Esta pode ser a semana decisiva para o Brexit. A primeira-ministra britânica regressa à Câmara dos Comuns para que se chegue a um qualquer desfecho para a questão do Brexit, conforme prometeu a própria aos deputados britânicos..Na terça-feira, Theresa May apresentará aos deputados para votação o acordo do Brexit. Recorde-se que, a 15 de janeiro, este foi rejeitado por 432 votos contra 202. A margem, uma diferença de 230 votos, constituiu uma derrota histórica. O pomo da discórdia é, sobretudo, o chamado backstop - mecanismo de salvaguarda para evitar o regresso de uma fronteira física entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda depois do Brexit (previsto para o dia 29 de março)..May, do Partido Conservador, tem, portanto, até terça-feira para fazer uma de duas coisas: convencer os restantes líderes da UE a aceitar alterações ao backstop ou convencer os brexiteers radicais a apoiar o seu acordo nesta segunda oportunidade de voto. Afinal, têm sido eles que têm feito descarrilar todo o plano de May. Sobretudo os rebeldes conservadores eurocéticos ligados ao think tank European Research Group (ERG), liderado por Jacob Rees-Mogg..A primeira parte da tarefa adivinha-se praticamente impossível. Os líderes da U27 têm matraqueado a ideia de que o acordo, fechado com Londres em novembro não é suscetível a renegociação. "Tal como os deputados vão enfrentar uma grande escolha, a UE também tem de fazer uma escolha. Somos ambos participantes neste processo e é do interesse europeu que o Reino Unido saia com um acordo", disse May, na sexta-feira, num discurso numa fábrica em Grimsby, no norte de Inglaterra.."As decisões tomadas pela União Europeia nos próximos dias terão um grande impacto no resultado da votação. Agora é o momento de agir", sublinhou, indicando aos jornalistas que pretende falar por telefone com líderes europeus durante o fim de semana. Em direção oposta, o primeiro-ministro da Irlanda, Leo Varadkar, afirmou que foi o Reino Unido que não foi capaz de apresentar alternativas para o mecanismo do backstop (destinado também a respeitar os Acordos de Sexta-Feira Santa)..A segunda parte da tarefa parece, apesar de tudo, mais exequível, já que os brexiteers radicais temem um segundo referendo ou a permanência na UE. May avisou, em Grimsby, que um adiamento da saída do Reino Unido da União Europeia poderá levar a um Brexit que não foi o que 52% dos eleitores votaram no referendo a 23 de junho de 2016. E também a um segundo referendo, como é agora defendido pelo líder do Labour, Jeremy Corbyn, após muita resistência contra os deputados do seu próprio partido. "Podemos até nem chegar a sair" da UE, avisou a chefe do governo na sexta-feira..Se o acordo chumbar, de novo, a Câmara dos Comuns poderá votar na quarta-feira sobre uma saída do Reino Unido sem acordo no dia 29, o chamado No Deal Brexit. É sabido que a maioria dos deputados britânicos não quer essa hipótese. Assim, na quinta-feira, segundo o calendário prometido por May (e depois consagrado com a aprovação da emenda de Yvette Cooper no passado dia 27 de fevereiro), os eleitos poderão votar sobre uma extensão do prazo previsto no artigo 50.º do Tratado de Lisboa..Tal extensão tem de ser aprovada por unanimidade pela UE27. Mas o presidente francês Emmanuel Macron já fez saber que só aceita uma extensão do prazo com um argumento muito forte. Esse poderia ser, dizem analistas, a organização de um segundo referendo sobre o tema do Reino Unido e a sua pertença à UE. A haver extensão, pedida e aprovada, a discussão seguinte será sobre a duração. Se for até 1 de julho, as eleições para o Parlamento Europeu, em maio, não incluirão, como previsto, eurodeputados britânicos (o novo PE será constituído a 2 de julho). Se por outro lado for mais prolongada essa extensão, os britânicos terão direito a votar nas europeias, como todos os outros europeus.