, mas foi Tiquinho quem decidiu o destino deste jogo repleto de peripécias.
Jogo no Estádio Municipal de Braga.
Sp. Braga 2-3 FC Porto
Ao intervalo: 1-1.
Marcadores:
1-0, Wilson Eduardo, 05 minutos.
1-1, Soares, 26.
2-1, Murilo, 47.
2-2, Alex Telles, 69 (grande penalidade).
2-3, Soares, 79 (grande penalidade).
Sp. Braga: Tiago Sá, Marcelo Goiano, Pablo Santos, Bruno Viana, Sequeira (Ricardo Horta, 89), Palhinha, Claudemir, Esgaio (Xadas, 83), Murilo, Wilson Eduardo e Dyego Sousa (Paulinho, 80).
(Suplentes: Marafona, Ryller, Xadas, João Novais, Ricardo Horta, Trincão e Paulinho).
Treinador: Abel Ferreira.
FC Porto: Casillas, Éder Militão, Felipe, Pepe (Wilson Manafá, 57), Alex Telles (Fernando Andrade, 72), Danilo, Herrera, Corona, Otávio (Brahimi, 46), Marega e Soares.
(Suplentes: Vaná, Maxi Pereira, Wilson Manafá, Óliver, Brahimi, Fernando Andrade e Adrián Lopez).
Treinador: Sérgio Conceição.
Árbitro: Jorge Sousa (AF Porto).
Ação disciplinar: Cartão amarelo para Pepe (7'), Brahimi (55'), Sequeira (82'), Felipe (89') e Casillas (90+5'). O treinador do Sporting de Braga, Abel Ferreira, foi expulso do banco de suplentes (73').
Assistência: 20.106 espetadores.