Sem ilusões nem anestesia. PCP quer ir mais longe no Orçamento

Na abertura da festa, Jerónimo de Sousa regista "novos avanços" como "o mínimo de existência" admitido pelo executivo socialista para 2018. E pede o "controlo público" da PT
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Já a Carvalhesa, acolhida como um hino pop, era dançada por uma imensa multidão que se juntou num palco improvisado para a abertura da festa e Jerónimo de Sousa ainda não tinha conseguido entrar num espaço mais reservado no Pavilhão Central da Festa do Avante!, travado por apertos de mão de camaradas e fotos para mais tarde recordar. É a festa que se explica "pelo partido que temos e pelo partido que somos".

Antes, poucos minutos antes, esta sexta-feira ao final da tarde, o secretário-geral do PCP tinha declarada aberta a 41.ª edição da festa que anualmente junta milhares de pessoas na Quinta da Atalaia, no Seixal.

Numa intervenção para assinalar essa abertura, Jerónimo de Sousa louvou exatamente a festa, "uma obra coletiva fascinante", antes de entrar na política porque o calendário assim o dita: as eleições autárquicas terão lugar dentro de um mês e logo a seguir vem o debate do Orçamento para 2018.

Mesmo perante a circunstância de uma curta declaração, Jerónimo de Sousa valorizou os "novos avanços" em matéria de Orçamento do Estado, "que o Governo veio agora admitir", "como o do mínimo de existência", repondo assim "a proteção fiscal dos salários e pensões de mais baixo valor". "É um passo", argumentou o líder comunista, mas que o PCP quer "que vá mais longe".

O secretário-geral comunista tratou de deixar recados desde logo ao executivo socialista, para o debate do Orçamento do Estado, que se segue às eleições autárquicas: "Valorizamos esses avanços mas não nos podemos iludir ou deixar anestesiar."

Jerónimo recordou que há mais vida para lá do défice. "A fixação no défice das contas públicas não pode ser transformada no alfa e ómega da política económica e financeira. Outros défices mais importantes exigem opções e um outro rumo e prioridade, particularmente o défice estrutural da produção nacional", disse o líder comunista.

Este foi também o mote para lançar um ataque ao "capital monopolista" que tem levado a cabo um "processo de destruição da PT", "em benefício da multinacional Altice" (e aqui ouviram-se apupos da plateia), com Jerónimo de Sousa a exigir "o controlo público da PT".

O líder do PCP anunciou que o seu grupo parlamentar entregou ontem no Parlamento um projeto-lei que "clarifica e reforça a defesa dos direitos dos trabalhadores em caso de transmissão de empresa ou estabelecimento" (que o BE também quer legislar). Ou seja, como disse o secretário-geral do PCP, o partido quer usar "todos os mecanismos existentes na atual legislação" para melhor proteger os trabalhadores.

Falar da Autoeuropa sem a nomear

Jerónimo de Sousa teve tempo ainda para criticar a Autoeuropa, mas (ao contrário do exemplo anterior da PT/Altice) sem dizer o nome da empresa.

Apontando o dedo a uma "ação concertada de várias empresas, tendo como guarda avançada as multinacionais", Jerónimo acusou estas empresas de tentarem "fazer o assalto aos horários de trabalho e eliminar o avanço civilizacional do sábado como dia de descanso". E deixou uma nota para uma eventual solução negociada: "É possível encontrar soluções que respeitem os direitos dos trabalhadores e assegurem o desenvolvimento da produção".

A um mês da ida às urnas a 1 de outubro, o líder comunista sublinhou que, enquanto era montada a festa, o PCP preparou, construiu e concretizou "milhares de candidaturas" para "travar a batalha das eleições autárquicas", "concorrendo a mais freguesias e assembleias municipais e a 304 dos 308 concelhos" do continente e ilhas. E esta festa do Avante! é o momento "para dar força e confiança nesta batalha exigente" porque, defendeu, "a CDU faz falta no plano local".

Por entre bandeiras da JCP, de Che Guevara ou da Catalunha, as autárquicas já andavam pela festa nas palavras de ordem cantadas e gritadas de forma mais ou menos espontânea: "A CDU avança com toda a confiança", ouviu-se num desfile de jotas e na frente da plateia junto ao pequeno palco.

Com a baía do Seixal como cenário de fundo, "esta maravilha, este momento de liberdade", como disse a militante da JCP, tem lugar até domingo, onde se antecipa o discurso de fôlego da rentrée comunista. Este sábado, o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno Santos, vai andar pela tarde (e com a família) pelo recinto - depois de ter estado na rentrée bloquista - e prevê-se um encontro com o líder parlamentar do PCP, João Oliveira. Não é apenas mera cortesia. Tudo conta para fazer funcionar a geringonça. Até esta festa.

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