Senegal-Argélia. Uma final africana com o toque 'british' de Mané e Mahrez

O sucessor dos Camarões como novo campeão africano é decidido hoje. De um lado o Senegal de Sadio Mané, jogador do Liverpool: do outro a Argélia de Mahrez, do Manchester City. Os dois selecionadores são velhos amigos que chegaram a morar na mesma cidade em França quando ainda sonhavam ser jogadores.
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Senegal e Argélia defrontam-se esta sexta-feira na final da Taça das Nações Africanas (20.00, Eurosport), um jogo que pode dar o primeiro título da história aos senegaleses ou permitir aos argelinos conquistarem o troféu que lhes foge desde 1990, quando venceram pela primeira e única vez a CAN, ao derrotarem a Nigéria na final.

Trata-se de uma final inédita (numa se tinham defrontado no jogo decisivo), mas será o segundo confronto entre as duas seleções nesta edição da CAN, pois defrontaram-se na fase de grupos, com o triunfo a sorrir aos argelinos, por 1-0. O jogo decisivo desta sexta-feira terá um toque britânico, já que as principais estrelas de uma e outra equipa atuam no futebol inglês.

Sadio Mané é o grande destaque do lado do Senegal, um jogador que foi fundamental na boa campanha do Liverpool na última temporada, que terminou com a conquista da Liga dos Campeões.

O jogador de 27 anos chegou a Anfield em 2016, um pedido expresso do treinador Jürgen Klopp, depois de ter dado nas vistas ao serviço do Southampton, clube onde entrou para a história ao marcar o hat-trick mais rápido da liga inglesa (três golos ao Aston Villa em apenas 176 segundos) e ao serviço do qual, em 2015, esteve em grande evidência num jogo contra o Chelsea de Mourinho, ao marcar um golo e ao fazer a assistência para o outro na vitória do Southampton por 2-1. Na época passada, pelo Liverpool, marcou um total de 26 golos em 50 jogos. Nesta edição da CAN apontou três - dois na fase de grupos no triunfo por 3-0 sobre o Quénia e um nos oitavos-de-final diante do Uganda, que valeu a vitória.

Sadio Mané teve uma história de vida algo complicada e foi obrigado a fugir de casa para concretizar o sonho de se tornar jogador de futebol. "Preparei tudo ao milímetro, sabendo que não tinha dinheiro nenhum. Ao por do sol escondi um saco com as minhas coisas na vegetação, para não ser surpreendido quando saísse. Na manhã seguinte, pelas seis da manhã, lavei os dentes e fugi sem sequer tomar banho. Fugi sem contar nada a ninguém, exceção feita ao meu melhor amigo. Caminhei durante muito tempo para me encontrar com outro amigo que me emprestou algum dinheiro, que serviu para apanhar o autocarro para Dakar. Os meus pais exigiram que voltasse para casa, mas eu não queria. Tinha vergonha de voltar e acabei por concordar depois de acordar com eles que me deixariam tentar a sorte no futebol assim que acabasse o ano letivo", contou numa entrevista à France Football , ele que antes do Liverpool e do Southampton representou o Metz e o RB Salzburgo.

Na Argélia a estrela da companhia é Riyad Mahrez, de 28 anos, colega de equipa de Bernardo Silva no Manchester City treinado por Pep Guardiola. O avançado chegou ao campeonato inglês em 2013 e assumiu-se como uma das figuras do Leicester, clube pelo qual se sagrou campeão na temporada 2015-16. Em 2018, Guardiola perdeu a cabeça e pagou quase 70 milhões de euros pelo argelino, que na última temporada voltou a conquistar o título de campeão inglês, contribuindo com 12 golos em 44 jogos - tornou-se no segundo jogador africano a conquistar a liga inglesa por dois clubes diferentes, após Kolo Touré.

O avançado, que nasceu em França, mas que é filho de pais argelinos, reconheceu um certo dia, numa entrevista à revista Four Four Two , que quando foi contactado pelo Leicester em 2013 para se mudar para o clube inglês... não sabia muito bem ao que ia. "Para ser sincero, não conhecia o clube. Em França não tinha ouvido falar deles porque na altura a equipa estava no Championship (II Divisão). Na altura pensei que fossem uma equipa de râguebi", referiu. Na mesma entrevista, o avançado desvalorizou o facto de não se ter formado numa academia, como é prática em França. "Talvez isso até tenha sido uma vantagem. Quando jogamos futebol na rua nada disso interessa. Jogamos por puro divertimento. Foi na rua que mostrei as minhas qualidades, sempre contra adversários mais velhos. Eu tinha 15, eles 20", contou Mahrez, que passou pelo Le Havre antes de assinar pelo Leicester.

Selecionadores amigos viveram na mesma cidade

O Senegal tem como selecionador Aliou Cissé, 43 anos, antigo médio defensivo que chegou a representar o PSG e teve também passagens por Inglaterra (Portsmouth e Birmingham). Um treinador que viveu um enorme drama em 2002, quando perdeu 11 familiares vítimas de um naufrágio no Oceano Índico, quando o ferry, o Le Joola, naufragou a caminho de Dakar provocando a morte de quase 2000 pessoas.

"Estou muito orgulhoso por estarmos na final, algo que o Senegal não conseguia há 17 anos. Isto é fruto de muito trabalho e de uma grande preparação. Estes jogadores trabalharam no duro nos últimos cinco anos e agora estamos a colher os frutos", disse depois de o Senegal ter eliminado a Tunísia (1-0) nas meias-finais.

Os argelinos são treinados por Djamel Belmadi, 43 anos, também ele um antigo jogador que substituiu em agosto no cargo o ex-portista Rabah Madjer. "Não somos políticos, milagreiros ou bruxos. Mas podemos prometer ao povo argelino que vamos lutar com todas as nossas forças para ganhar esta final. Vamos defrontar o Senegal do meu amigo Cissé, o que é extraordinário. Ele é um grande treinador e construiu a sua seleção à imagem daquilo que ele era enquanto jogador", referiu.

De facto, Cissé e Belmadi têm várias coisas em comum. A começar por terem a mesma idade, apenas separados por um dia de diferença. Além disso cresceram na mesma vila francesa, Champigny-sur-Marne, localidade próxima de Paris. Mas nunca se cruzaram na adolescência. No início dos anos 90, o atual selecionador argelino rumou ás escolas de formação do PSG; o senegalês para o Lille. Chegaram a defrontar-se por clubes diferentes e também a nível de seleções. Na CAN de 2002, por exemplo, o Senegal de Cissé bateu a Argélia de Belmadi

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