O capitalismo ao serviço dos desprotegidos.EMPREENDEDORISMO SOCIAL. Ao acelerar os negócios de mais de uma centena de startups, António Miguel tornou-se um empreendedor de ecossistemas de impacto social. A Maze já é uma referência internacional e agora quer colocar Portugal no mapa europeu do empreendedorismo social..Dentro das instalações da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, mas afastado dos auditórios, das salas de espetáculos ou de exposições, o escritório da Maze alberga uma empresa criada em 2013 que apoia startups orientadas para a resolução de problemas sociais e ambientais. Ao longo destes seis anos, acompanhou mais de uma centena de organizações, desenvolveu modelos de negócios, construiu programas de aceleração, investiu no seu capital e lançou títulos de impacto social..António Miguel, de 33 anos, é um dos fundadores. O outro é Filipe Santos, que, entretanto, tomou um caminho diferente. Isso não o impede de seguir o percurso do primeiro como um espectador com bilhete na primeira fila. Quando o conheceu, ficou logo cativado pela "qualidade do seu trabalho", mas não só. "Tem uma capacidade enorme de atrair talento, inspirar pessoas e angariar parceiros", diz o diretor da Católica-Lisbon..Avaliar a influência que um teve no outro é coisa que não se traduz em números. Tal como medir o impacto de uma viagem, de um artigo de imprensa ou de um professor na nossa vida é também complicado. Mas não impossível. No caso de António Miguel, os dias de voluntariado a dar aulas a crianças mexicanas ou a testar soluções de microcrédito nas favelas do Quénia acordaram-no para as questões sociais. E aquela professora norueguesa (de nome impronunciável) fê-lo perceber o que fazer com o curso de Gestão de Empresas: "Quero isto!".E lá foi ele trabalhar numa consultora vocacionada para as questões sociais e ambientais. Não é que não tivesse gostado da experiência, mas faltava mais. Qualquer coisa que lhe fazia lembrar aquela professora (de nome impronunciável) a explicar aos alunos que as áreas sociais podem ser dirigidas para os negócios. Tudo se encaixou ao ler a revista inglesa The Economist e se deparar com algo ainda pouco conhecido - Social Impact Bond ou, em português, Título de Impacto Social. O termo é sofisticado, mas o conceito resume-se numa ou duas linhas: instrumentos financeiros criados para atrair investimentos que ajudem a resolver os problemas sociais..António deu-se conta de que estava perante um novo paradigma. Fazer bem já não tem só como recompensa chegar a casa com o coração cheio e dormir com a consciência tranquila. E tornar um negócio lucrativo não tem de ser à custa do ambiente ou da exploração de aldeias esquecidas no continente asiático. Há uma fórmula para resolver não só esses problemas como obter retorno financeiro..Quem está na dianteira do modelo é a organização Social Finance UK. E lá foi António, depois de ganhar uma bolsa, trabalhar com eles no Reino Unido. Em abril de 2012 já estava envolvido em vários projetos, entre os quais o programa de redução de reincidência da criminalidade de três mil reclusos. Usou as suas competências analíticas para identificar padrões e indicar aos técnicos no terreno quais as áreas prioritárias de intervenção..O que fazer a seguir já não era tão evidente, a não ser a vontade de regressar a Portugal. É aqui que Filipe Santos entra em cena. Nunca ouvira falar de António, mas estava interessado nesse instrumento financeiro. Foi ter com o CEO da Social Finance UK numa dessas palestras internacionais e, logo ali no coffee-break, ficou a saber que havia um português no projeto..Dias depois, António recebia um telefonema de Filipe Santos e um convite para fundar com ele o Laboratório de Investimento Social que queria montar com a Fundação Gulbenkian. A 7 de outubro de 2013 nasce a Maze. Inaugura-se em Portugal um modelo que o professor descreve como capitalismo virtuoso: "Os melhores negócios são os que vão lucrar com a resolução de problemas sociais e ambientais." O futuro, portanto, pertence aos que encontrarem as soluções para desperdícios alimentares, plásticos nos oceanos, exclusão no trabalho ou saúde mental..Boa fatia do sucesso da Maze deve-se à Gulbenkian, que nos primeiros anos assegurou 100% do orçamento da empresa. A percentagem hoje é de 25% e a fundação detém uma golden share. Uma só - as restantes ações estão distribuídas pelos 12 colaboradores. Essa única ação, contudo, dá-lhe o poder para travar qualquer tentativa de desvio do rumo traçado no início..Início é, aliás, a fase em que a Maze se encontra: "Percorremos uns milímetros do nosso caminho." E o que falta fazer é um dos motivos por que Filipe Santos apostou em António: "A escolha foi óbvia não só por aquilo que ele já fez, mas sobretudo pelo que ainda irá fazer." Nada mais do que lançar "medidas inovadoras" e colocar Portugal no mapa internacional do empreendedorismo social..Quando se ouvem as ideias de António, percebe-se que as expectativas de Filipe Santos não são desproporcionadas. É por viver num país pequeno, que acredita estar no tubo de ensaio perfeito para experimentar "soluções inovadoras", que poderão depois ser replicadas por toda a Europa: "Os problemas sociais aqui têm um enorme impacto, mas em termos absolutos são reduzidos quando comparados com outras grandes capitais." Essa é a vantagem que colocará Portugal como um modelo para todos os outros..ANTÓNIO MIGUEL FOI A ESCOLHA DE FILIPE SANTOS. Diretor da Católica-Lisbon SBE, é reconhecido como especialista mundial em empreendedorismo e inovação social. Após o doutoramento em Stanford e da carreira como professor no Insead, regressou a Lisboa para lançar a iniciativa pública Portugal Inovação Social..A futura antropóloga que luta pela justiça ambiental.AMBIENTE. Aos 18 anos, Matilde Alvim é um dos rostos das greves estudantis ambientais organizadas em Portugal e representa uma geração que não vai permitir que o tema da urgência climática caia no esquecimento..Surpreendida com a nomeação para "aposta na área do ambiente", Matilde Alvim mede bem as palavras e afasta os louros quando lhe perguntam se foi a grande impulsionadora em Portugal do movimento Greve Climática Estudantil, juntamente com a amiga Beatriz Barroso, na sequência da iniciativa mundial #Schoolstrike4climate. Ela apressa-se a esclarecer que este é um movimento sem hierarquias e em que todos fazem parte..A jovem de 18 anos simboliza uma geração de ativistas pelo ambiente. Sabe que ainda tem muito a aprender sobre estes temas, mas garante que "não vamos parar". Matilde é uma das faces mais visíveis de um grupo de jovens espalhados pelo país. E desengane-se quem pense que esta ação se consubstancia "apenas" a faltar às aulas no dia das greves que acontecem simultaneamente em várias capitais do mundo. É muito mais do que isso..Matilde foi uma das jovens que receberam Greta Thunberg, na Doca de Santa Amaro, em Lisboa, no passado dia 3 de dezembro. Sente-se inspirada pela sueca, eleita recentemente como personalidade do ano pela revista Time, e segue-a, não só no Instagram, como nos ideais. Quando relembra a infância, não assinala nenhum momento em que o ativismo já pudesse estar a ganhar espaço mas considera que o facto de ter vivido no campo, perto da natureza, na Quinta do Anjo, em Palmela, terá tido a sua influência. Vegetariana há alguns anos, sente que pertence a uma geração que deveria viver numa ecossociedade mas que percebe que o mundo está a ser destruído. "Como é possível não termos o poder de mudar isto?", questiona..Estudante do primeiro ano de Antropologia, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, tenta conciliar os estudos do curso que "lhe permite conhecer melhor as várias culturas" com a causa ambiental. Sente-se uma privilegiada por ter tempo para se envolver no ativismo e contar com o apoio familiar. "Os meus pais acham ótimo." Não se importa de, eventualmente, "descer as notas neste momento em que está muita coisa a acontecer". Valoriza o curso e gosta de estudar mas agora é esta a sua prioridade..À semelhança de Greta Thunberg, que fez greve às aulas, sozinha, frente ao Parlamento sueco, Matilde participou na primeira greve realizada em Lisboa, a 15 de março deste ano. Seguiram-se novas greves climáticas estudantis, às sextas-feiras, realizadas a 24 de maio, 27 de setembro e 29 de novembro, com muitas reivindicações transmitidas a várias vozes. "Gás, petróleo e carvão, deixá-los no chão" é uma delas. "Temos de cortar 50% das emissões de gases com efeito estufa, até 2030, no mínimo, a nível mundial", avança a jovem na véspera de partir para Madrid, para participar na contracimeira da Cimeira Social pelo Clima da COP25, realizada na capital espanhola, juntamente com outros ativistas de organizações nacionais que procuravam um contraponto daquilo que intitularam, num manifesto, de "hipocrisia das representações governamentais"..Nove meses depois da primeira greve, Matilde não tem dúvidas: "Evoluímos muito, ganhámos maturidade e capacidade. Sinto que estamos a conseguir passar a mensagem e que este movimento pode vir a ser maior, seja em termos da greve seja no que respeita à justiça climática"..Apesar de nunca ter falado com a jovem estudante, Viriato Soromenho-Marques, professor universitário e ex-presidente da Quercus destaca "a clareza do discurso, a capacidade de organização e a rapidez com que Matilde percebeu o significado da ação da Greta Thunberg. É uma aluna estudiosa e preocupada". Considerando que esta é uma geração que está a pedir aos pais e aos avós para que se comprometam a fazer, com eles, o que deveriam ter feito antes, o académico sublinha características específicas, como "a sensibilidade suficiente e a formação académica para não deixarem que este assunto caia". Matilde corrobora esta afirmação. "Nós não queremos ir contra as pessoas, queremos fazer isto com as pessoas. Se perdermos, toda a gente perde", alerta, defendendo este como um movimento solidário "em processo de construção de um novo paradigma social de que todos precisamos"..Apesar de não conseguir prever onde estará daqui a dez anos, mas tendo a certeza de que o ativismo continuará a ter um lugar de destaque na sua vida, tem a certeza do que fará a partir de janeiro. Será uma das envolvidas na campanha By 2020, We Rise Up, apoiada por mais de 30 grupos de justiça climática, localizados sobretudo na Europa, com o objetivo de integrar diferentes movimentos e lutas impelindo os participantes para a ação. "É uma onda que vai surgir em 2020, com muita gente a trabalhar e a cooperar nos movimentos, uns com os outros, para tornar esta uma escalada, cada vez mais intensa", diz..Viriato Soromenho-Marques não evita as comparações de Matilde com Greta. "São ambas jovens, simpáticas, cultas e educadas que querem fazer o melhor possível no quadro de uma comunidade unida perante o perigo.".MATILDE ALVIM FOI A ESCOLHA DE VIRIATO SOROMENHO-MARQUES. Professor catedrático de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, conselheiro especial da Fundação Oceano Azul e colunista do Diário de Notícias. Há mais de 40 anos que desenvolve atividade no movimento associativo ligado à defesa do ambiente. Foi presidente da Quercus entre 1992 e 1995..O chef que regressou a casa e abalou a tradição.GASTRONOMIA. Podia brilhar em qualquer capital mundial, mas foi a Alenquer, onde nasceu, que João Simões regressou depois de uma carreira promissora em Lisboa. Ainda não há estrelas Michelin, mas o talento pode levá-lo bem longe..João Simões, 34 anos, chef do restaurante Casta 85, em Alenquer. Fixem este nome. "Vamos ouvir falar muito sobre ele", avisa Fernando Melo. É a aposta do crítico de gastronomia para 2020 e está seguro da escolha que fez. Se estivéssemos em 2014, porém, não se sentiria tão confiante. Nesse ano, João, jovem promessa da alta-cozinha, fez as malas e disse adeus a Lisboa. Deixou para trás a Bica do Sapato, o Ritz de Pascal Meynard, o Altis Belém, do chef Cordeiro, o Pragma, de Fausto Airoldi, ou o 100 Maneiras, de Ljubomir Stanisic. "Renunciou à vida estratosférica do círculo Michelin" e regressou à terra onde nasceu com a ideia de abrir o seu restaurante. "Está arrumado!" - pensou então Fernando Melo - e deu-lhe dois anos para voltar. Passaram-se cinco. Não só não está "arrumado", como o Casta 85 "virou Alenquer do avesso"..Em 2014, João ocupou um albergue do século XIV com vista para o rio. Desfez as malas e começou a arrumar a casa. Vasculhou armazéns, sótãos e arrecadações da família à procura de velharias. Com a ajuda dos amigos, martelou mesas, restaurou cómodas, estufou cadeirões e pintou paredes. Usou garrafas de Macieira para montar o candeeiro do bar, madeira envelhecida para as prateleiras ou uma cadeira vintage para instalar o urinol da casa de banho dos homens. "Quis que cada canto contasse a história de um antepassado que se mantém vivo na memória de alguém", explica João Simões..Com a casa arrumada, abriu o restaurante na vila de Alenquer, dando-lhe o nome de Casta 85, o ano em que nasceu. Decoração, serviço e cardápio tudo com "qualidade incrível", conta Fernando Melo. Sem ninguém exigir nada dele. A imprensa esqueceu-o, Lisboa e a alta-roda da cozinha continuaram a girar como de costume: "Sempre senti essa vontade de servir a terra." E nunca lhe passou pela cabeça dar menos do que o melhor: "No início, as pessoas estranharam", recorda o chef do Casta 85..Acostumados às bandejas fartas de arroz e batatas fritas, à feijoada ou ao cozido bem servidos, os habitantes da vila desconfiaram da coxinha de codorniz, da posta de bacalhau ou do naco de vitela simetricamente posicionados como um quadro numa galeria. Imagine-se o que pensariam se soubessem que ele desenha a comida numa folha de papel para decidir como são cozinhados e apresentados os alimentos no prato: "Ouvia piadas de quem não entrava aqui por julgar que iria passar fome.".A ideia feita foi-se se desfazendo, mas não desapareceu: "É um caminho que se vai fazendo todos os dias." E ele um cozinheiro a jogar em várias frentes. Nas traseiras do tribunal abriu entretanto o Tasco 85. A casa funciona entre as cinco da tarde e as quatro da manhã, aviando bifanas, pregos, courato, pastéis de bacalhau, queijos, enchidos e outros petiscos para os operários a trabalhar por turnos nas indústrias da região. "Não há muita gente assim como ele", diz Fernando Melo. Pelo menos por aqui, onde os chefes de cozinha sabem que se deixarem as grandes cidades correm o risco de se evaporar. Em França, em Inglaterra ou mesmo em Espanha, é comum ver cozinheiros cansados das luzes urbanas a regressar às raízes para plantar as próprias hortas, pescarem os próprios peixes e servirem os habitantes da terra, explica o crítico de gastronomia..João sempre teve um lado "ermita", admite Fernando Melo. Fala pouco, é tímido, mas tem muita segurança naquilo que faz: "Cultiva-se e conhece muito bem o produto." Por onde passou foi o apoio da casa, isto é, o subchef, aquele que executa o cardápio e mantém tudo no lugar quando o chef está ausente..Em Lisboa ou no Porto, o sucesso dele seria instantâneo como uma sopa de pacote. Fora dos círculos mais fechados, tudo corre em lume brando. Mas desacelerar o relógio foi também o que o fez regressar. Gerir o restaurante é ocupação a tempo inteiro. Mas em Lisboa nunca se sentou à mesa e se desligou das horas. Agora volta e meia acontece. Com os amigos, com os velhotes da terra, com o engenheiro Luís de Carvalho, da Quinta do Lagar Novo, ou com Adolfo Henriques, que lhe fornece os queijos. "Dá-me um gosto enorme ficar horas a ouvir o que estas bíblias têm para ensinar", suspira..Boa parte do que se come no Casta 85 é uma reinvenção dessas conversas demoradas. Outra grande fatia, no entanto, vem ainda dos tempos em que corria pelo quintal enquanto a mãe depenava as galinhas das festas do Espírito Santo da aldeia ou das tardes a pisar uva..Quem experimentar a cozinha do chef João Simões pode vir a ter um choque emocional. Não é exagero, assegura quem a conhece. A canja de bacalhau com ovo escalfado e pão grelhado, por exemplo, já fez soltar lágrimas de clientes subitamente transportados para as mesas das avós..Desconstruir o tradicional para reconstruir as memórias é um dos seus talentos. Memórias de infância é, aliás, o nome da sobremesa que regressará, em breve, ao cardápio. Tem um toque dele, que se reconhece à primeira colherada. Mas a base é simplesmente banana e bolacha esmigalhada com iogurte e sumo de laranja. É o que basta para regressar aos dias felizes da infância. Kátia Catulo.JOÃO SIMÕES FOI A ESCOLHA DE FERNANDO MELO. Engenheiro físico de formação, há trinta anos que estuda o património gastronómico português, percorrendo o país para conhecer vinhas, adegas e restaurantes. Crítico de vinhos e de comida nas revistas Evasões e Vinho - Grandes Escolhas, é professor universitário e dá formação em enogastronomia..Encurtar o caminho entre políticos e cidadãos.CIDADANIA. Bernardo Gonçalves reacendeu o interesse dos jovens em resolver os problemas das suas comunidades, graças a uma plataforma que juntou eleitores e políticos e já originou 600 propostas para mudar uma dezena de cidades..Reciclar corretamente nem sempre sai bem à primeira. Requer técnica e treino para acertar em cheio. Mas esse também é um estímulo para boa parte dos alunos de Torres Vedras. Sempre que têm de despachar um pacote de leite ou uma embalagem de iogurte, fazem pontaria à tabela de basquetebol et voilà! A ideia surgiu de uma discussão e de uma votação na sala de aula. A ideia aliás é uma das cerca de 600 que nasceram na MyPolis, fundada há pouco mais de um ano por Bernardo Branco Gonçalves. A plataforma web (e também a app) é uma espécie de rede social da cidadania, que convoca toda a gente a pensar no que pode fazer pelo bairro, pela escola e pela cidade. Há projetos simples, planeados e executados por uma turma, um grupo de moradores ou uma associação. E projetos não tão simples, encaminhados para as autarquias..A plataforma MyPolis é o agregador dessas boas ideias que têm como ponto de partida resolver alguma coisa errada ou que não funciona nas cidades. Mais ecopontos, calçadas seguras, canteiros floridos, trotinetes para ajudar os polícias a vigiar as ruas, passadeiras 3D projetadas por uma escola de tecnologias, oficinas de cinema para crianças e para seniores, parques urbanos, barracas de apoio aos pescadores, há muitas propostas a chegar de cada vez mais lugares do país..E tudo começou com três ou quatro municípios e freguesias. Hoje, são onze as câmaras municipais ou juntas que se deixaram arrastar por esta onda - Vila Nova de Gaia, Oeiras, Portimão, Lagoa, Torres Vedras, Lousã, Vila Nova de Poiares, Massamá e Monte Abraão (Sintra), Misericórdia (Lisboa), ou União das Freguesias de Coimbra..A MyPolis cresceu e continuará a crescer. Qualquer um pode propor uma ou várias ideias. Quantas mais, maior a probabilidade de subir na escala - sete patamares que vão do "Aprendiz" ao "Ronaldo da Cidadania" com direito a prémios. Por ser uma ideia com um "enorme impacto", é também o motivo por que Rosário Farmhouse aposta em Bernardo Branco Gonçalves, economista de 26 anos que, em 2017, se despediu da consultora Deloitte Digital para arrancar com este projeto. "Sempre tive essa preocupação em procurar mecanismos que dessem voz aos mais novos", justifica a presidente da Comissão Nacional para a Promoção dos Direitos e Proteção de Crianças e Jovens. E sobretudo que soubessem usar a mesma linguagem para comunicar. Melhor ainda: que assegurassem que a mensagem deles chega depressa ao destino e acerta no alvo: "O Bernardo criou uma linha direta entre os jovens e os decisores políticos.".A MyPolis não é somente mais uma rede social ou uma mera aplicação para descarregar no smartphone. É o botão que desperta a vontade de querer mudar a rua, a cidade, o país e - porque não? - o mundo. É o acelerador de utopias que corre nos genes de qualquer miúdo. Acima de tudo, é a solução para o momento certo: "O desinteresse pela política, pelos problemas das cidades, a abstenção nas urnas, tudo isso tem sérias consequências no desenvolvimento de um país." E MyPolis - diz Rosário Farmhouse - reacendeu esse entusiasmo adormecido: "Ao sentirem que estão envolvidos nas decisões das cidades e do país, os mais jovens passam também a ser agentes de mudança.".Tudo isso se consegue à custa de uma equipa de seis pessoas, horas a fio frente ao computador a programar ou a gerir a plataforma. Verdade, em parte, mas dá muito mais trabalho do que isso. Bernardo, Mariana, Pedro, João, Virgínia e David estão sempre a saltar das comunidades virtuais da MyPolis para o terreno. Visitam escolas e associações, abrindo espaço para debates e atividades. Entram em juntas de freguesia e gabinetes de vereadores, recrutando autarcas que podem fazer algo com as ideias vindas das salas de aula, dos bairros e da plataforma. "Fazemos centenas de quilómetros todas as semanas", diz Bernardo. "Num dia estamos em Coimbra e noutro em Sintra. E mais ainda vão ter de fazer. É provável que não venham a ter mãos para tudo e é por isso também que a MyPolis terá, em breve, mais duas equipas fixas a trabalhar a tempo inteiro na região do Algarve e do Porto..O ano 2020 está aí e o plano que se segue é fortalecer os vínculos com as autarquias e acompanhar os projetos em curso. Expandir a rede da MyPolis por enquanto não é a prioridade, mas também é certo que já ganhou vida própria com as propostas submetidas e partilhadas na plataforma, todas as semanas..A ideia dele pegou. É o que nesta fase do campeonato já se poderá concluir. E pegou porque ainda enquanto presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa já andava à procura de uma fórmula eficaz para envolver os universitários na vida académica: "Eles, tal como eu, não têm tempo nem paciência para assembleias intermináveis, para discursos políticos ou programas eleitorais.".Se quase tudo o que a geração millennials faz é rápido, intuitivo e através do digital, então a resposta está obviamente na internet. Sem requerimentos, formulários e outras burocracias. E foi assim que Bernardo Branco Gonçalves juntou políticos e eleitores..BERNARDO GONÇALVES FOI A ESCOLHA DE ROSÁRIO FARMHOUSE. Presidente da Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção de Crianças e Jovens desde novembro de 2017. Entre outros cargos e funções, foi diretora do Serviço Jesuíta aos Refugiados de Portugal e alta-comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural..Curar doenças, desenvolver medicamentos, mudar paradigmas.CIÊNCIA. Tem apenas 38 anos, mas já fez ciência em vários países para tentar desenvolver medicamentos que permitam bloquear doenças. Com uma curiosidade aguçada desde pequena, Sofia Caria tem feito um percurso de investigação notável..Aos 4 anos, Sofia Caria destruía brinquedos. Queria perceber o que escondiam e como funcionavam. A irmã Maria João, cinco anos mais velha, ficava furiosa. A curiosidade, tão necessária a quem escolhe a ciência como profissão, já estaria por ali. O percurso escolar foi natural. No fundo, o que mais gostava era de perceber o mundo e as disciplinas favoritas dividiam-se entre Biologia, Física, Geologia e História. No momento em que teve de escolher um agrupamento, antes de ingressar no 10.º ano, a opção estaria facilitada e nem os testes psicotécnicos a desviaram do caminho: ciência aparecia, de forma destacada..As incertezas chegaram no momento de se candidatar à universidade. Estava inclinada para Medicina, pois nasceu com um problema cardíaco que a levou ao bloco operatório por correr risco de vida, com apenas 2 anos. "Tinha um sentimento de dívida que queria devolver à sociedade." Queria salvar outros como a salvaram a ela mas começou a perceber que poderia correr mal quando algumas vidas lhe fugissem das mãos. No meio do percurso, procurou um curso que fizesse adiar a decisão e inscreveu-se em Química Aplicada - Biotecnologia, na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, em 1999. Realizou dois estágios, um deles na área da microbiologia, na universidade, durante três meses e, outro, no Instituto de Tecnologia Química e Biologia (ITQB), em Oeiras, durante nove meses, em que contactou com aquela que viria a ser a sua paixão e na qual tem trabalhado até hoje: biologia estrutural..No final do último estágio, o orientador, o investigador Francisco Enguita, disse-lhe que deveria ir para o estrangeiro para abrir a cabeça e conhecer outras realidades. "Tens muito para dar", disse-lhe. E ela, com 22 anos, que não tinha nos planos imediatos ir para fora do país, maturou a ideia, sozinha, acabando por lhe dar razão. Estava dado o mote para o início de uma carreira no estrangeiro, uma das razões que levaram Carlos Fiolhais a considerá-la como uma jovem promessa para o futuro, apesar de não se conhecerem pessoalmente. "Fiquei impressionado pelo longo e amplo percurso profissional internacional da Sofia", diz. A cientista de 38 anos usa métodos físicos - cristalografia de raios X - para conhecer a estrutura de proteínas ligadas a moléculas mais pequenas e, a partir daí, desenvolver medicamentos e bloquear doenças, sobretudo as que representem um grande peso nos sistemas de Segurança Social dos vários países e provoquem uma deterioração da qualidade de vida das pessoas, incapacitando-as progressivamente. "É uma cientista experiente, a trabalhar para a indústria de ponta, aplicando aquilo que aprendeu em investigação fundamental", acrescenta Fiolhais..Depois de um estágio no European Synchrotron Radiation Facility (ESRF), em Grenoble, França, entre 2005 e 2006, percebeu que conseguia adaptar-se bem à vida fora de Portugal e que a aposta em biologia estrutural tinha sido certeira. Acabou por realizar o doutoramento no ESRF e apresentar a defesa da sua tese, em 2010, dedicada à "caracterização bioquímica e estrutural do sistema de dois componentes PhoR-PhoB de Deinococcus radiodurans [uma bactéria que resiste a tudo]"..Como a experiência em França tinha corrido bem, Sofia perdeu o medo. "Percebi que o meu mercado de trabalho não era Portugal nem a Europa. Era o mundo." Procurou novas oportunidades e não parou. Seguiu-se uma viagem para a Austrália, para onde se mudou com o marido, o também cientista David Aragão. Fez o pós-doc em Ciência Aplicada no Monash Institute of Pharmaceutical Sciences e, em 2012, sete meses depois, mudou-se para a La Trobe University, onde ficou sete anos a trabalhar num projeto que consistia em bloquear as ações dos vírus responsáveis por doenças..Em março deste ano, Sofia abraçou uma nova mudança e começou a trabalhar na multinacional Evotec, em Abingdon, no Reino Unido, onde viria a ocupar o seu "lugar de sonho", o que, na prática, se traduz numa posição permanente enquanto cientista sénior. "Posso trabalhar no que mais gosto sem a ansiedade de saber se terei, ou não, um novo financiamento." Continua a adorar Portugal, onde regressa de férias sempre que pode, mas garante que não conseguiria ter cá a estabilidade de vida que acabou de alcançar. E atualmente, Sofia, o marido e o filho têm dupla nacionalidade: australiana e portuguesa. Sofia é do mundo..SOFIA CARIA FOI A ESCOLHA DE CARLOS FIOLHAIS. Formado em Física na Universidade de Coimbra e doutorado pela Universidade Goethe em Frankfurt/Main, trabalhou na Dinamarca, em Espanha e nos EUA. Escreveu mais de 60 livros e publicou mais de cem artigos científicos. Além de professor catedrático, é o fundador e diretor do Rómulo - Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra..O escritor inquieto que redescobriu a liberdade da escrita.LITERATURA. Vencedor de dois dos mais importantes prémios literários em Portugal, Afonso Reis Cabral já é considerado um valor para o futuro e é bem acolhido por autores consagrados. Está prestes a começar a escrever o próximo livro..Desde cedo que o escritor de 29 anos percebeu que a escrita era para levar a sério. Aos 9, chegava todos os dias uma hora mais cedo ao Colégio dos Cedros, em Vila Nova de Gaia, onde estudava, e aproveitava para escrever. "Pode parecer um pouco pretensioso mas não me lembro da minha vida sem a escrita." Afonso andava com uma pasta para todo o lado com micas plásticas onde guardava os poemas que escrevia. O facto de os pais terem hábitos enraizados de leitura e de os livros serem tema de conversa em casa ajudou a consolidar a paixão..Guarda até hoje um livro com cerca de 60 páginas que criou para a disciplina de História depois de ter sido pedido aos alunos que escrevessem sobre um tema lecionado. Afonso idealizou um romance que intitulou As Terras da Batalha, inspirado nas invasões francesas. E a paixão pela escrita nunca foi "motivo de escárnio" dos familiares e dos amigos. Pelo contrário..Aos 15 anos, Afonso foi estudar para o Agrupamento da Escola Rodrigues de Freitas, no Porto, para aperfeiçoar os conhecimentos em línguas e literatura, já que o colégio não tinha a opção de Humanidades. Aos 18 anos ingressou no curso de Estudos Portugueses e Lusófonos, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL). "Queria sair de casa, desacomodar-me e ter outra vida." Mais do que aperfeiçoar a escrita, o foco seria "aprender a ler mais e melhor". Não tinha a pretensão de viver só da escrita e sabia que a área de edição, na qual tem trabalhado enquanto freelancer, seria uma das saídas profissionais possíveis..Simultaneamente com os estudos, trabalhou numa vacaria e num alfarrabista. Tinha 21 anos quando começou a escrever o primeiro romance O Meu Irmão, que viria a ser distinguido com o Prémio LeYa, em 2014. O processo de escrita demorou aproximadamente três anos pois coincidiu com um part-time que tinha num escritório de turismo, uma bolsa de investigação para estudar o espólio da editora Romano Torres e o mestrado em Estudos Portugueses, também na FCSH-UNL..Em dezembro de 2017, Afonso demitiu-se da Editora Presença, onde esteve cerca de dois anos e meio, pois percebeu que o facto de estar a trabalhar a tempo inteiro seria "uma boa desculpa para não escrever". Nesse ano venceu o Prémio Europa David Mourão-Ferreira e, a partir de janeiro de 2018, passou a dedicar-se ao segundo romance, Pão de Açúcar, lançado em setembro desse ano. "Achei que estava na altura de lançar outro livro, de ultrapassar certos medos e uma certa pressão que existia sobretudo com a questão da descoberta do leitor e de uma certa exposição que começou a acanhar-me um pouco." Tudo isso foi depois ultrapassado e era chegado o momento de "redescobrir a liberdade da escrita". O Prémio Novos, na categoria de Literatura, chegou também em 2018..Em outubro passado, Afonso Reis Cabral foi distinguido com o Prémio Literário José Saramago pelo romance Pão de Açúcar. À medida que vai escrevendo vai mostrando à namorada, aos pais e a um ou outro amigo. É a opção que encontra para combater a solidão da escrita. "Quando mostrei a primeira versão do Pão de Açúcar aos meus pais, disseram-me que não estava bem escrito. A crítica acabou por ser essencial para fazer de outra forma", conta. Apesar de receber as distinções com agrado, conhece bem o trabalho, a luta, o desafio e o processo inacabado que a escrita envolve. "Os prémios não são responsabilidade minha. A minha responsabilidade é escrever. O meu compromisso é com a literatura", defende. Confessa que poucas vezes se sente cómodo e que se identifica com a música Inquietação de José Mário Branco. "É terrível. Nunca estou onde gostaria de estar.".A editora Maria do Rosário Pedreira considera que não existirão muitos autores com menos de 40 anos com esta qualidade e acredita que Afonso Reis Cabral é "um valor literário para o futuro". Apesar de ter demonstrado alguma reserva inicial com a sua escolha, por trabalhar diretamente com o escritor, reconhece que não está sozinha nesta opção. "Quando ganhou o Prémio LeYa, por unanimidade, os elementos do júri pensaram que o livro teria sido escrito por uma pessoa mais velha. Ficaram admirados quando perceberam que tinha apenas 24 anos porque o livro tratava uma matéria muito profunda." Esta sua maturidade - que se reflete também na escrita - foi reconhecida novamente com o Prémio Literário José Saramago 2019 por "um júri composto por pessoas que estão acima de qualquer suspeita", reforça a editora..Entre abril e maio deste ano, Afonso percorreu Portugal a pé - de Chaves a Faro - ao longo dos 738,5 quilómetros da Estrada Nacional 2. Ao fim de 24 dias de caminhada, deu "o melhor mergulho da vida", na Praia de Faro. O registo da viagem foi publicado, em setembro, no livro Leva-me Contigo..Mais recentemente, em novembro, o escritor recebeu a notícia de que tinha ganho uma bolsa de criação literária atribuída pela Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB), que lhe permitirá ter um montante mensal para se dedicar em exclusivo, em 2020, ao próximo livro. O escritor gostaria que o lançamento acontecesse no início de 2021..AFONSO REIS CABRAL FOI A ESCOLHA DE MARIA DO ROSÁRIO PEDREIRA. É uma das mais respeitadas editoras literárias em Portugal, trabalha no grupo LeYa, onde é responsável pelos autores portugueses. Licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas na Universidade Clássica de Lisboa, estudando paralelamente outros idiomas, como o alemão e o italiano..Varrer o lixo informático e resgatar tempo para as empresas.TECNOLOGIA E DIGITAL. Jaime Jorge é líder da Codacy, que fornece um serviço de limpeza automática de erros e redundâncias acumulados em sucessivas atualizações de software. O trabalho é de uma "complexidade tremenda", mas as empresas clientes agradecem..Quem nunca entrou no sótão ou na arrecadação e pensou: "Já devia ter-me livrado desta tralha há muito tempo." Há sempre uns quantos a adiar a tarefa, deixando papéis e revistas acumular-se nas prateleiras, os brinquedos dos miúdos - que já não são miúdos - amontoados pelos cantos, as máquinas e os gadgets obsoletos encaixotados. A preguiça levada ao limite tem consequências desastrosas. Um dia a tralha ganha vida e engole todos os espaços disponíveis nos armários, nos gavetões e nos quartos da casa. E tudo seria evitável se tivessem dado ouvidos a essa voz interior que os avisou para serem mais pragmáticos..Pragmatismo ou, melhor, eficiência é o ponto forte da empresa que Jaime Jorge, então com 24 anos, cofundou em 2012 com João Caxaria. A Codacy especializou-se na eliminação do lixo negligenciado ao longo dos anos. Só que aqui a sujidade não se vê nem rouba espaço físico aos escritórios ou apartamentos. É antes uma praga a corroer em silêncio o software dos sistemas informáticos de todas as empresas..Tão relevante se tornou este problema que atualmente consome quase metade do tempo de centenas ou, no caso das grandes empresas, milhares de programadores ocupados a limpar os resíduos esquecidos ao longo de sucessivas atualizações de software. É um trabalho moroso, exigente na minúcia e na concentração e, como tal, sujeito a falhas. Sempre que se corrige de um lado é preciso ter em atenção que haverá outros cinco, seis ou mais lugares onde o erro se repete. Os profissionais fazem o que podem mas, como humanos que são, haverá sempre algo que escapa. Tudo seria evitado se o problema fosse atacado pela raiz. "O que oferecemos é um serviço que ajuda os programadores a identificar automaticamente os erros em linhas de código informático", diz Jaime Jorge, CEO da Codacy. Garante-se, portanto, que a casa está sempre limpa, desimpedida e arrumada. Ou, usando a linguagem dos programadores, que o "código seja legível, testado e sem bugs"..E, muito importante, que facilite a tarefa dos developers que vêm a seguir. Não é apenas porque a leitura se torna mais simples quando o código encolhe quinhentas para cem linhas. É também porque as redundâncias e as duplicações, no limite, podem arruinar o próximo projeto para criar mais uma funcionalidade no sistema..A revisão automática da Codacy é como aquela vozinha interior que avisa o programador para evitar as más práticas. Só que mais eficaz, dado que não se cala enquanto os erros e os desleixos não são corrigidos. Parece simples e intuitivo mas é de uma "complexidade tremenda", diz José Tribolet, para explicar a razão de a Codacy se ter afirmado mundialmente na área de teste e revisão de código informático. "As empresas nunca sabem o que está a correr nos seus computadores, não só porque o software está em permanente evolução, como não existem ainda metodologias rigorosas para garantir total proteção", diz o presidente do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores (Inesc)..Sendo a área de teste e revisão de código ainda "extremamente imatura" em Portugal, a Codacy está "muitos passos à frente", diz o também presidente do Departamento de Engenharia Informática do Instituto Superior Técnico de Lisboa: "O que eles fazem é engenharia da dura, trabalhando na raiz do problema.".A ideia surgiu quando Jaime ainda era estudante de Engenharia Informática no Técnico e começou a trabalhar no Fénix - sistema que gere as inscrições, as notas, as cadeiras ou o corpo docente do instituto. É um sistema pesado, com toneladas de código, boa parte dele duplicado e mal gerido. Foi o ponto de partida para a tese de mestrado em que se propôs otimizar os sistemas informáticos através de modelos que limpam automaticamente as gorduras e os excessos dos códigos..O tempo e o dinheiro que a Codacy poupa hoje às empresas é a melhor estratégia de marketing para conquistar o mercado. A startup chegará ao fim deste ano com 71 colaboradores e 480 clientes, entre instituições financeiras, consultoras, seguradoras e tecnológicas. A grande maioria (60%) são americanas e as restantes distribuídas pela Europa, Ásia e África..O crescimento foi enorme, mas não imediato. Em 2012, Jaime Jorge e o sócio, João Caxaria, começaram a explorar o software como serviço online, mas não venderam nada. Estiveram um ano a tatear o mercado para lançar, em 2013, um novo produto. Convencer as empresas a acreditar neles foi o obstáculo seguinte: "O mundo das tecnológicas é muito seletivo. Só querem o melhor.".O caminho no início foi lento, mas vencer em 2014 o prémio Beta na Web Summit da Irlanda ajudou a tornar a Codacy internacionalmente conhecida. Jaime Jorge teve três minutos para convencer o júri de que estavam perante uma verdadeira inovação. "Foi um excelente palco para dar visibilidade ao nosso trabalho." Com os entraves iniciais ultrapassados, o passo seguinte é agora levar o sonho ao patamar mais alto: "A médio e longo prazo queremos liderar o mercado mundial.".JAIME JORGE FOI A ESCOLHA DE JOSÉ TRIBOLET. Presidente do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores (Inesc), que fundou em 1980, e responsável pelo Departamento de Engenharia Informática do Instituto Superior Técnico, em Lisboa. Doutorado em Engenharia Eletrotécnica e Computer Science pelo MIT, é especialista em enterprise engineering.