Um ano depois da sua primeira participação no Natal dos Hospitais, Catarina Rocha explica que foi a concretização de uma ambição, participar num programa que conhecia "desde pequenina". Tinha 25 anos quando se dedicou à vida artística, há oito anos, depois de fazer a licenciatura e o mestrado em Turismo. Uma área que engavetou para se dedicar à música mas que abre de vez em quando para dar a conhecer o seu país aos turistas..Tem 33 anos e só se tornou profissional da música há oito. Porquê? Primeiro, tirei o curso de Turismo e o mestrado em Turismo e Desenvolvimento de Negócios, não era o momento para conciliar as duas coisas. A música requer todo o tempo e empenho, reparei nisso quando comecei a fazer os meus álbuns. Requer muito trabalho e dedicação da parte do artista, quando acabei os estudos foi quando decidi dedicar-me a 100% ao fado..O que é que aconteceu à carreira na área do turismo? Coloquei-a de lado para me dedicar ao fado, se bem que atuar nas casas de fado também me permitia ter contacto com o turista, acabava por fazer um bocadinho de cicerone do nosso país. Cantava para eles, mostrava a nossa cultura, eles pediam conselhos sobre as coisas a visitar e eu acabava por ser técnica de turismo. Mas claro que estava ali pela minha grande paixão, que é cantar, espero voltar a esses tempos quando tudo passar..É de Viseu e veio para Lisboa, como é que foi a adaptação? Muito boa, vim para Lisboa, mas sempre que podia ia a Viseu, vivia entre as duas cidades. Cantava em Lisboa e no norte, andava para cima e para baixo. Foi durante o tempo que estive em Lisboa que fiz o meu álbum Vida, foi mais fácil de concretizar em termos da produção. Mas a pandemia obrigou a fechar tudo e tenho estado mais em Viseu..Sente que a prejudica não ter crescido e vivido em Lisboa? Não. Há cada vez mais artistas em vários pontos do país, agora, é muito fácil a mobilidade. Até acho que é bom viver noutro local sem ser em Lisboa porque temos outra abrangência em termos de cultura. Tento colocar essa minha portugalidade, do norte, nos meus álbuns. Têm sempre ritmos diferentes devido à minha cultura das Beiras. Sou beirã e acabo por conseguir conjugar esses "dois mundos". Gosto muito de viver em Viseu, como gosto de viver em Lisboa..Como é que tem passado estes tempos de pandemia? Tenho aproveitado para inovar, para criar coisas novas, e espero que em 2021 consiga lançar um álbum. Será nos mesmos moldes que os dois anteriores: com temas mais tradicionais, um ou outro de um artista (talvez Maria Teresa de Noronha), cantarei também Amália. Gostaria que saísse em março, vamos ver se é possível..É a segunda vez que participa no Natal dos Hospitais, o que é que significa? O Natal dos Hospitais é um programa que vejo desde pequenina, recordo-me de, nesta época, ficar à espera de ver a televisão anunciar o Natal dos Hospitais, era uma tradição. Ficava o dia inteiro em frente ao televisor, calhava não ter aulas de manhã ou não ter aulas de tarde. Sempre foi um programa de que eu gostava e sempre tive esse sonho, essa ambição, de um dia cantar no Natal dos Hospitais..O que é que vai cantar neste ano? No ano passado apresentei o Fado Abananado e neste ano participarei também com esse fado. Teve tanto sucesso, as pessoas reagiram tão bem ao tema, acabaram por associar o refrão à pandemia, todos ficámos abananados: "Temos pena, hoje não dá, estou fechada para balanço." Têm-me pedido para cantar este fado e faz todo o sentido..É residente na Tasca do Chico, em Alfama, e atuava em outras casas, que estão fechadas. Que atividade conseguiu ter neste ano? Consegui fazer a promoção do meu álbum durante o verão nas televisões. Consegui fazer dois espetáculos, o que já é muito bom porque há artistas que não fizeram nenhum. Fiz o meu último espetáculo em março e, com a pandemia, só regressei em agosto, participei na iniciativa Cubo Mágico e no Santa Casa Alfama, espetáculos que correram muito bem e com segurança, tanto para nós como para o público. Esperamos voltar aos espetáculos em 2021, vamos ver o que nos reserva. E tenho estado a trabalhar no próximo álbum..O que é que essa paragem significa a nível da vossa sobrevivência? Ainda tive a sorte de ter esses dois espetáculos, foi muito bom para mim e para a minha equipa. A minha equipa é toda de Lisboa, muitos também tocam em casas de fado, fechando essas casas ficam sem rendimentos. E muitos deles dependem de nós artistas, dos espetáculos que fazemos, para conseguirem tirar algum rendimento. A equipa que anda connosco na estrada, os músicos, os técnicos de som e de luz, ficaram sem nada. No verão ainda conseguiram trabalhar, agora não. Creio que será um dos setores mais afetados com esta pandemia. As pessoas não têm noção, mas os artistas dão trabalho a muita gente. Se não fizermos espetáculos eles ficam sem nada, acaba por ter um efeito dominó: cai um, caem todos..Quais são os projetos para 2021? É um pouco difícil prever o que vai acontecer. Estamos à espera de as coisas melhorarem, sei que há muita gente a dizer que a cultura é segura e as pessoas podem ir aos espetáculos e eu já tive essa experiência. Prometi a mim mesma que iria assistir ao máximo de espetáculos que pudesse, assisti a vários, adorei, tudo superseguro, com máscara, cumprindo a distância, com desinfetante. Pelos menos nos primeiros meses de 2021, será assim, veremos como será a vacinação e ver se podemos reabrir as casas de fado, fazer os espetáculos, as feiras. Neste ano a Feira de São Mateus não se realizou pela primeira vez, é uma feira centenária, esperamos que se realize em 2021. Estamos com esperança de que 2021 seja bastante positivo.