"Somos todos um pouco loucos e isso foi formidável fazer"

Sabine Azéma e Victoria Guerra, duas das protagonistas de <em>Cosmos</em>, em entrevista ao SN
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Juntar numa conversa duas atrizes tão diferentes, uma veterana e uma estreante, pode ser um quebra-cabeças. Mas neste caso a complicação veio apenas da confusão de línguas. Sabine, francesa, insistiu em falar inglês para que Victoria percebesse. Victoria, meio portuguesa meio inglesa, usou o francês, o inglês e o português. O que resta intransmissível são as exclamações, os gestos, os olhares, as risadas. Porque a experiência de filmar Cosmos de Andrzej Zulawski foi de uma intensidade invulgar, como se verá pela conversa. Uma concentração de talentos num patamar onde a normalidade era a exceção, orquestrada por um realizador genial. Como Zulawski explicou na apresentação do filme no Lisbon & Estoril Film Festival, tudo começou com um telefonema de Paulo Branco propondo-lhe que filmasse o conto Cosmos de Gombrowicz. "Esse é o meu livro essencial desde sempre, é um sonho fazer esse filme". E ele aí está, um "ovni", como lhe chama Victoria, um fogo-de-artifício de loucura, diz Sabine. Enquanto o via no cinema, eu só pensava: como é que eles fizeram isto?

Vamos falar sobre Cosmos que, como Zulawski disse na apresentação, é muito estranho, nunca vimos nada assim. Como trabalharam?

Sabine Azéma (S.A.) - Primeiro, é preciso aprender o texto, ler bem o argumento. E depois vêm os papéis de cada um e o nosso papel. Neste caso, começámos pela escolha das roupas. As roupas deram--me muitas indicações sobre a personagem. Tínhamos escolhido as roupas elegantes mas Andrzej recusou, queria que fossem largas. A minha coquetterie foi por água abaixo. Isso revela muito sobre a personagem, sobre o que faz, como vive. Vi as roupas dos outros, sobretudo do meu marido, e percebi muita coisa.

Victoria Guerra (V.G.) - Comigo foi o mesmo. Escolhi as minhas roupas com o Jonathan Victor. Experimen-támos vários tipos de roupa, muito diferentes. Andrzej começa muito cedo o processo a tentar perceber o que somos e o que cada um de nós podia levar para a personagem.

S.A. - Quando vejo o filme, sinto que está certo. Cortar com a parisiense que sou ajudou-me a sentir a personagem. Eu nunca me vestiria como no filme.

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As personagens não são óbvias, à partida.

V.G. - Isso começou antes, quando nos conhecemos e fizemos as primeiras leituras. Quando chegámos ao plateau já havia uma construção da personagem. A Sabine já era a madame Voitis.

Os lugares onde o filme foi rodado - Sintra, a serra da Estrela, o Guincho, a Ericeira - têm alma, um pouco transcendentes.

S.A. - Um Portugal com um imaginário formidável. Não estou em França, Marrocos, Inglaterra, estou num país romanesco. Para mim, Portugal tem uma história que adivinho, que não conheço bem.

V.G. - Sintra é um lugar muito mágico, pode ser qualquer coisa, em qualquer parte. É Portugal, mas podia ser noutro lado, e isso é perfeito para o filme, porque o filme é um ovni. Não sabes quando estas personagens estão a viver.

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