Seleção feminina em festa e já a "sonhar um bocadinho mais alto"

A equipa nacional chegou ontem a Lisboa depois de alcançado o apuramento para a fase final. Foi uma receção em clima de euforia mas a pensar no torneio que se realiza na Holanda
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Cansadas, sem dormir mas com uma felicidade enorme de dever cumprido. As jogadoras da seleção nacional feminina chegaram ontem ao início da tarde a Lisboa, depois de terem alcançado, na Roménia, um inédito apuramento para a fase final do Europeu, que decorrerá no próximo ano na Holanda.

Não houve nenhuma multidão à espera das novas heroínas, alguns familiares e pouco mais, mas assim que a comitiva surgiu na porta das chegadas do aeroporto, alguém puxou de um megafone e gritou Portugal, Portugal, Portugal. As jogadoras, apesar das poucas horas de sono, cantaram, saltaram e abraçaram-se com a mesma adrenalina com que festejaram o golo que deu o apuramento, em Cluj. E logo entoaram um cântico, com uma ligeira adaptação, popularizada pela seleção masculina, que em julho se sagrou campeã europeia: "Pouco importa, pouco importa, se jogamos bem ou mal. Vamos ao Europeu com o nosso Portugal."

A olhar para aquela festa, orgulhoso, estava Domingos Estanislau, presidente do Futebol Benfica, atual campeão nacional de futebol feminino, que foi receber as suas atletas. "Tinha de estar aqui à espera das nossas três jogadoras e de toda a comitiva. É um grande orgulho para nós", referiu o líder do clube lisboeta, que teve na defesa Matilde Fidalgo, um exemplo de empenho e sacrifício por um sonho.

É que a jogadora de 22 anos abdicou de ir ao casamento do irmão, no fim de semana, para estar naquele que terá sido, por certo, o jogo da sua vida. "Compensou o irmão com o apuramento", atirou Domingos Estanislau ao DN, com o orgulho estampado no rosto por ver uma das suas jogadoras incluídas no onze que marcou a história do futebol feminino em Portugal.

Por entre o som estridente dos festejos no átrio de chegadas do aeroporto, Andreia Norton, a marcadora do golo da seleção na Roménia, assumiu estar a viver "um misto de sensações muito grandes" e certamente inexplicáveis. E confirmou que "ninguém dormiu" desde que a árbitra apitou para o final do prolongamento. "Estávamos superemocionadas e supercontentes, por isso, quisemos todas aproveitar o momento", revelou, afinal, "foi um feito enorme para Portugal e para o futebol feminino."

"A nossa noite foi uma loucura! Festejámos ao máximo!", sublinhou a capitã Cláudia Neto, considerada a melhor jogadora nacional, que atua no Linköping, da Suécia. Habituada a outra realidade, deixou a certeza de que "a partir de agora as coisas vão mudar no futebol feminino nacional", embora ainda não queira pensar muito na fase final do Europeu: "Sabemos que vêm aí seleções muito fortes, mas vamos preparar esses jogos para estarmos a um bom nível."

Mónica Jorge, ex-futebolista e vice-presidente da Federação Portuguesa de Futebol, considerou este apuramento "uma homenagem a todas as jogadoras que passaram pela seleção", pedindo a "todos os clubes que tenham equipas de futebol feminino". Apontando ao Europeu apelou a "um sonho um bocadinho mais alto": "Chegámos lá com todo o mérito e vamos tentar passar a fase de grupos."

Um desafio que o selecionador Francisco Neto ainda não assumiu, preferindo lembrar "uma das páginas mais bonitas do futebol feminino em Portugal" e deixando um desafio: "Somos um país do futebol no masculino e, de certeza, seremos também no feminino."

Isto apesar de o caminho ser longo, afinal, a seleção nacional "é a única do pote 4 da qualificação que estará na fase final". "Um orgulho", sublinhou o treinador, sentimento partilhado pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo Sousa, que soube anteontem, à chegada a Cuba, deste feito. "Parabéns às nossas futebolistas! Este apuramento enche de orgulho todos os portugueses", escreveu na página oficial da Presidência.

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