'Playboy' e gastador. Porque detestam os tailandeses o príncipe herdeiro

Maha Vajiralongkorn deve subir ao trono em breve, após a morte do pai, o rei Bhumibol Adulyadej. Mas a sucessão não será fácil: tailandeses veem o herdeiro como um 'playboy' excêntrico e gastador
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Com a morte do rei Bhumibol Adulyadej, depois de sete décadas no poder, a Tailândia enfrenta aquele que poderá ser considerado o maior desafio do século: aceitar como soberano o príncipe herdeiro, Maha Vajiralongkorn, de 64 anos, conhecido mais pelas excentricidades do que pela capacidade de unir a nação, politicamente dividida e liderada por uma junta militar.

O histórico de Maha Vajiralongkorn não é famoso para os tailandeses, que o veem como um 'playboy', divorciado três vezes e recordado sobretudo por ter decidido tornar major-general da Força Aérea o cão Foo Foo, um poodle que morreu em 2015 e cujas cerimónias fúnebres obrigaram a quatro dias de ritos budistas. Atualmente, tem por companheira uma ex-assistente de bordo, Thai Suthida Vajiralongkorn.

Odiado desde a década de 70 do século passado, quando se estabeleceu que seria o príncipe herdeiro - apesar de a irmã, a princesa Maha Chakri Sirindhorn, ter melhor reputação mas ser impedida de governar pelas leis da sucessão - Vajiralongkorn teve formação militar na Austrália, tem licença para pilotar, várias patentes militares e sempre demonstrou a maior indiferença pela monarquia tailandesa.

Ao longo dos anos, teve vários filhos, que depois se exilaram em consequência de o próprio pai lhes ter retirado os títulos nobiliárquicos. Em 2007, mais um episódio tristemente célebre fez com que a Tailândia continuasse de costas voltadas para o herdeiro, à medida que a saúde do rei se deteriorava: Vajiralongkorn surge num vídeo, divulgado online, com a mulher de então, a princesa Srirasm. Num aniversário, a princesa, praticamente despida, dava bolo ao poodle Foo Foo. O escândalo só não foi maior porque a Tailândia tem penas pesadas para os crimes lesa-majestade, o que tem protegido a família real de maiores embaraços.

Mais recentemente, o príncipe herdeiro foi fotografado num aeroporto de Munique, cumprimentando o piloto e a tripulação do voo em que viajava, usando calças de ganga e um crop top - uma t-shirt curta que deixava ver a barriga coberta de tatuagens, alegadamente temporárias.

As histórias de Vajiralongkorn são comentadas discretamente em toda a nação e sempre foram fonte de instabilidade num país que passou por uma série de golpes de estado desde que o rei Bhumibol ascendeu ao poder, em 1946. Pormenores sobre quanto o comportamento do príncipe herdeiro desagradava às elites foram conhecidos em 2010, devido à divulgação de uma escuta telefónica em que o conselho tailandês comentava as "embaraçosas transações financeiras" de Maha Vajiralongkorn.

Após a morte do rei Bhumibol Adulyadej, na quinta-feira, coube ao filho preparar-se para conduzir a cerimónia budista do "banho" do corpo, a primeira etapa de uma longa série de rituais que vão durar vários meses para os membros da família real tailandesa. Mas Vajiralongkorn, apesar de não se negar a participar, não deixou de surpreender mais uma vez o reino, pedindo tempo ao chefe da junta militar para "se preparar antes de ser proclamado rei".

O tempo é de incerteza na Tailândia, já que o futuro monarca pouco revelou, até hoje, sobre a sua visão para o país. Segundo relatos citados pelo The Guardian, parece preferir a opacidade, violência e intimidação à benevolência do serviço público e nunca mostrou o carisma do pai. A transição que se antecipa poderá ser violenta e mudar a face de uma das monarquias mais reverenciadas em todo o mundo.

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