Hope Solo: "Sempre falei o que penso. Honestidade torna-nos fortes"

Guarda-redes norte-americana Hope Solo esteve em Lisboa, onde defendeu a igualdade para as atletas femininas
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"Sempre falei o que penso e isso trouxe-me problemas." Ser despedida da seleção nacional foi talvez o maior problema que a honestidade trouxe a Hope Solo. Em Portugal, para participar na Web Summit, a mais famosa e a melhor guarda-redes do mundo falou de desporto, mas sobretudo defendeu a igualdade para as mulheres num mundo de homens.

Numa conferência de imprensa, à margem da cimeira tecnológica que decorre em Lisboa até amanhã, a atleta não tem dúvidas que faltam apoios ao futebol feminino e que a diferença entre os salários de homens e mulheres só vai acabar com "medidas da FIFA". Hope Solo assume que é responsabilidade sua, das atletas da sua seleção (neste caso ex-selecção) e das outras equipas de topo falar mais alto por todas. "Colocámos um processo em tribunal contra o US Soccer, o órgão responsável pelo futebol, para ganhar o mesmo que os homens e ganhámos, mas não é suficiente", admitiu. A atleta de 36 anos, acrescentou, como exemplo, que a seleção masculina do seu país gerou em 2015, dois milhões de prejuízo e "nós 20 milhões de lucro, ainda assim, os atletas masculinos ganham mais".

O que acontece, segundo a atleta e ativista dos direitos das mulheres, porque "não há público, embora haja patrocínios". "As pessoas não vão aos jogos. É preciso investimento por parte das federações e a FIFA tem que obrigar a isso, porque o espetáculo dos jogos masculinos também começou assim."

Hope Solo foi despedida da seleção dos EUA por ter chamado "cobardes" às atletas da Suécia depois de na final dos Jogos Olímpicos de 2016 terem jogado à defesa e ganhado nos penáltis. Hoje, sabe que não vai voltar a defender as redes do seu país - "fui despedida e isso impediu-me de me retirar dos relvados que era o que devia estar a fazer agora" -, porém o que mais a indigna é o facto de muitos homens usarem a mesma linguagem e não sofrerem consequências.

Hope Solo defende que as suas palavras apenas demonstravam a vontade de ganhar. Tanto que decidiu arriscar a sua saúde - "apesar da ameaça do Zika", lembrou - para estar com o seu país na luta por uma nova medalha de ouro (como as que ajudou a conquistar em 2008 e 2012). A vontade de ganhar é um dos motores da sua dedicação ao futebol, mas também o facto de ser boa nisso. "Apaixonei-me pelo futebol aos cinco anos porque era boa no que fazia. É importante dizer isso às meninas, às mulheres e a toda a gente: não tenham medo de sobressair e serem os melhores."

Espera que também aí o que lhe aconteceu seja exemplo para a mudança, numa altura em que começa a colher os efeitos de falar sempre o que pensa. "Durante muitos anos senti-me frustrada, fartei-me de falar de igualdade e igualdade nos salários e parecia que ninguém ouvia. Agora já temos o Senado, o Congresso e uma série de pessoas influentes a apoiar a nossa causa. É difícil criar mudanças, mas quando estamos entre os melhores temos ser nós a liderar essa luta pela mudança."

Longe dos relvados, não se sente angustiada com o futuro. "Fisicamente estou ótima, fiz uma cirurgia que me substituiu o ombro por titânio, neste momento sou em parte o Exterminador, só me posso sentir ótima", brincou. Mais a sério, garantiu estar "num ótimo ponto da vida para se estar". "Não sei para onde vou, mas sei que tenho grandes oportunidades à minha espera." Hope Solo mudou-se de Seattle, onde representava o Seattle Reign, para a Carolina do Norte e partilhou o desejo que ela e o marido - o ex-jogador de futebol americano Jeramy Stevens - têm de ter filhos. Pelo caminho, fica a garantia: "Podemos melhorar muito a nossa vida ao falar com honestidade. Torna-nos mais fortes."

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