"De uma forma progressiva, o Estado deve ir alienando parte do seu setor produtivo para um setor privado concorrencial", disse à agência Lusa Artur Osório, na sua primeira entrevista após tomar posse como presidente da APHP..Segundo o administrador do Grupo Trofa Saúde, "o direito à saúde é um direito consagrado na Constituição e deve ser respeitado, mas a Constituição não diz que tem que ser o Estado a fazer a saúde e a ser o dono dos hospitais"..Artur Osório disse que a APHP ainda não apresentou esta proposta ao ministro da Saúde, mas garantiu que, "quando o governo entender, qualquer dos quatro grandes grupos privados portugueses -- Mello, Espírito Santo, HPP e Trofa -- estão preparados para gerir os hospitais públicos, nomeadamente as Unidades de Locais Saúde (ULS)"..Uma transferência que "não pode ser feita de um dia para o outro", até porque "um hospital público ainda é a grande empresa empregadora em muitos sítios". .O que o Estado pode fazer, adiantou, "é dar ao setor privado a gestão desses hospitais, que se tornará muito mais eficiente e muito mais capaz, a bem do doente e do próprio SNS".."Não quer dizer que se acabe com todo o setor público, mas grande parte do que hoje se faz pelo SNS é possível de ser feito pelo setor privado ou por uma gestão assegurada pelo setor privado", disse..O administrador hospitalar, médico de formação, defende que "o Estado deve criar uma máquina correta de auditorias constantes, de forma a ser um Estado de garantia de qualidade para o cidadão e para gerir a própria competição, que tem de haver, e dar liberdade de escolha aos seus doentes"..Artur Osório considera que o Estado não está a gerir da melhor forma o dinheiro dos contribuintes quando paga entre 120 a 140 euros por uma consulta nos hospitais públicos, quando podia pagar entre 20 e 30 no setor privado..O administrador garante que algumas situações que acontecem nos hospitais públicos, como ao nível dos laboratórios, não ocorrem no privado e que neste último é possível motivar mais os médicos, uma vez que eles ganham uma percentagem do que produzem..Isto, assegura, sem descurar a qualidade dos serviços prestados, pois quando isso acontece "o doente muda" para outro estabelecimento.."O doente é um decisor. Se vê que a consulta é telegráfica, se o médico não lhe liga, ele muda. A liberdade de escolha é que faz com que haja qualidade e eficiência"..Artur Osório admite que o país deve estar grato ao seu setor de saúde público, o qual, "a partir de certa altura, parou, deixou de evoluir, passou a ser caro, a ter uma máquina burocrática cara e a ter listas de espera". .Em resposta, "as pessoas, as empresas começaram a pagar do seu bolso para poder escolher o seu médico, o seu hospital e a ter uma relação personalizada com o sistema". ."Todo o sistema coletivista que é o SNS acaba nisto: num sistema burocratizado, parasitado por muitos interesses"..O presidente da APAH acredita que "é sempre possível" aos hospitais privados sobreviverem se perderem o acordo com a ADSE (Direcção Geral de Protecção Social aos Funcionários e Agentes da Administração Pública), embora reconheça o impacto que tal teria..Artur Osório admite dificuldades em algumas instituições privadas, nomeadamente devido a dívidas do SNS, mas sublinha que este é um setor que cresce 20 por cento ao ano e fatura 1,5 mil milhões de euros.."É sinal que há clientela", concluiu.