Ségolène

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Ségolène Royal saiu ontem mais cedo de um debate entre os pré-candidatos socialistas às presidenciais francesas de Maio e voou para Madrid, onde se fez fotografar ao lado de Zapatero e elegeu o modelo de paridade espanhol como o exemplo a seguir em toda a Europa.

A vida de Ségolène Royal tem sido assim nos últimos tempos. Só esta semana já esteve em Bruxelas, onde se fez fotografar ao lado de Durão Barroso e Josep Borrel, e em Roma, para um encontro muito mediático com Romano Prodi. A mesma semana em que, de resto, foi capa da edição europeia da Time.

Ou seja, Ségolène faz tudo o que os barões do seu partido criticam. Tem pouca paciência para debates - compreensivelmente, a conversa de on-tem entre os outros seis pré-candidatos do PS, à volta de uns vagos valores socialistas, deveria aborrecê-la de morte... -, adora fazer-se fotografar elegantemente vestida e não hesita em utilizar o charme feminino na luta eleitoral. Como dizem os especialistas em marketing, "não estamos perante uma mulher que finge ser homem".

Os périplos pelo estrangeiro estão a dar frutos, já que a elite europeia começa a tratá-la como a mais séria candidata a defrontar o mais que provável Nicolas Sarkozy na luta pela sucessão de Jacques Chirac.

Mas Ségolène sabe que as eleições se ganham em casa e que - esse é o seu drama actual - antes de se ganharem em França terão de ser ganhas no partido.

Nos próximos dois meses, os socialistas vão envolver-se numa luta viva pela candidatura, incluindo duas voltas eleitorais pelos militantes.

Ségolène surge à frente nas sondagens, mas nessa batalha interna terá de defrontar os barões de um partido dominado por homens e militantes reticentes ao seu desprezo pelas ideologias e pelas soluções normalizadas.

As suas ideias sobre a segurança, a educação, o casamento entre homossexuais ou a lei das 35 horas estarão mais próximas do pragmatismo da nova geração de líderes socialistas europeus no poder do que da rigidez ideológica e discurso datado responsáveis pelas derrotas do PSF nos últimos anos.

Garantir a candidatura (e depois a eleição), sem abdicar das suas ideias, mas não hipotecando os apoios da esquerda (num país em que o paradigma esquerda/direita ainda é operacional), é o grande desafio de Ségolène Royal. Não vai ser fácil.

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