"Sou um grande benfiquista e seria um sonho fazer a minha carreira aqui"
De antigo lateral direito para atual lateral direito. Veloso foi o jornalista nomeado pelo DN para conversar com Nélson Semedo. Ficámos a saber das dificuldades na transição para a defesa do jovem jogador e da sua ambição para a sua vida futura, que passa apenas por se manter na Luz e ajudar o clube a conquistar mais títulos
Nélson, gostava de começar por algumas perguntas relacionadas com a tua ascensão. Isto tem um pouco que ver comigo também, porque o meu sonho também era jogar um dia no Benfica mas achava que isso era impossível. Gostava então que contasses o teu momento de transição do Sintrense para o Benfica...
Se me perguntarem se algum dia acreditei que podia chegar ao Benfica, se calhar dizia que não. Sempre foi o meu sonho jogar no Benfica, sou um grande benfiquista, mas quando surgiu o interesse, mesmo sendo para a equipa B, só o facto de vir para este clube já era um feito muito grande para mim. Encarei com grande entusiasmo, com grande amor que tenho pela camisola, e cá estou. Foi um sonho tornado realidade.
Basicamente foi também o que me aconteceu. Tu és um lateral que arrisca muito a rematar à baliza, já fizeste, inclusivamente, alguns golos. Isso é instintivo ou tens treino específico para aprimorar essa situação?
Não, não tenho treino específico, é algo intuitivo. Antes de me transferir para o Benfica, no Sintrense jogava a médio ofensivo, num estilo livre. O meu treinador da altura, Luís Loureiro, permitia-me que jogasse assim. Quando vim para o Benfica continuei a atuar a médio ofensivo, mas depois o mister Hélder Cristóvão pôs-me a treinar a lateral direito porque estavam a precisar de jogadores nessa posição, e encarei essa situação como uma oportunidade para ficar no Benfica e poder singrar. Sendo um jogador ofensivo que sou hoje, tem que ver com as características que já tinha.
Também comecei a jogar como ponta--de-lança e depois baixei para médio. No Benfica joguei a todas as posições menos a guarda-redes e a ponta-de--lança, o que queria mesmo era jogar. Quando se atua na frente e começamos a recuar continuamos a ter aquela tendência atacante. Por isso, na tua posição, a responsabilidade é maior, é sempre defender e depois atacar.
Exatamente.
Aos laterais exige-se muito a defender e a atacar. Isto requer também muito treino...
Sim, sim, felizmente tive bons treinadores que me ajudaram nessa fase de adaptação.
Sentiste dificuldades?
Sim, no início senti algumas dificuldades. Foi uma mudança um bocado drástica, porque eu não estava a contar com isso. Mas, felizmente, foi a melhor coisa que me aconteceu. E tive treinadores que me ajudaram bastante, caso do mister Hélder...
A vontade de querer jogar também ajudou...
Também ajudou, claro. Na equipa principal os treinadores ajudaram-me muito, o mister Rui Vitória, o Luisão, que joga ali ao meu lado e vai-me dando indicações. Eu vou tentando aprender.
É sempre bom termos alguém, neste caso o Luisão, que possa ajudar os mais jovens. É importante a comunicação entre vocês?
Bastante importante, o Luisão é um jogador da casa, de nível mundial. É sempre bom aprender com os melhores.
Passa-se contigo um pouco do que se passou comigo, porque quando cheguei ao Benfica apanhei jogadores como o Pietra, o Humberto Coelho ou o Bastos Lopes. Levava alguns raspanetes, mas era para o meu bem, é importante que alguém fale.
Sim, sim, faz parte da aprendizagem.
Fazes algum trabalho específico sobre o adversário que vais defrontar? Vês vídeos ou tens indicações?
Nós recebemos informações sobre os jogadores que podemos enfrentar durante o jogo. Não só os adversários diretos, que no meu caso são os extremos-esquerdos, mas também o lateral ou o avançado que pode descair para o meu lado.
Os jogadores que podem cair na tua zona?
Exatamente, recebemos informações e temos tudo bem explicado. Fica mais fácil depois no campo durante o jogo.
O que é que sentiste quando foste chamado à seleção A de Portugal?
Senti uma enorme felicidade, era uma meta que tinha definido, recebi a notícia com grande orgulho porque nunca tinha representado a seleção nacional nas camadas jovens, e só o facto de ir à seleção já era importante, ser chamado à seleção A foi mais um sonho tornado realidade.
Depois de seres chamado lesionaste-te. Se isso não tivesse acontecido, naturalmente tinhas esperança de ser convocado para o Europeu...
O mister Fernando Santos tomou as melhores opções, chegámos à final do Europeu e ganhámos. Eu fui mais um que esteve a apoiar, sofri com eles, festejei com eles.
Com pena de lá não estar?
Fiquei feliz por eles mesmo como se estivesse lá. Para mim foi uma grande alegria.
Esta pergunta tem pertinência porque, certamente, no teu íntimo desejavas lá estar e podias ter estado não fosse a lesão... talvez estivesses nos planos do selecionador...
Isso só ele é que sabe.
Consegues eleger o melhor e o pior momento da tua carreira até agora?
O melhor momento foi a conquista do campeonato pelo Benfica, o pior talvez tenha sido a lesão que sofri, pois nunca estive parado assim tanto tempo. As coisas estavam a correr-me bem, foi um período um bocado difícil...
Como é trabalhar com Rui Vitória?
É bastante bom, o mister é excelente, não vê idades. Trata-nos todos por igual, na nossa equipa não há beneficiados, o mister escolhe os melhores para cada jogo. Rui Vitória é uma excelente pessoa, acima de tudo, e tem vindo a realizar um grande trabalho no Benfica. Ele sabe muito bem o que está a fazer.
Qual é o teu grande objetivo na carreira?
Continuar a ajudar o clube a vencer títulos e ficar no Benfica, se possível até ao fim da minha carreira. Sou um grande benfiquista, sou de Lisboa, estou em casa, sinto-me em casa, seria um sonho fazer a minha carreira aqui no Benfica.
O que significa para ti representar o Benfica?
O Benfica para mim significa uma enorme alegria, a responsabilidade de vestir o manto sagrado. Qualquer jogador gostaria de vestir esta camisola.
Qual foi até agora a pessoa mais importante da tua carreira?
Não vou individualizar, vou escolher a minha família, os meus pais, os meus irmãos - foram os meus pilares.
Como é que se sente um jovem como tu quando vê o seu nome associado, quase diariamente, a outros clubes da Europa?
Não ligo muito a essas notícias, estou num clube grande a nível europeu e mundial. Não penso sequer noutras opções.
Mas um jogador quando está no Benfica a ascensão é grande, aparecem clubes de nomeada e há quem fique com a cabeça de um lado e de outro. Hoje, com o centro de estágio os jogadores já saem mais preparados?
O futuro começa aqui, as minhas perspetivas passam por continuar no Benfica muitos anos, se Deus quiser, e merecer a confiança da direção e do mister.
Vamos falar do campeonato. Esta vantagem que o Benfica leva sobre os rivais dá alguma tranquilidade?
Esta vantagem dá-nos mais força, mais responsabilidade, mais vontade de trabalhar mais e mais. Como o mister referiu, e bem, ser campeão de inverno é pouco relevante, queremos é chegar a maio e ir ao Marquês outra vez. Para isso não podemos olhar aos pontos de vantagem que temos, mas sim trabalhar arduamente e encarar cada jogo como uma final.
O que é que fazes quando precisas de desligar do futebol?
Gosto de estar com a minha família, vou passear com a minha mulher, brinco com a minha filha. Tento não estar muito tempo ao telemóvel. Gosto de ir ao cinema. Como não temos muito tempo, tentamos aproveitá-lo ao máximo.
O que é que sentiste quanto te comunicaram que ias ser titular diante do Sporting na Supertaça do ano passado, no jogo que marcou a tua estreia oficial pelo Benfica?
O que é que eu senti? Percebi que ia ser o meu primeiro jogo oficial com a camisola do Benfica. No início senti aquele nervoso miudinho, que é normal e é bom. Depois do jogo começar fiquei completamente tranquilo, os meus colegas deixaram-me à vontade, como se estivesse em casa. Com o passar dos minutos fui ficando mais relaxado.
Foi um momento único que já ansiavas?
Sempre trabalhei com esse propósito e de poder ajudar o Benfica.
Para finalizar, o que esperas desta época 2016-2017?
Desejo ganhar todas as competições, que possamos continuar a ser a família que somos e que continuemos a ter os melhores adeptos do mundo.