Portugal sem fortuna na roleta de Las Vegas
Como se diz nos Estados Unidos, o que se passa em Las Vegas não deve sair de Las Vegas. Mas desta feita o assunto não são os famosos casinos implantados no deserto do Nevada, mas sim a etapa norte-americana do circuito mundial de sevens.
E o comportamento da seleção nacional ao longo deste fim-de-semana na 5.ª etapa das World Series voltou a ser demasiado mau para passar inobservado. Cinco jogos e outras tantas derrotas, com um total de 5 ensaios alcançados e 27 consentidos é, de novo, um desempenho muito pobre para um país que não há muitos anos dominava a seu bel-prazer esta variante no continente europeu e no circuito mundial, aqui e ali, causava sensação ao bater seleções poderosas como Austrália, Inglaterra, Escócia, França, País de Gales, Canadá ou Estados Unidos.
Mas tudo isso já reside na memória dos tempos e nesta temporada, marcada por uma penosa caminhada, os Lobos (única das 15 seleções que não atingiu qualquer final até aqui!) conseguiram apenas duas vitórias e sofreram 23 derrotas (!), colecionando últimos lugares - e com o deste fim-de-semana já são quatro nas cinco etapas realizadas.
Apresentando de novo um conjunto muito leve e sem o poder físico necessário para enfrentar atletas profissionais e que aqui chegam a respirar saúde e ambição - isto é râguebi de topo mundial, não esqueçamos -, com uma média de idades de 21,2 anos e incluindo mais um estreante na prova (José Luís Cabral, 18 anos, tantos como António Vidinha, Vasco Ribeiro e David Wallis e só menos um ano que Pedro Silvério, Tiago Fernandes e Fábio Conceição), a equipa contou apenas com dois trintões, os experientes Pedro Leal e Adérito Esteves, mas ambos já a acusarem algum cansaço/veterania e nunca conseguiram transmitir aos mais jovens uma ideia de jogo consentânea com a importância do evento.
Mas, perguntamos, onde estão os jogadores de 26, 27 ou 28 anos que deveriam estar no seu pico de desenvolvimento e a explodir em termos físicos, anímicos e de conhecimento do jogo? O selecionador António Aguilar não os consegue encontrar nem com lupa ou sequer convencer a comprometerem-se com este aliciante projeto de representar Portugal ao longo de oito exigentes meses. E assim não é mesmo possível fazer omeletes saborosas com ovos, como dizê-lo, com tão pobre gema...
Na fase de grupos, os Lobos mostraram não ter "mão" para este jogo, e ao contrário do que se esperaria nesta fase adiantada da época, provaram não estar a evoluir, antes a regredir a olhos vistos. E os resultados não deixam margem para dúvidas: 7-42 na estreia frente à Nova Zelândia, que apresentou o bicampeão mundial de quinze Liam Messam (ensaio de Adérito); 0-38 contra o Quénia, num jogo no qual os portugueses quase não tocaram na oval; e finalmente 0-31 perante o nosso adversário direto na luta pela permanência, a Rússia. E se este era reconhecidamente considerado como o jogo do tira-teimas para saber quem é mesmo a melhor equipa, estamos conversados tal foi a flagrante supremacia dos homens de Leste...
Ontem, nos "quartos" da Bowl, Portugal encontrou o País de Gales e mesmo jogando dois minutos com um homem a mais por amarelo a Sam Cross, conseguiu atingir o intervalo a perder por 10-0! Na 2.ª parte os galeses cedo chegaram a 24-0 e depois, naturalmente, fecharam a loja, permitindo os ensaios de Vasco Ribeiro e Vasco Poppe, terminando na frente por 31-12.
Esta tarde, nas meias-finais da Shield (o troféu mais baixo em disputa no circuito), a roleta da sorte indicou como adversário Samoa. E os Lobos até surpreenderam logo no pontapé de recomeço, pois a bola, mal captada por um atleta do Pacífico sul, foi de imediato bem agarrada por Vasco Ribeiro para marcar, aos 15 segundos, o ensaio mais rápido do fim-de-semana - e mesmo desta época!
Mas o pior viria depois.
Sem modelo de jogo que se visse, somando erros e falhas - algumas das quais pouco admissíveis pese embora a tenra idade dos seus jogadores -, e também sem poder físico para travar o avanço dos poderosos samoanos, Portugal seria subjugado sem apelo nos minutos seguintes... e ao intervalo já perdia por 17-7. No segundo tempo, Samoa faria mais dois ensaios para 29-7, antes de Diogo Ribeiro, à saída de um alinhamento bem conquistado, ter a palavra final selando os definitivos 29-14 em cima da hora.
Portugal alinhou neste último jogo com: Adérito Esteves, José Luís Cabral, Vasco Ribeiro; João Belo, Pedro Leal; Pedro Silvério e Tiago Fernandes. Poppe, Vidinha, Wallis, Conceição e Diogo Ribeiro entraram durante o encontro.
Com mais este último lugar numa etapa (a par da desapontante Inglaterra!), Portugal foi ultrapassado pela Rússia e sai de Las Vegas na última posição no circuito (com 9 pontos). Os russos atingiram (e perderam por 15-14 com a França) a meia-final do troféu seguinte, a Bowl, pelo que o nosso único rival na luta pela manutenção entre a elite dos sevens somou 5 pontos e tem agora mais 3, numa luta que se adivinha ombro-a-ombro até ao derradeiro torneio, em Londres, de 20 a 22 de maio.
O circo dos sevens sobe agora geograficamente. No próximo fim de semana estreia a etapa canadiana em Vancouver.