Sérgio Sousa Pinto, Pedro Delgado Alves e uma "festa labrega" no Lumiar
O deputado socialista entrou a matar, com um post de protesto indignado no Facebook, faltavam 20 minutos para as dez da noite deste sábado: "Grande festival pimba no Lumiar. Abaixo o direito ao descanso. Os labregos que autorizaram isto têm o povo em alta conta. O Governo devia intervir. Ou a NATO".
Isabel Moreira, também deputada do PS, foi a primeira a reagir. "Que se passa?", perguntou, para receber de Sousa Pinto a seguinte resposta: "Agora, nada. Devem ter ficado afónicos. Cessou a matança do porco, musical, por assim dizer". O ruído acabou em cima das dez da noite, mas a conversa continuou no Facebook.
Alguém sugere que talvez se trate do Arraial dos Escuteiros e Sérgio Sousa Pinto, que vive relativamente perto do Parque das Conchas - era de lá que viria o barulho - diz que "deviam estar a esquartejar um escuteiro. Deve ser um ritual pagão aqui do Lumiar".
A troca de argumentos evoluiu rapidamente para um debate ligeiro sobre o que devem ser as festas populares e os arraiais de junho em Lisboa. O deputado lembra que cresceu na Graça, que "o povo de Lisboa não é bronco e ordinário" e que as "festas populares NÃO são pimba. Ao contrário dos programadores das festas".
Havia quem não concordasse e Sousa Pinto puxou pelas memórias de infância no bairro da Graça: "A Graça do meu tempo se calhar era popular. A Graça do Quim Barreiros é uma alarvidade de multidões, bindge drinking e vómito, com música a condizer". E continua: "nasci em Lisboa. Isto não é Lisboa, isto é gozar com os Lisboetas. Lamento mas ser democrata não envolve ser labrego e nivelar abaixo de zero".
Pedro Delgado Alves, companheiro de bancada e de partido, mas aqui, mais importante para esta história, presidente da Junta de Freguesia do Lumiar, entra na conversa um pouco mais tarde: "Por acaso amanhã acabamos a temporada de órgão com Lieder do romantismo alemão, às 16h00, mas estranhamente não acolheram a sugestão de meter nos arraiais".
Entre presidente e freguês, a conversa continuou sempre com sentido de humor. Delgado Alves garante que "este labrego hoje só deu licença ao arraial dos escuteiros no adro da igreja de São João Batista. Nas Quinta das Conchas terá sido labreguice municipal".
Sousa Pinto reforça que "a ave canora que me embelezou o serão não era escuteiro" e Delgado Alves chuta o problema para a Câmara, para Fernando Medina: "o dos escuteiros é noutro lado. Esse das Conchas não é nosso. CML é que os licencia, gestão do parque é dela. Da nossa programação para aí só jazz na segunda quinzena e uma parceria com a EGEAC para bandas filarmónicas, de tarde". Tudo música decente, portanto.
O DN contactou a CML e não conseguiu esclarecer o mistério em tempo útil. Na programação cultural do município não havia qualquer evento previsto para o sábado à noite no Parque das Conchas, e uma fonte do executivo não conseguiu confirmar se se tratava de um evento privado, mas licenciado pela CML.
Conclusão. O que quer que tenha sido que incomodou os ouvidos do deputado Sérgio Sousa Pinto, aparentemente, não foi responsabilidade de ninguém, até porque outra fonte, do lado da Junta de Freguesia, afirma que não havia qualquer sinal de um evento organizado ontem à noite naquele espaço, nem palco, nem colunas de som, nada.
A conversa continua animada no Facebook, já com comentários desta manhã. Diogo Belford Henriques, assessor do grupo parlamentar do CDS, entrou apenas para dizer: "Grabbing popcorn..." e Sérgio Sousa Pinto, provando que mantém o humor mesmo nas manhãs, respondeu-lhe: "Nunca experimentei. Sou seletivo com o que ponho nos ouvidos".