A recusa de alguns enfermeiros especialistas prestarem cuidados diferenciados provocou ontem problemas em vários blocos de partos um pouco por todo o país. No Hospital de Guimarães, a equipa médica manteve as grávidas, mas as que chegaram ao longo do dia foram transferidas para o Centro Materno-Infantil do Norte (CMIN). Segundo informou ao DN Bruno Reis, porta-voz do movimento dos enfermeiros especialistas em saúde materna e obstetrícia, no Hospital de Gaia registaram-se fortes constrangimentos, bem como nos hospitais de Amadora-Sintra, Aveiro, Setúbal e Évora. E até nos Açores, nove enfermeiros especialistas já comunicaram ao hospital de Ponta Delgada a indisponibilidade para darem assistência a partos..Ao longo do dia de ontem os receios das grávidas que se dirigiram ao Hospital de Gaia fez-se sentir. Sónia, de 40 anos e grávida de 37 semanas (na reta final da gestação), afirmou ao DN estar "um pouco receosa". "Eu não queria nada ter o parto noutro hospital. Já conheço todas as enfermeiras e a equipa médica e não me iria sentir confortável, mas já me garantiram que isso não ia acontecer. Faltam cerca de duas semanas para nascer o meu menino, mas pode acontecer a qualquer momento", contou Sónia, que mostrou apoio aos enfermeiros em protesto..As grávidas de Gaia, que ainda não tinham conhecimento dos constrangimentos provocados pelo movimento EESMO (Enfermeiros Especialistas em Saúde Materna e Obstetrícia), foram apanhadas de surpresa quando viram a maioria dos enfermeiros daquela unidade à porta do hospital. No entanto, ao que o DN apurou, foi--lhes dada a garantia de que não teriam de se dirigir a outra unidade hospitalar. "Aqui, a enfermeira--chefe assumiu o posto da colega que se recusou para evitar constrangimentos maiores. Trata-se de uma luta justa. Não é uma greve, mas um protesto e não é apenas uma questão de ordenado, nem de carreira, mas de reconhecimento. Os enfermeiros especialistas estão a prestar funções para as quais não foram contratados", defendeu Joana Gonçalves, enfermeira especialista do hospital de Gaia..Com ela encontravam-se à porta da unidade hospitalar muitos outros enfermeiros especialistas, do Porto, Braga e Aveiro. A eles juntou-se também o porta-voz do movimento EESMO e dirigente da Ordem dos Enfermeiros, Bruno Reis. Este último sublinhou a "elevada responsabilidade da função". "Há cerca de 8 anos que esta situação se mantém, aqui e um pouco por todo o país. Estes enfermeiros foram contratados como generalistas, quando na verdade são reconhecidos como especialistas." Diretores negam fechos.A meio da tarde de ontem, a administração do Centro Hospitalar do Baixo Vouga (CHBV) garantiu que o bloco de partos do hospital de Aveiro estava a funcionar, contrariando uma informação avançada pela Ordem dos Enfermeiros e fontes sindicais. Também o diretor do hospital de Guimarães garantiu que o bloco de partos "esteve a funcionar a 100%", apesar do protesto dos enfermeiros especializados, considerando que fechar colocaria em perigo duas vidas e seria um "retrocesso civilizacional"..Os protestos não têm data de término e irão manter-se, segundo o movimento EESMO, "até que o ministro da Saúde receba os enfermeiros especialistas e reveja a sua carreira". Segundo a Ordem dos Enfermeiros, que apoia os profissionais neste protesto, existem cerca de 2000 enfermeiros que, apesar de serem especialistas, recebem como se prestassem serviços de enfermagem comum.