SMS desagradam a Marcelo e explicam tom duro com Centeno

Presidente tomou conhecimento da troca de mensagens no fim de semana e sentiu-se traído na confiança que depositou no ministro
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O Presidente da República tomou conhecimento dos sms trocados entre o ministro das Finanças, Mário Centeno, e o ex-presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD) António Domingues, no fim de semana, soube o DN. O conteúdo das mensagens, segundo várias fontes, é bastante mais comprometedor do que a correspondência revelada na semana passada pelo jornal ECO e foi o detonador que levou Marcelo Rebelo de Sousa a exigir que Centeno se explicasse publicamente.

Depois da revelação da correspondência, o Presidente da República defendeu o ministro, argumentando que "ou há um documento escrito ou não há", e foi atacado por vários dirigentes do PSD. Quando, no fim de semana, o conselheiro de Estado António Lobo Xavier lhe deu a conhecer o conteúdo dos sms, Marcelo sentiu-se traído. "O que lhe tinha sido dito pelo ministro estava muito aquém do que revelam os sms", disse uma das fontes ao DN.

Terá sido também esse conteúdo que levou Marcelo a produzir uma nota, já perto da meia-noite, e depois de o ministro falar ao país, em que diz "reter" a "admissão pelo senhor ministro das Finanças de eventual erro de perceção mútuo na transmissão das suas posições". Mas para Marcelo há mais do que um erro de perceção. Por isso, remata o comunicado a afirmar que só aceitou a "confiança" que o primeiro-ministro ainda tem no ministro das Finanças "atendendo ao estrito interesse nacional em termos de estabilidade financeira".

Sem conhecerem o que se tinha passado, várias figuras do PS insurgiram-se com a tomada de posição do Presidente e o processo que envolveu a exposição pública do ministro. O deputado socialista Vitalino Canas assumiu ao DN que a mensagem presidencial causou "celeuma" no partido. No blogue Causa Nossa, Vital Moreira escreveu também que "quando um ministro se sente na necessidade de pôr o seu lugar à disposição, fá-lo perante o primeiro-ministro, a quem tem de prestar contas, não perante o Presidente".

O deputado do PS Porfírio Silva partilhou no Facebook as declarações que prestou ao Público sobre a nota presidencial e nas quais aconselhava Marcelo a "respeitar os poderes próprios e dos demais órgãos de soberania". "Não basta querer ser "presidente de todos os portugueses" para ser um bom PR [Presidente da República]. É preciso saber e respeitar os poderes próprios e os poderes dos demais órgãos de soberania", escreve o deputado e membro do Secretariado Nacional do PS.

BE e PCP demarcam-se

Os partidos que apoiam o governo, PCP e BE, que ao longo desta polémica se têm mantido em silêncio, demarcaram-se ontem dos desenvolvimentos deste caso. Num comunicado, o PCP avisou que, caso o ministro das Finanças não tenha exigido a apresentação da declaração de rendimentos ao ex-presidente da Caixa Geral de Depósitos António Domingues, terá de confrontar-se "com a posição e a crítica" dos comunistas. A que Jerónimo de Sousa acrescentou mais tarde um "não ponho as mãos no fogo por ninguém".

Catarina Martins falou pelo Bloco e para definir como "tragicamente irónico" o papel do ministro das Finanças, valorizando os dados "simpáticos" da economia, mas sublinhando que a polémica sobre a Caixa Geral de Depósitos já devia estar encerrada. O Bloco, disse a sua líder, "não se pronuncia sobre as condições" de os ministros exercerem ou não as suas funções, focando-se antes em debater políticas com o governo".

Veto na comissão

Se o Presidente da República conhece o teor dos sms trocados entre Centeno e António Domingues, os deputados podem não vir a conhecê-lo. Isto porque ontem em reunião de coordenadores da comissão de inquérito à CGD, os partidos à esquerda opuseram-se a que os documentos relativos a esta polémica sejam objeto da comissão.

PS, PCP e BE querem impedir mesmo os pedidos "potestativos" - os que os partidos podem impor - do PSD e do CDS no sentido de serem conhecidas as trocas de comunicações entre o ministro das Finanças e o ex-presidente da CGD.

"Aquilo que se passou hoje é de uma gravidade extrema e motivará da parte do CDS uma reação ponderada", declarou João Almeida, coordenador do CDS-PP na comissão de inquérito à CGD.

Mas o argumento dos partidos à esquerda é que as comunicações em causa "não fazem claramente parte do objeto da comissão de inquérito", que passa por avaliar a gestão da Caixa até 2015 e entender o porquê da necessidade atual de uma nova recapitalização.

Hoje, a comissão reúne-se à porta aberta e os partidos à esquerda terão de formalizar a decisão de vetar a admissão dos documentos. Segundo fontes parlamentares do PSD, se a decisão for por diante e nos termos que foi formulada também impedirá novas audições tanto a Mário Centeno como a António Domingues sobre a polémica. Com Manuel Carlos Freire

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