"O senhor vê na televisão o programa político eleitoral do presidente, tudo colorido, todos contentes, artistas milionários, se é essa a sua realidade, então vote neles, PT, PMDB, PSDB, PRTB, qualquer P, sempre estiveram juntos, é falsa a briga deles, agora se o senhor não aguenta mais ver menor abandonado na rua, as drogas, os crimes, tudo o que não presta aumentando, se você quiser expulsar para sempre esses patifes do poder, só existe uma opção, 56, o senhor nunca me viu junto com nenhum deles e comigo o senhor vai ficar livre de todos eles, o meu nome é Enéas 56.".Não é difícil ler o parágrafo atrás. Mas experimente fazê-lo em 15 segundos. Essa era a mais notável de todas as virtudes de Enéas Carneiro, o fundador do Partido da Reedificação da Ordem Nacional, PRONA, e candidato a presidente nas eleições de 1989, 1994 e 1998. Nos seus curtíssimos tempos de antena, nos quais falava necessariamente ao ritmo de uma metralhadora, conseguia atacar os rivais, explicar as bases do seu programa nacionalista, populista e conservador e ainda tornar-se identificável graças ao remate "o meu nome é Enéas"..Na Áustria, os jogadores do Rapid Viena sabem exatamente quando falta um quarto de hora para acabar a partida porque, desde 1913, os seus adeptos, a cada jogo, em casa ou fora, começam a bater palmas ritmadas por essa altura a pedir um último esforço, o Rapid Viertelstrunde, espécie de nova unidade de tempo; e os habitantes de Königsberg acertavam os relógios pelo passeio vespertino de Immanuel Kant, sempre, metódica e impreterivelmente, às 15.30, como se fosse a Hora Kant..Pois no Brasil, além de milénios, séculos, décadas, anos, semestres, quadrimestres, trimestres, bimestres, quinzenas, semanas, dias, horas, minutos e segundos há uma outra unidade: o tempo Enéas ou padrão Enéas de propaganda. O personagem, falecido em 2007, e a unidade temporal que ele inaugurou voltaram em força ao noticiário porque a maioria dos pretendentes ao Palácio do Planalto em 2018 tem "tempo Enéas". Não apenas os candidatos 0% do costume mas também, e esse é o ponto, um dos favoritos..Jair Bolsonaro, líder das sondagens que excluem Lula da Silva (PT), tem nove segundos, 40% a menos do que o padrão Enéas e uma ínfima parte dos 5:33 minutos à disposição de Geraldo Alckmin, que ganhou todo esse tempo ao coligar-se com o infame Blocão, um conjunto de cinco partidos oportunistas. O capitão do Exército dispõe, por outro lado, de meras dez inserções de 30 segundos ao longo dos 35 dias de campanha; Alckmin, 364..A solução para contrariar essa disparidade - que resulta do facto de os partidos valerem o seu tamanho parlamentar em tempo de antena e do PSL, que abriga Bolsonaro, ser pequenino - está na rede. Além de páginas de Facebook, Instagram e Twitter, a campanha criou um canal de vídeos chamado TV Bolsonaro, ideia de Flávio Bolsonaro, filho do candidato. Outro filho, Eduardo Bolsonaro, afirmou que a candidatura vai aproveitar conselhos gratuitos de Steve Bannon, estratega e ex-amigo de Donald Trump..A força da televisão nas campanhas mede-se em factos: em 2002, José Serra (PSDB) divulgou no seu tempo de antena um áudio em que Ciro Gomes chamava um ouvinte de uma rádio de "burro", e o hoje candidato pelo PDT não se recuperou. Na eleição passada, João Santana, o marqueteiro de Dilma Rousseff (PT) entretanto detido na Lava-Jato, usou a propaganda na TV para mostrar Marina Silva, em subida nas sondagens, a sorrir ao lado de banqueiros enquanto evaporavam pratos de comida da mesa das famílias - a hoje cabeça-de-lista pelo Rede nem chegaria à segunda volta..Outra má notícia para Bolsonaro: nas sete eleições presidenciais desde a redemocratização, em quatro ganhou o candidato com maior tempo de antena - Fernando Henrique Cardoso (PSDB), duas vezes, e Dilma, outras tantas - e em duas o segundo com mais espaço na TV - Lula..Em 1989, porém, o outsider Collor de Mello (PRN) bateu candidatos com muito mais exposição e Enéas, apesar da bizarrice, começou a pavimentar ali o terreno que o levaria a um terceiro e um quarto lugares nos dois sufrágios seguintes. E as eleições atuais, dizem, são copiadas a papel químico das de 1989..São Paulo
"O senhor vê na televisão o programa político eleitoral do presidente, tudo colorido, todos contentes, artistas milionários, se é essa a sua realidade, então vote neles, PT, PMDB, PSDB, PRTB, qualquer P, sempre estiveram juntos, é falsa a briga deles, agora se o senhor não aguenta mais ver menor abandonado na rua, as drogas, os crimes, tudo o que não presta aumentando, se você quiser expulsar para sempre esses patifes do poder, só existe uma opção, 56, o senhor nunca me viu junto com nenhum deles e comigo o senhor vai ficar livre de todos eles, o meu nome é Enéas 56.".Não é difícil ler o parágrafo atrás. Mas experimente fazê-lo em 15 segundos. Essa era a mais notável de todas as virtudes de Enéas Carneiro, o fundador do Partido da Reedificação da Ordem Nacional, PRONA, e candidato a presidente nas eleições de 1989, 1994 e 1998. Nos seus curtíssimos tempos de antena, nos quais falava necessariamente ao ritmo de uma metralhadora, conseguia atacar os rivais, explicar as bases do seu programa nacionalista, populista e conservador e ainda tornar-se identificável graças ao remate "o meu nome é Enéas"..Na Áustria, os jogadores do Rapid Viena sabem exatamente quando falta um quarto de hora para acabar a partida porque, desde 1913, os seus adeptos, a cada jogo, em casa ou fora, começam a bater palmas ritmadas por essa altura a pedir um último esforço, o Rapid Viertelstrunde, espécie de nova unidade de tempo; e os habitantes de Königsberg acertavam os relógios pelo passeio vespertino de Immanuel Kant, sempre, metódica e impreterivelmente, às 15.30, como se fosse a Hora Kant..Pois no Brasil, além de milénios, séculos, décadas, anos, semestres, quadrimestres, trimestres, bimestres, quinzenas, semanas, dias, horas, minutos e segundos há uma outra unidade: o tempo Enéas ou padrão Enéas de propaganda. O personagem, falecido em 2007, e a unidade temporal que ele inaugurou voltaram em força ao noticiário porque a maioria dos pretendentes ao Palácio do Planalto em 2018 tem "tempo Enéas". Não apenas os candidatos 0% do costume mas também, e esse é o ponto, um dos favoritos..Jair Bolsonaro, líder das sondagens que excluem Lula da Silva (PT), tem nove segundos, 40% a menos do que o padrão Enéas e uma ínfima parte dos 5:33 minutos à disposição de Geraldo Alckmin, que ganhou todo esse tempo ao coligar-se com o infame Blocão, um conjunto de cinco partidos oportunistas. O capitão do Exército dispõe, por outro lado, de meras dez inserções de 30 segundos ao longo dos 35 dias de campanha; Alckmin, 364..A solução para contrariar essa disparidade - que resulta do facto de os partidos valerem o seu tamanho parlamentar em tempo de antena e do PSL, que abriga Bolsonaro, ser pequenino - está na rede. Além de páginas de Facebook, Instagram e Twitter, a campanha criou um canal de vídeos chamado TV Bolsonaro, ideia de Flávio Bolsonaro, filho do candidato. Outro filho, Eduardo Bolsonaro, afirmou que a candidatura vai aproveitar conselhos gratuitos de Steve Bannon, estratega e ex-amigo de Donald Trump..A força da televisão nas campanhas mede-se em factos: em 2002, José Serra (PSDB) divulgou no seu tempo de antena um áudio em que Ciro Gomes chamava um ouvinte de uma rádio de "burro", e o hoje candidato pelo PDT não se recuperou. Na eleição passada, João Santana, o marqueteiro de Dilma Rousseff (PT) entretanto detido na Lava-Jato, usou a propaganda na TV para mostrar Marina Silva, em subida nas sondagens, a sorrir ao lado de banqueiros enquanto evaporavam pratos de comida da mesa das famílias - a hoje cabeça-de-lista pelo Rede nem chegaria à segunda volta..Outra má notícia para Bolsonaro: nas sete eleições presidenciais desde a redemocratização, em quatro ganhou o candidato com maior tempo de antena - Fernando Henrique Cardoso (PSDB), duas vezes, e Dilma, outras tantas - e em duas o segundo com mais espaço na TV - Lula..Em 1989, porém, o outsider Collor de Mello (PRN) bateu candidatos com muito mais exposição e Enéas, apesar da bizarrice, começou a pavimentar ali o terreno que o levaria a um terceiro e um quarto lugares nos dois sufrágios seguintes. E as eleições atuais, dizem, são copiadas a papel químico das de 1989..São Paulo