Só um acordo final fará parar a guerra. Rússia tem em marcha "a grande ofensiva"
O cerco aumenta a cada hora. Há, garante Zelensky, uma concentração de "dezenas de milhares de soldados", principalmente a Leste, preparados para a "próxima ofensiva".
Em Mariupol, as "palavras" da 36.ª brigada da Marinha Nacional ucraniana publicadas no Facebook, mas que o presidente da câmara diz serem falsas, soam a despedida, a "batalha final": "Será a morte para alguns de nós e o cativeiro para outros (...) Estamos a desaparecer pouco a pouco (...) lembrem-se de nós com uma palavra gentil (...) Há mais de um mês que lutamos sem munições, sem comida, sem água", fazendo "o possível e o impossível".
Serhiy Orlov garante que a informação publicada é falsa, que "os russos ocuparam temporariamente parte da cidade, mas que os soldados ucranianos continuam a defender o centro e sul da cidade".
Ouvidos pela BBC, alguns especialistas sugerem que a página talvez tenha sido pirateada, outros acreditam na sua autenticidade.
A mensagem explicava que os militares ucranianos tinham sido "empurrados para a área da fábrica Azovmash [fabricante de maquinaria pesada]" e que haveria "combates na zona industrial (metalúrgica) costeira de Azovstal".
Horas depois, o comandante da forças armadas ucranianas escreveu, também num post no Facebook, que ainda há "linhas de comunicação estáveis e abertas com os seus soldados dentro da cidade" e que estão a fazer "o possível e impossível" para salvar vidas e lutar contra as tropas russas.
Quase de seguida, o chefe dos separatistas pró-russos da região de Donetsk, citado pela agência de notícias russa Ria-Novosti, anunciava ter o controlo total do porto de Mariupol.
Citado também pela Ria-Novosti, o representante do exército separatista, Eduard Basurine, afirmou que os últimos defensores ucranianos se concentravam agora nas fábricas "Azovstal" e "Azovmach".
Volodymyr Zelensky na declaração ao parlamento da Coreia do Sul, muito antes destas contradições, garantia que "Mariupol foi destruída, há dezenas de milhares de mortos, mas, mesmo assim, os russos não estão a travar a ofensiva".
Na região de Dnipro, "o inimigo continua a criar um grupo ofensivo de tropas para atuar na direção de Slobozhansky e provavelmente os ocupantes tentarão retomar a ofensiva nos próximos dias", disse o alto comando do exército ucraniano. O aeroporto da cidade de Dnipro foi já destruído por mísseis.
Ao longo do eixo Izyum-Slovyansk - a decisiva porta para uma ofensiva no Donbas -, as forças russas reforçaram as operações, constata o Instituto para o Estudo da Guerra, dos Estados Unidos. "Estão a tentar duplicar ou talvez triplicar o número de militares que lá têm".
Na zona de Donetsk luta-se por manter o controlo as povoações de Popasna, Rubizhne, Nyzhne e Novobahmutivka.
O presidente ucraniano não esconde, bem pelo contrário, a urgência de ter mais armamento: "Precisamos de mais ajuda se quisermos sobreviver a esta guerra." O pedido, transmitido via vídeo no parlamento sul-coreano, foi direto e claro. E Zelensky voltou a deixar o aviso de que a Rússia "não planeia apenas ocupar a Ucrânia (...) depois da Ucrânia, a Rússia certamente atacará outros países".
"Se a Ucrânia receber essas armas, isso não apenas salvará a vida de pessoas comuns, mas representará uma oportunidade para salvar a Ucrânia, e não apenas a Ucrânia, mas também para garantir que outros países não sejam atacados pela Rússia", insistiu.
DestaquedestaqueO chanceler federal austríaco, Karl Nehammer, diz ter mantido, ontem, em Moscovo um diálogo "muito direto, franco e duro" com Putin, a quem confrontou com os "graves crimes de guerra" cometidos em Bucha.
A certeza de que a guerra não irá parar foi dada por Serguei Lavrov, ministro russo dos Negócios Estrangeiros, numa declaração à televisão estatal. "Foi tomada a decisão", explicou, "de que durante as próximas rondas de negociações, não haveria uma pausa [na guerra] enquanto não fosse alcançado um acordo final".
A justificação é linear e empurra todas as responsabilidades para as autoridades ucranianas que "não estavam a planear retribuir" essa pausa nas ações militares, apesar de Vladimir Putin ter ordenado, garantiu, a suspensão da guerra durante a primeira ronda negocial.
"O presidente já salientou por mais de uma ocasião que preferimos conversar" até porque, concretizou Serguei Lavrov, a "nossa operação militar especial é projetada para acabar com a expansão imprudente dos EUA que têm o objetivo de dominar por completo... a arena internacional", as implicações estão para além da Ucrânia.
Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, já tinha dito, na quarta-feira da semana semana, que "o processo de adesão para estes países pode ser bastante rápido". E explicava que "não há outros países que estejam mais próximos da NATO, que tenham trabalhado tão de perto connosco durante tantos anos, em termos de interoperabilidade e exercícios militares, além de que sabemos que cumprem os nossos requisitos ao nível do controlo político democrático civil das instituições de segurança e das forças armadas".
O ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, disse logo nesse dia que "a proximidade que nós temos com esses países é o suficiente para indicar que nós nunca seremos um obstáculo àquilo que eles decidirem em relação à sua própria segurança".
Esta segunda-feira, pela manhã, o britânico The Times, que cita funcionários norte-americanos, noticiava que a Finlândia poderá formalizar a sua candidatura já em junho, com a Suécia a fazer o mesmo logo de seguida.
À tarde, a primeira-ministra da Finlândia, Sanna Marin, garantiu em conferência de imprensa que haverá uma decisão "antes de final de junho".
Nas últimas semanas, as sondagens revelaram um aumento substancial de posições favoráveis a uma adesão à NATO por parte dos finlandeses, na sequência da invasão russa da Ucrânia, com quase 60% da população a desejar essa opção, duplicando o valor anterior.
DestaquedestaqueO chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, acusou a Rússia de "causar a fome no mundo" com a guerra na Ucrânia, destruindo as reservas de trigo e impedindo-a de exportar, especialmente para África.
Na Suécia, o Partido Social-Democrata, no poder, anunciou a abertura de um debate interno sobre a situação estratégica do país e a possibilidade de adesão à NATO. No final de março, a primeira-ministra sueca e líder do partido, Magdalena Andersson, não excluía a possibilidade de uma adesão à NATO, depois de inicialmente ter defendido o contrário.
O porta-voz presidencial russo, Dmitri Peskov, logo após as notícias da manhã, deixou o aviso de que a adesão da Finlândia e da Suécia à NATO terá consequências. "Temos dito repetidamente que a própria Aliança [ a NATO] é mais um instrumento de confronto. Não é uma aliança que garanta a paz e a estabilidade, e o seu futuro alargamento, evidentemente, não trará segurança adicional ao continente europeu", afirmou.