Seis meses depois de naufragar, o Team Vestas terminou a corrida e voltou ao mar

Lágrimas e champanhe, ontem, na Doca de Pedrouços. O Team Vestas voltou finalmente à água, e brevemente a tripulação recomeçará a treinar.
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Seriam umas 16.10 em Lisboa, a 29 de novembro do ano passado, quando o Team Vestas, velejando a cerca de 20 nós, encalhou com toda a violência na barreira de recifes de uma ilhota deserta a nordeste da ilhas Maurícias, no oceano Índico. Percorria-se então a segunda etapa da Volvo Ocean Race (VOR), que ligou a Cidade do Cabo (África do Sul) ao Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos).

Ninguém se aleijou. Foi essa a única boa notícia da história. O desastre espantou os aficionados da prova. Como fora possível um erro humano deste calibre? Porque se tratou, conforme assumiu de imediato o skipper do barco, o australiano Chris Nicholson, de um erro humano, que se explica muito rapidamente: o navegador do barco, o holandês Wouter Werbraak - depois despedido - não fez suficiente zoom in no mapa digital do seu computador de bordo. E portanto não deu conta de que a rota do veleiro o levava diretamente para aquela ilhota do Índico. Segundo antes do primeiro estrondo, Chris Nicholson dizia à tripulação que navegavam num mar com uma profundidade de 40 metros. Iniciou-se então para o Team Vestas uma espécie de Volvo Ocean Race paralela, que ontem levou o barco de novo para a água. Falta agora começar a velejar. Se nenhuma outra tragédia acontecer, a equipa fará a 6 de junho a regata costeira em Lisboa; e depois fará as duas últimas etapas da prova: Lisboa-Lorient (França), com partida de Lisboa no dia 7 de junho; e Lorient-Haia (Holanda)-Gotemburgo (Suécia).

Eram 15.20, ontem, quando uma responsável da empresa patrocinadora do barco abriu na doca de Pedrouços o champanhe que celebrou o regresso do barco à água. Neil Cox, o australiano responsável pela equipa de terra, tinha tido o cuidado de, com o veleiro pendurado no ar por uma grua, lhe alinhar a proa para a enquadrar fotograficamente com a festiva abertura da garrafa de champanhe. Só faltou mesmo o skipper, Chris Nicholson, ausente em Madrid.

Não sendo o barco inteiramente novo, é-o na verdade a 90%. O casco foi feito do zero, dado os danos profundos sofridos no naufrágio. O mastro também é novo. E são estas suas "peças" novas que fazem do Team Vestas, agora, um barco praticamente a estrear.

Na comunidade que foi circulando pelo mundo inteiro a trabalhar para a VOR existe a convição de que a Vestas irá participar na VOR de 2017-2018. Oficialmente, ninguém o confirma. O que se sabe é que os veleiros atualmente concorrentes estão preparados para fazer mais duas campanhas. Por outro lado, a Vestas não é, na verdade, dona do que barco patrocina; a propriedade pertence à organização da prova, que tem com a empresa uma espécie de contrato ALD (aluguer de longa duração). O barco está hoje pintado com as cores da empresa ("blue is back", é o slogan da equipa) mas amanhã poderá estar pintado com as cores de um outro patrocinador - basta que apareça. Um VOR 65 - designação do veleiro de modelo único que todas as equipas tripulam - custa à volta de 4,5 milhões de euros.

A frota chegou na quarta-feira de manhã a Lisboa. Os tripulantes foram descansar, espalhados por hotéis e casas da cidade (o Team Mapfre, por exemplo, tem várias casas alugadas no Bairro Alto) e assim ninguém os vê na race village da doca de Pedrouços. Os barcos estão por conta agora dos mecânicos, instalados em terra em "berços" metálicos.

A exceção é, precisamente, a equipa do Team Vestas. Todos os tripulantes são por ora mecânicos também eles próprios, ajudando nos milhentos últimos preparativos antes da corrida se iniciar. O barco voltou à água, fez ontem testes de equilíbrio, e brevemente irá para o Tejo iniciar treinos.

A tripulação está notoriamente com ganas de esmagar a concorrência - mas Chris Nicholson, numa entrevista recente ao DN, fez questão de baixar expectativas, recordando que as outras tripulações têm todas elas já muitas milhas de rodagem enquanto a sua não.

Para o lugar do navegador Wouter Werbraak irá o australiano Tom Addis, um marinheiro com "lastro" académico em engenharia e matemática e já com duas VOR no currículo. Entretanto, o proa australiano Tom Johnson decidiu rumar à America"s Cup, integrando a equipa do Oracle Team USA. Foi substituído por um veterano da vela oceânica, o holandês Simeon Tienpont, que fez a edição 2005--2006 da Volvo Ocean Race.

O seu barco de então, o ABN AMRO TWO, salvou no Atlântico Norte, a tripulação do Movistar, que abandonou o barco no mar alto devido a gravíssimos problemas na quilha. Dessa equipa do Movistar fazia parte Chris Nicholson, que vai ser agora o skipper de Tienpont.

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