O sismo com magnitude de 2,5 na escala de Richter, que foi sentido pelas 08.30 de quinta-feira na zona do Montijo e freguesias ribeirinhas de Lisboa, sem causar danos, "não teve qualquer relação" com o sismo que arrasou a cidade italiana de Áquila na última segunda-feira. A afirmação é do director do Instituto de Geofísica D. Luís da Universidade de Lisboa, Miguel Miranda. .Apesar da coincidência temporal com os abalos (réplicas) que continuaram a sacudir a região de Áquila, o sismo do Montijo "localizou-se a uma distância tão grande, que não existe nenhuma relação entre ambos", disse o especialista ao DN. Por outro lado, sublinhou, "o mecanismo que causa os sismos em Portugal é em geral diferente daquele que ocorre na península itálica"..Normalmente, a chave para explicar os abalos sentidos em Portugal está na fronteira entre as placas africana e euroasiática, que estão em colisão, a sul de Portugal..Na Itália, os tremores de terra estão em geral associados ao processo de subducção entre as mesmas duas placas (uma mergulha sob a outra), naquela região. É isso que explica, por exemplo, a existência de vulcões em Itália..No caso de Áquila, não terá sido este o processo, no entanto. "Falei com um colega italiano e a convicção deles é que o sismo foi causado pela compressão entre placas e não pela subducção.".A má sorte da cidade italiana foi o facto de o epicentro se ter localizado debaixo dela. Seja como for, Montijo e Áquila distam milhares de quilómetros, o que elimina a hipótese de uma relação entre ambos os abalos..Sismos como o que foi sentido há três dias no Montijo e zona ribeirinha lisboeta, com dois a três graus de magnitude na escala de Richter, são mais frequentes do que se pensa. "Em média, ocorrem dez sismos desta magnitude, por ano, na região de Lisboa e Vale do Tejo", adianta Miguel Miranda. .Este é, afinal, um fenómeno natural, que decorre da deformação da litosfera (superfície terrestre). Essa deformação provoca sismos, que podem ser pequenos (os mais frequentes), ou grandes, que acontecem menos vezes..Para a região de Lisboa e Vale do Tejo, as médias para a sua ocorrência estão aliás calculadas pelos especialistas. Terramotos como o de 1755, que hoje se calcula ter atingido cerca de 8,5 graus de magnitude na escala de Richter, acontecem por aqui, em média, a cada dois mil anos. Já os que atingem 6,5 graus têm uma periodicidade média de 200 anos, e os de cinco a seis graus na escala de Richter podem acontecer a cada sete anos. O sismo de Benavente, que arrasou aquela vila há quase cem anos, a 23 de Abril de 1909, foi similar ao de Áquila. Esse foi, aliás, um dos que ocorre por cá a intervalos médios de 200 anos.