Sindicalista que mediou negociações nos estaleiros demite-se "indignado" com CGTP
O ex-coordenador da União de Sindicatos de Viana do Castelo (USVC), Branco Viana, disse hoje que se demitiu do cargo "indignado" por o distrito ter sido "afastado" do Conselho Nacional da CGTP, admitindo divergências quanto aos despedimentos nos estaleiros.
"A USVC é a única no país que deixou de ter representação do Conselho Nacional da CGTP", garantiu o sindicalista de 60 anos que exerceu o cargo de coordenador daquela estrutura desconcentrada da central sindical durante 17 anos, terminados no início deste mês.
Deixar o distrito sem representante no Conselho Nacional "é uma situação inédita desde o 25 de abril de 1974", acrescentou Branco Viana, que acumulou a liderança da União de Sindicatos com a presidência do Sindicato dos Metalúrgicos, cargo assumido ainda quando era trabalhador dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC).
Em fevereiro de 2014, Branco Viana liderou uma delegação de representantes sindicais locais, nomeados pelos trabalhadores dos ENVC para negociar com o anterior ministro da Defesa, José Pedro Aguiar-Branco, o plano social do despedimento coletivo dos cerca de 600 funcionários da empresa pública de construção naval, subconcessionada ao grupo português Martifer.
Questionado sobre se o "afastamento" da USVC do Conselho Nacional da CGTP estaria relacionado com o processo de subconcessão dos ENVC e do despedimento dos 600 trabalhadores da empresa pública de construção naval, afirmou: "Sim, com certeza que tem a ver. Não se pode dissociar uma coisa da outra".
Branco Viana, que entretanto foi substituído nas funções de coordenador da USVC por Ludovina Sousa, garantiu ter feito o que deveria, preservando os direitos dos trabalhadores e preservando o setor da construção naval em Viana do Castelo"
"É evidente que não estaríamos cá para encaminhar os trabalhadores, como alguém queria que assim fosse, para um beco sem saída. Hoje seria terrível se essa posição tivesse sido assumida. Às vezes, a política quer sobrepor-se a outras coisas, e nós estamos cá para defender os trabalhadores", disse.
"Nunca houve uma orientação, nem uma indicação como se deveria conduzir essa situação de uma forma diferente. Agora é muito bonito dizer as coisas (...). Teve que ser o movimento sindical no distrito a encontrar as melhores soluções", frisou.
Sobre a razão da tomada de decisão dois anos depois do fim do processo dos ENVC afirmou: "Foi o tempo para digerirem".
"Entenderam agora porque sabiam que não o podiam fazer antes, não tinham razões para o fazer e agora arranjam um bode expiatório, o congresso da CGTP, para justificar o injustificável", disse.
Em fevereiro de 2014, quando Branco Viana liderou a delegação que negociou com Aguiar-Branco o plano social de despedimento dos trabalhadores dos ENVC, elementos da Comissão de Trabalhadores (CT) acusaram os representantes sindicais de "não terem seguido as orientações da intersindical" neste processo.
"Os trabalhadores sentem-se traídos", afirmou na altura o responsável pela CT dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC), António Costa, que chegou mesmo a apelar à demissão destes elementos sindicais.