Quando nesta segunda-feira de manhã chegar às mãos dos estudantes do ensino secundário o exame nacional de Filosofia do 11.º ano, a primeira de 22 disciplinas a exame até 27 de junho, o enunciado da prova já passou por várias fases, desde a elaboração, a impressão e a distribuição, em que o segredo e a segurança são essenciais..Com conhecimento concreto do conteúdo, das perguntas, há cerca de uma dúzia de pessoas, que estão obrigadas a confidencialidade, nem à família devem revelar a sua tarefa. Os computadores que usam nem estão ligados à internet. "O processo é feito com total sigilo e segurança. Os portugueses podem estar tranquilos, há equidade entre os alunos e igualdade nos critérios de classificação", disse ao DN Luís Pereira dos Santos, presidente do Instituto de Avaliação Educativa (IAVE), organismo, com autonomia técnica e pedagógica, que é responsável pela conceção dos testes..No total, o IAVE produz enunciados que resultam em mais de 450 mil provas só no ensino secundário, já que os alunos fazem mais de um exame. Estão inscritos mais de 150 mil estudantes. Somando as provas de aferição do ensino básico - para cerca de cem mil alunos, mas com um objetivo mais formativo - e outros exames, o IAVE é responsável "por mais de um milhão de provas por ano", refere o dirigente que assumiu o cargo em fevereiro passado, após vários anos no Júri Nacional de Exames. As provas no ensino secundário, 11.º e 12.º anos, começam nesta segunda-feira e prolongam-se até final do mês. Em julho realiza-se a segunda fase..O processo de exames começa meses antes. Durante mais de 20 semanas, um grupo de professores selecionados pelo IAVE trabalha em total sigilo na seleção de perguntas a fazer aos alunos em cada disciplina. "Os exames são elaborados por equipas de professores, em que há uma tendência de continuidade, com professores a terem já essa experiência de anos anteriores. A cada código de exame corresponde uma equipa, embora haja situações em que a mesma equipa assuma dois exames, por exemplo no caso de Espanhol Iniciação e Espanhol Continuação", explicou Luís Pereira dos Santos.Em cada equipa há três a cinco professores, sendo as disciplinas mais técnicas, como Biologia ou Fisico-Quimica, as que reúnem maior número de autores de provas. No total são mais de cem professores. "São convidados pelo IAVE e têm de, obrigatoriamente, dar aulas no secundário. É muito importante serem professores capacitados para a matéria que os alunos estudaram ao longo do ano, devem saber como o currículo está a ser desenvolvido nas escolas, como os professores têm dado a matéria e os alunos a recebem " , frisa o presidente do instituto. Há, portanto, professores que concebem exames que vão ser feitos depois pelos seus alunos..Assinam um contrato de confidencialidade e estão sujeitos a total sigilo, nem à família ou aos colegas devem contar que participam na elaboração dos exames (que decorre nas instalações do IAVE). Aqui, cada equipa tem a sua sala e um cofre para o material em elaboração. Não há troca de e-mails e o computador em que trabalham está desligado de qualquer rede. Se houver necessidade de envio pelo correio, existem envelopes invioláveis que são utilizados. Estes professores têm a mesma lista de impedimentos previstos no Código do Procedimento Administrativo e há mesmo um manual próprio em que estão descritas as regras. Não podem dar explicações, por exemplo..Fuga em Português nada mudou.O caso da fuga de informação no exame de Português do secundário, em junho de 2017, não é tido como uma falha do sistema. Envolveu a antiga presidente da Associação de Professores de Português, Edviges Ferreira, acusada de ter divulgado o conteúdo do exame, com a situação a vir a público após a divulgação por uma aluna no WhatsApp. Foi demitida pelo Ministério da Educação e enfrenta agora julgamento, em setembro próximo, acusada pelo Ministério Público dos crimes de violação de segredo por funcionário e de abuso de poder, ambos puníveis com pena de prisão até três anos.."Foi uma exceção, um caso muito pontual. Após ter acontecido, decidiu-se efetuar uma revisão dos procedimentos e concluiu-se que não havia necessidade de alterar. O que se distinguiu nessa situação foi o fator humano, e esse é sempre difícil de controlar. Estamos muito confortáveis com o sistema", avalia Luís Pereira dos Santos..Quando os enunciados estão definidos entra a fase de validação científica e auditoria, em que participam outros docentes, do ensino superior e das associações de professores de cada disciplina. "Em abril fica tudo pronto da parte do instituto no que toca à elaboração dos exames", aponta Luís Pereira dos Santos..A fase seguinte é a impressão. Os enunciados são entregues à Editorial do Ministério da Educação. "O IAVE acompanha sempre o processo, em situações como a verificação das provas depois de impressas. O ministério está preparado para realizar este trabalho com o máximo de sigilo", assegura o presidente do IAVE, já que "tem os instrumentos apropriados para manter a confidencialidade"..Com os milhares de cópias elaboradas e verificadas, segue-se a distribuição. Em Portugal, há muitos anos que a GNR e a PSP asseguram esta tarefa. Do ministério as provas são levantadas pelas polícias e levadas para os comandos distritais das polícias, onde permanecem "em local seguro" para no dia do exame serem transportadas e entregues, uma hora antes, nas escolas. "Tanto GNR como PSP têm já muita prática nesta tarefa e nunca houve problemas. Os exames vão em envelopes invioláveis, se houver violação de um envelope é imediatamente detetado", garante o dirigente. É feita então a entrega em cada escola, onde o professor responsável só irá abrir os exames quando for para distribuir aos alunos..Milhares de polícias distribuem nas escolas.O envolvimento das forças de segurança é comum a vários países europeus, apesar de nem todos seguirem essa opção, preferindo a via postal. Luís Pereira de Santos considera que esta distribuição "tem funcionado muito bem" e justifica-se "pela questão da segurança e pela logística pesada que envolve, com muitas escolas a serem pontos de exame"..São centenas de elementos - com os afetos a programas como o Escola Segura a terem apoio de outros guardas e agentes - e de viaturas policiais que estão envolvidos nesta distribuição dos exames, incluindo as provas de aferição dos 5.º e 8.º anos e a prova final do 9.º..No caso da GNR está em curso, desde 24 de maio, a Operação Cegonha, que só termina a 5 de agosto. Todos os anos, desde 2010, tem o nome de um pássaro. Já foi Chapim, Açor ou Gaio. Diz a GNR que tem por "objetivo o levantamento, transporte, guarda e entrega das provas de aferição/exame nacionais nos estabelecimentos de ensino credenciados e que, para o efeito, numa primeira fase, prevê o empenhamento dos comandos territoriais, com um eventual reforço da Unidade Nacional de Trânsito". Participam cerca de 350 militares das secções de Prevenção Criminal e Policiamento Comunitário, que nos dias de exame podem ser reforçados com elementos dos Postos Territoriais locais..Posteriormente à entrega e execução das provas, explica a GNR, "os Comandos Territoriais garantem o transporte das provas dos estabelecimentos de ensino para os estabelecimentos-sede de agrupamento de exames, bem como o seu regresso após a sua correção, assegurando ainda a vigilância e segurança durante os períodos em que as provas permanecerem nesses locais". Contactada pelo DN, a PSP não indicou, em tempo útil, o número de agentes que participam..O futuro será digital.A fase da correção já não é coordenada pelo IAVE, mas sim pelo Júri Nacional de Exames. "Temos aí um papel de orientação e de supervisão, para que haja resultados de qualidade", diz o responsável do instituto. São outros professores que corrigem os exame,s e existe mesmo um serviço online, um fórum de discussão em que os docentes envolvidos podem tirar dúvidas sobre matérias dos exames. Quando se chega ao final, em todo o processo, são "milhares de pessoas que participam para assegurar a qualidade e a segurança dos exames"..No que toca aos conteúdos - a parte mais sigilosa -, o presidente do IAVE refere que, numa linha já de continuidade, pretende-se que as provas reflitam cada vez mais os currículos ensinados ao longo do ano nas escolas, sem ficar pelo simples decorar da matéria. "É importante que desenvolvam as capacidades cognitivas, que os alunos tenham de pensar, de avaliar, para resolver bem." De resto, no processo de elaboração, "não há novidades em relação ao ano passado", em que foi introduzida a avaliação oral nas línguas estrangeiras e correu bem..Com o avanço tecnológico, o IAVE prepara já o futuro - mas a longo prazo. "Não será no futuro próximo, mas o suporte digital irá ser realidade. Haverá a desmaterialização total das provas. O IAVE já faz experimentação nesse sentido, tem o know-how e as aplicações necessárias. Mas devemos avançar com controlo, dar um passo de cada vez para que o sistema não estranhe", esclarece Luís Pereira dos Santos, que deixa uma certeza: "Não é para já.".Calendário dos exames nacionais do ensino secundário - 1.ª fase.17 de junho.Filosofia 11.º ano.18 de junho.Português 12.º ano Português Língua Segunda 12.º ano PLNM 12.º ano.Latim A 11.º ano.19 de junho.Física e Química A 11.º ano Geografia A 11.º ano.21 de junho.História A 12.º ano.História B 11.º ano História da Cultura e das Artes 11.º ano.25 de junho.Matemática A 12.º ano.Matemática B 11.º ano Matemática Aplicada às Ciências Sociais 11.º ano.26 de junho.Desenho A 12.º ano.Biologia e Geologia 11.º ano Inglês 11.º ano Francês 11.º ano.27 de junho.Geometria Descritiva A 11.º ano Literatura Portuguesa 11.º ano Economia A 11.º ano