Será que já sabemos quem será o próximo presidente da França?

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O resultado das eleições primárias de ontem em França permite-nos conhecer quem será o candidato da direita francesa à eleição presidencial em 2017. Nesta eleição, poder-se à também ter decidido qual será o próximo presidente da República.

François Fillon foi o candidato escolhido. A escolha era entre dois candidatos com perfis bastante diferentes. Por um lado, Alain Juppé, considerado como sendo o mais moderado, um político com muita experiência acumulada em vários cargos ministeriais e com a capacidade para captar alguns votos ao centro do espectro político francês. Por outro lado, um político também muito experiente, mais liberal do que Juppé, porventura mais dinâmico, e que tem um programa mais ambicioso em termos de reformas, algo que é sempre muito difícil de colocar em prática em França.

Falta ainda conhecer o candidato do Partido Socialista. O atual presidente François Hollande tem tido resultados nas sondagens muito baixos praticamente ao longo de todo o seu mandato e não é ainda certo se será candidato a uma renovação de mandato, embora muitos comentadores pensem que sim. Os outros candidatos surgem todos, até à data, com indicações que também não são muito positivas. Existem vários potenciais candidatos no Partido Socialista, designadamente Arnaud Montebourg, Benoît Hammond, Ségolène Royal e Manuel Valls, atual primeiro-ministro, mas nenhum deles parece ter condições para chegar a uma segunda volta nas eleições presidenciais em 2017 caso seja o vencedor das primárias do Partido Socialista. O mesmo acontece com um candidato de outro partido mais à esquerda, Jean-Luc Mélanchon. As sondagens indicam que Emmanuel Macron obteria um resultado melhor do que qualquer um dos anteriores, mas nem ele passaria à segunda volta das eleições presidenciais. Emmanuel Macron, que se apresentou recentemente como candidato a estas eleições, não é de esquerda mas foi ministro da economia do governo do presidente Hollande e pode ser considerado como um outsider na paisagem político-partidária em França.

A maioria das sondagens parece indicar que Marine le Pen, da Frente Nacional (Front Nacional) de extrema-direita, seria a vencedora da primeira volta das eleições presidenciais em 2017, embora sem conseguir maioria absoluta. Mas o seu eleitorado é relativamente estável e, por isso, pelo menos a possibilidade de estar presente na segunda volta é bastante elevada. Excluindo uma vitória improvável de Marine Le Pen à primeira volta, os dois candidatos mais prováveis para a segunda volta são Marine le Pen e François Fillon. Nessas condições, é legítimo pensar que o vencedor da recente eleição primária será também o futuro presidente da França. Isto porque todo o eleitorado que não apoia Marine Le Pen votará nele na segunda volta, de forma a evitar uma vitória da candidata da Frente Nacional.

Estamos ainda praticamente a seis meses das eleições presidenciais em França, cuja primeira volta ocorrerá a 23 de abril de 2017. Mas a verificar-se a situação acima descrita, seria algo comparável ao que ocorreu em 2002 quando o candidato do Partido Socialista, Lionel Jospin, foi eliminado na primeira volta, apesar de ser na altura considerado como um candidato forte da esquerda. Na primeira volta, Chirac obteve 19,88% e Jean-Marie Le Pen, pai de Marine Le Pen, 16,86%. Jospin conseguiu apenas 16,18%. Na segunda volta, Chirac ganhou com 82,21% contra 17,79% de Jean-Marie Le Pen. Veremos o que acontecerá em 2017.

Professor de Relações Internacionais na Universidade Lusíada

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