Sem mácula mas com sombra de pecado: o concerto sexy dos Air

Os cabeças de cartaz do último dia do NOS Primavera Sound, os franceses Air, apresentaram-se no palco principal vestidos de branco. E com canções sensuais.
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Uma hora e um quarto, não mais, para um céu de chumbo, sem estrelas para Kelly observar e sem a lua no firmamento. Os cabeças de cartaz do último dia da edição deste ano do NOS Primavera Sound, os franceses Air, apresentaram-se no palco principal numa versão imaculada, com Nicolas Godin e Jean-Benoît Dunckel (e outros dois músicos que os acompanhavam nas teclas e bateria) a vestirem de branco, no momento em que celebram 20 anos, com digressão e uma coletânea.

Sem mácula mas com sombra de pecado: a música dos Air é sexy e o critério na seleção do alinhamento foi esse: "Canções sexy", confessou Jean-Benoît, em entrevista ao Ípsilon. E sem concessões imediatas aos temas mais populares: Venus de Talkie Walkie (2004) abriu um concerto em que os fãs dos Air saíram enlevados, mas outros (e houve quem desistisse de acompanhar o concerto na frente do palco) poderiam esperar mais.

Nicolas e Jean-Benoît são assim: a seguir a Cherry Blossom Girl vem J'ai dormi e há quem proteste pela morrinha que parece tomar conta da música, sem se aperceber do que ouve. Os Air vão alternando versões instrumentais com temas cantados, e a bateria vai rasgando a calmia de umas canções para logo acalmar nos temas seguintes, num movimento sincopado em que se limita a acompanhar as guitarras e teclas das duas cabeças dos Air.

Sempre num registo em que a sensualidade toma conta dos corpos, pedindo movimentos lentos. Será assim com a sequência de People In The City, Talisman e Remember. É Playground Love que resgata de novo, na sua alegria assobiada, o reconhecimento público de uma (mais uma) multidão que está ali para os ouvir.

Para o fim How Does Make It YouFeel?, Kelly Watch The Stars (e não, não havia estrelas que se vissem) e Sexy Boy têm o acolhimento esperado de canções que, 20 anos depois, não têm ponta de mácula. E La Femme D'Argent parece iniciar uma odisseia espacial para acabar em apoteose de luz e som - mas é o fim. De um concerto com sombra de pecado.

Sexy boys

No lado oposto do recinto, no palco Pitchfork, também havia sexy boys. Afinal, nada há de mais sexy no rock que a honestidade de quem cria grandes canções a partir do nada ou o talento para sacar um hino punk não se sabe bem de onde.

O primeiro foi Will Toledo, o puto nerdy por detrás dos Car Seat Headrest, um projeto criado, segundo a lenda, no banco de trás do seu carro só com a companhia de uma guitarra. Um rock direto com Teens of Style, como se anuncia o álbum físico de estreia (no Bandcamp já havia muitos mais), que provocou uma imensa festa, com o público a continuar a cantar mesmo já depois das luzes acesas.

Uma verdadeira celebração rock, prolongada momentos depois por Patrick Stickles com os seus Titus Andronicus. Aqui é já de punk que se fala, na sua alma mais pueril e visceral. E se eram poucos, no início, os resistentes junto ao palco, multiplicaram-se por muitos, muitos mais, à medida que o concerto avançava. Mosh, crowdsurfing, copos a voar e corpos cada vez mais mexidos, ao som das descargas de duas guitarras elétricas, um baixo e uma bateria. No palco principal, ouvem-se finalmente os primeiros acordes de Sexy Boy. Mas os verdadeiros rapazes sexy, esses, já se tinham ido embora.

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