Katrina, Harvey, Irma, Maria. Os nomes foram-se sucedendo, sinónimos de furacões assombrosos e destruidores. E à medida que eles foram chegando - o Katrina em 2005, o Harvey, o Irma e o Maria, em 2017 -, o debate cresceu e a pergunta impôs-se: seriam já sinal das alterações climáticas? Sem resposta definitiva, no entanto - até agora. Um estudo publicado hoje na revista Nature mostra pela primeira vez, sem margem para dúvidas, que a resposta é sim. Aqueles furacões já têm a marca das alterações climáticas num dos seus parâmetros: a quantidade de precipitação associada..Liderado por Christina Patricola, do Laboratório Lawrence, em Berkeley, nos Estados Unidos, o estudo recorreu a simulações computacionais em supercomputadores, para modelar 15 furacões ocorridos na última década no Atlântico. E o que os cientistas verificaram nos seus modelos foi que, se aqueles mesmos furacões tivessem ocorrido na era pré-industrial, quando a atmosfera não estava ainda saturada com o dióxido de carbono da civilização dos combustíveis fósseis, produziriam nessa altura até menos 10% de precipitação..Já nos cenários do futuro, com a atmosfera ainda mais quente se a tendência de crescimento das emissões de gases com efeito de estufa não for invertida, o que os resultados indicam é que os furacões trarão consigo, não apenas maior quantidade de precipitação, mas também ventos mais fortes em relação aos que se observam agora. Desde o início da era industrial, a temperatura do planeta já sofreu o acréscimo de mais um grau Célsius.."Estamos a começar a ver fatores antropogénicos a influenciar a quantidade de chuva associada aos ciclones tropicais", afirma Christina Patricola, sublinhando que as simulações feitas pela sua equipa "indicam que à medida que o tempo avança poderemos esperar ainda maiores quantidades de precipitação" associada aos furacões..Já em relação à velocidade do vento, o estudo não encontrou sinais de que o aquecimento da atmosfera ocorrido até agora no contexto das alterações climáticas tenha tido qualquer influência na velocidade dos ventos associada a esses furacões. Mas as estimativas para o futuro não são tão animadoras. Com a continuação do aumento da temperatura, isso vai começar a acontecer também, asseguram os cientistas..No estudo, a equipa estima que o aumento da velocidade dos ventos associado aos furacões poderá no futuro chegar a ser da ordem dos 46 quilómetros por hora..Asfalto impermeabiliza os solos.Num outro estudo publicado nesta mesma edição da revista Nature, outro grupo de cientistas, esse liderado por Gabriele Villarini, da Universidade do Iowa, nos Estados Unidos, debruçou-se sobre uma outra questão: a da influência da configuração urbana na severidade das inundações causadas por precipitação extrema, associada aos furacões. Neste caso, estudaram o caso do furacão Harvey e as inundações que provocou em Houston, no ano passado..Os cientistas verificaram que não só a topografia da cidade teve um efeito de atração em relação ao furacão, contribuindo para que ele fosse despejar a sua chuva naquela zona, como a grande área de superfície asfaltada da cidade, impedindo a absorção da água pelos terrenos, aumentaram cerca de 21 vezes a severidade das inundações causadas por aquela tempestade. Estas questões, avisam, têm de passar a ser levadas em conta nas análises de risco relacionadas com estes fenómenos.