Se sair, Reino Unido fica fora do mercado comum, diz Schäuble
"Por favor, não vás!" pode ler-se na capa da última edição da revista Der Spiegel. Lá dentro, numa longa entrevista centrada no referendo de dia 23 sobre a saída do Reino Unido da União Europeia, o ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, garante que se os britânicos escolherem a saída, o chamado brexit, o país perderá o acesso ao mercado único europeu.
Com alguns apoiantes do brexit convencidos que depois da saída, o Reino Unido poderá passar a beneficiar de um estatuto semelhante ao da Suíça ou Noruega - que apesar de não serem membros da UE gozam dos benefícios do mercado único -, Schäuble foi muito claro: "Isso não funciona assim. Implicaria que o país se regesse pelas regras de um clube que quis abandonar".
Visto como uma das figuras mais influentes da União Europeia, Schäuble era tido como um dos políticos mais abertos a renegociar com Londres um estatuto de membros associado, após uma eventual saída. Mas esta entrevista dá uma ideia bem diferente. "Se a maioria dos britânicos optar pelo brexit, estarão a tomar uma decisão contra o mercado único. Dentro é dentro. Fora é fora. Temos de respeitar a soberania do povo britânico", garantiu o ministro alemão.
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Segundo o The Guardian, alguns deputados e membros do governo estariam a ponderar a hipótese de, caso vença o brexit, optarem por usar a sua maioria parlamentar para manter o acesso ao mercado único. Para tal, a primeira medida seria ficar no Espaço Económico Europeu, a que pertencem Noruega, Liechtenstein e Islândia. O mercado único, a que pertence a Suíça, implica ainda a liberdade de movimento de pessoas, bens e serviços.
Os apoiantes da saída garantem que manter o Reino Unido no mercado livre seria do interesse da Alemanha, uma vez que o mercado britânico é o terceiro para o sector automóvel alemão. Ao todo, 7% das exportações alemãs têm como destino o Reino Unido.
Quanto a um possível efeito dominó caso os britânicos optem mesmo pela saída, Schäuble admite que é uma possibilidade. "Como vai reagir a Holanda que sempre teve uma forte ligação ao Reino Unido? É importante que a UE passe a mensagem que entendeu o voto e está disposta a aprender com ele", explicou o ministro.
Campanha trabalhista
Com o primeiro-ministro David Cameron e o ministro das Finanças, George Osborne, nas cerimónias dos 90 anos da Rainha Isabel II, a campanha esteve ontem concentrada nos trabalhistas. Os ex-líder do Labour Ed Miliband pediu aos eleitores para não usarem o referendo como um voto de protesto contra os conservadores. Já o atual vice-líder dos trabalhistas, Tom Watson alertou que um orçamento pós-brexit iria "prejudicar muito a classe trabalhadora", garantindo que o Labour está unido na defesa da permanência do Reino Unido na UE.
Ao fim da tarde, o Independent revelou uma sondagem que dá ao brexit dez pontos de vantagem em relação ao ficar - 55% contra 45%.
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