Sissoco Embaló diz que está preparado para a guerra na Guiné
Umaro Sissoco Embalò afirmou nesta quinta-feira que tomará posse a 27 de fevereiro e apelou ao exército estar alerta para "porque esta vez é necessário fazer a guerra" para que a Guiné-Bissau "nunca mais fique refém" de "alguns países", que não nomeou e que estariam a "manipular" Domingos Simões Pereira.
Sissoco Embalò e Simões Pereira disputaram a segunda volta das presidenciais na Guiné-Bissau, a 29 de dezembro de 2019, tendo o primeiro obtido 53,55% dos votos e o segundo 46,45%. Desde então, Simões Pereira, que é apoiado pelo PAIGC, tem afirmado que os resultados da votação foram manipulados de forma a darem a vitória a Embalò.
Neste momento está pendente uma ação no Supremo Tribunal de Justiça (STJ), interposto pela candidatura de Simões Pereira, a pedir a anulação das presidenciais, sob pretexto irregularidades, fraude eleitoral e incumprimento pela Comissão Nacional de Eleições (CNE)de ordens do STJ para que procedesse à recontagem dos resultados da votação de finais de dezembro.
Falando no aeroporto de Bissau, no regresso de uma viagem no estrangeiro, Sissoco Embalò, que se mostrava algo agitado, garantiu aos jornalistas presentes que tomará posse a 27 de fevereiro, mesmo que o presidente da Assembleia Nacional Popular não aceite realizar a cerimónia. Nesse caso, será o primeiro vice-presidente do Parlamento guineense, Nuno Nabian, que lhe dará posse.
Nuno Nabian foi candidato nas eleições presidenciais e, não tendo passado à segunda volta, declarou o seu apoio a Sissoco Embalò, aliás como o fez a maioria dos restantes candidatos que se ficaram pela segunda volta.
"Se o presidente da Assembleia Nacional Popular, Cipriano Cassamá, com todo o respeito que me merece, não quiser presidir à minha posse, vou organizar Nuno Nabian, Satu Camará e deputados para me darem posse em qualquer parte da Guiné-Bissau", anunciou Sissoco Embaló, falando em crioulo, segundo a Lusa.
Em seguida, expressando-se em francês, exortou o exército a estar atento e preparado, pois ele "sabe quem são os perturbadores" da Guiné-Bissau. Embalò referiu-se a "certos países africanos", que não referiu pelo nome", que estariam interessados em transformar o país "em refém" dos seus interesses".
Falando ainda em francês, Embalò acusou ainda estes países de estarem a "manipular" Simões Pereira.
O alegado vencedor do voto de 29 de dezembro deixou uma "advertência" à comunidade internacional sobre uma qualquer possível intervenção na Guiné-Bissau e revelou ter falado com o secretário-geral das Nações Unidas e com o presidente da CEDEAO sobre a crise que se vive no país.
Num outro momento das suas declarações, Embalò adotou um tom mais conciliador, definindo-se como um "construtor", um político da "concórdia nacional" que quer o bem de todos os guineenses, mas que não aceita "comédias", referência ao processo de contestação aos resultados das presidenciais.
Perante o tom das declarações de Sissoco Embalò, o governo guineense pediu ao Ministério Público para que tome "medidas investigativas urgentes e vigorosas", considerando-as de extrema "gravidade".
A posição do governo de Aristides Gomes foi tomada em comunicado, citado pela Lusa, e neste considera-se como "condenáveis" as palavras de Emablò, "por terem um teor de incitamento à violência, à guerra, às ameaças de morte, de sequestro e um desrespeito inadmissível para com as instituições e autoridades legalmente instituídas" na Guiné-Bissau.
No comunicado pede-se ainda às forças armadas para se manterem equidistantes da luta política, garantindo segurança e tranquilidade às populações.