SOBRE PROSTITUTAS E AMANTES

Publicado a
Atualizado a

Mais uma cena, geralmente inglesa ou americana, do político que pede desculpa por uma escapadela. Desta vez, como quase sempre, não faltou a mulher ao lado. No seu acto de contrição, o governador do estado de Nova Iorque, Eliot Sptizer, teve a sua, Scilda, vestida de negro e olhos magoados, mas ao lado.

Dias depois, o governador demitiu-se, porque a vida política foi menos indulgente que Scilda. Por estes dias, jornais europeus publicaram uma entrevista a um escritor nova-iorquino, Jay McInerney, especialista de facadinhas no matrimónio, e não só teórico porque já vai em quatro legítimas esposas e centenas de amantes.

McInerney comentou a presença de Scilda Sptizer no acto humilhante de dar a cara enquanto o seu marido declarava aos microfones que a havia traído. Segundo o especialista, não tão humilhante assim. O governador confessou um encontro com uma prostituta, Kristen, a já famosa "moreninha americana, 1,65m e 48 quilos", como se anunciava no site Emperors Club Vip, de Nova Iorque. Ele não confessou ter uma amante: "A prostituta não é uma ameaça à estabilidade institucional e emotiva do matrimónio. Pelo contrário, historicamente sempre o reforçou", diz McInerney.

As diversas igrejas sempre toleraram as prostitutas, reconhecendo-lhes o papel de inventoras da escapatória que mais tarde, aplicadas às panelas de pressão, revolucionaram a cozinha. Com a vantagem das prostitutas não se terem ficado só pela cozinha, mas contribuíram para pacificação da sociedade inteira. O humorista americano H. L. Mencken declarou um dia: "A diferença entre o sexo pago e o sexo grátis é que o sexo pago costuma sair mais barato." E como Mencken era também filósofo não estava só a falar das situações brejeiras.

Como hoje ficamos a saber quase tudo, fomos informados que Kristen embarcou para aquele encontro que acabaria com a carreira de Sptizer, na Penn Station. Ao lado de Madison Square Garden, o pavilhão em que, além de grandes combates de boxe, se recorda uma cena lancinantes. No palco, uma belíssima e desesperada mulher foi anunciada pelo actor e cunhado do então presidente americano, Peter Lawford: "Eis Marilyn Monroe..." E ela veio, coleante, tirou o agasalho de peles, mostrou o seu corpo magnífico e cantou com a voz partida: "Parabéns, Mr. President..."

John Kennedy fazia anos, ainda era muito novo, julgava-se que tinha uma vida inteira à frente dele, mas essa vida, aquela voz partida sabia, não seria com ela. As mulheres dos ministros e dos generais - as fotos mostram isso - desprezaram a cantora. Mas a mais interessada, Jacqueline, a Sr.ª John Kennedy, essa, homenageou Marilyn: não foi ao Madison Square Garden. Isto é, reconheceu-lhe o papel de amante. De perigosa.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt