O antigo comissário europeu António Vitorino reconheceu este sábado que os socialistas e sociais-democratas na Europa estão sem armas para combater as desigualdades, numa época em que a concorrência fiscal e a livre circulação de capitais provocam a perda de receitas fiscais aos Estados. É por isso que "o único valor tributável" a que não se pode fugir "é o trabalho", reconheceu..Falando na Conferência Socialista 2016, com que hoje o PS assinala em Coimbra a sua rentrée no ano político, António Vitorino notou que o "grande instrumento" que os governos socialistas tiveram, "historicamente, para reduzir desigualdades" foi "o imposto progressivo". E este deixou de ser uma arma eficaz na arrecadação de receitas fiscais e no combate às desigualdades. A fuga de capitais e a redução do valor do trabalho acabam por pesar neste falhanço..O socialista notou (sem se alongar) que "os impostos indiretos também podem ser geradores de desigualdades", mas Vitorino evitou entrar em rota de colisão com aquilo que defendeu o ministro das Finanças, Mário Centeno. "Não vou entrar por aí", disse, sorrindo..É este o desafio com que se confrontam os socialistas na Europa: "A nossa arma secreta perdeu peso e ainda não encontrámos outra.".António Vitorino deixou o elogio à proposta que António Costa levou à Europa, "antes mesmo de ter sido empossado", "de um novo impulso para a convergência", depois da "década do euro" ter aprofundado "a divergência".."Esse novo impulso para a convergência significa", acrescentou, "que também possa ter um novo horizonte económico", em que se criem "alavancas para o crescimento económico e emprego", sublinhando também a "aposta nas qualificações que não tem retorno no imediato". E recordou que há "uma armadilha que é preciso desmontar", "a de que há uma geração que está a ser sacrificada". Mas, avisou o antigo comissário, "se não for dada uma resposta a 25% dos jovens que estão desempregados em Portugal", ou noutros países europeus, "é a coesão social que está em causa"..A eurodeputada socialista Maria João Rodrigues, que falou logo depois, no painel "Uma Europa de Todos", deixou também ela um alerta: "Se a Europa não conseguir dar um futuro aos jovens, a União Europeia, a Europa, não vai ter ela própria um futuro."