"Se perder, sairei". Geringonça nunca. Rio?
1. Não sei quanto custa a estratégia de "spin doctor" ao PS, mas é dinheiro deitado ao lixo. A António Costa bastaria ser o homem de Estado, fazer menos promessas, não reagir a tudo o que mexe, e talvez as pessoas percebessem que também tem o perfil do homem sério. Os homens sérios comprometem-se com pouco e debatem ainda menos. Cavaco mandava os opositores falarem sozinhos. Já o líder do PS vai a todas (incluindo o humilde debate da rádio), atira pedradas como um adolescente irrequieto e pede uma maioria impossível. E se não a conseguir, sai. Ou melhor - isso foi ao princípio. Agora, à Guterres, talvez fique. E, portanto, não se sabendo muito se fica ou não fica, o povo está a descobrir o outro senhor, mais comedido e remediado nas promessas, seguindo o perfil sóbrio de Cavaco e Passos, onde a contenção era uma ideologia. O PS está a construir um caso de estudo de como governar razoavelmente durante seis anos e perder tudo num mês.
Porque, como já sobejamente foi dito pelo próprio, mais um voto em Rio que em Costa, e o chefe do Governo sai pela porta (pequena). Mesmo que a esquerda seja maioritária. A pergunta é: porquê? Hipótese: António Costa não acredita no futuro do país governado por uma geringonça onde estejam este PCP e este Bloco. Parece mesmo preferir que o PSD tome conta disto.
A procura da tal "estabilidade" que que nos levou para eleições resulta assim nas contas de hoje: não há maioria PS à vista, não há geringonça porque Costa não quer, não há ecogeringonça porque o PS não cresce, pode nem sequer haver vitória do PS e Costa sai, não há maioria de Rio, não há maioria à direita, ou há mas necessita do apoio parlamentar do Chega (será que na hora decisiva o Chega não veste a pele do partido responsável?).
António Costa colocou-se no ponto de mira: todos ganham se ele perder, mesmo que não ganhem nada de substancial, à exceção de Rui Rio. Para um país que corre atrás da bazuca do crescimento, a ingovernabilidade é o pior dos cenários. Mas o líder do PS, que também é primeiro-ministro, sabe isso melhor do que ninguém. E parece não gostar da ideia de Pedro Nuno Santos (PNS) pegar na geringonça e tornar Portugal no país mais à esquerda de toda a Europa. Isto, mesmo que doa a Costa a ideia de um SNS menos público, ou de uma Segurança Social menos capitalizada. Porquê? Quem vive no convento é que sabe o que vai lá dentro. E António Costa diz-nos, de forma ensurdecedora, GERINGONÇA NÃO! Prefere sair a viver mais aquele sequestro.
Quando PNS diz a Rio "se acha que sou um papão vote em Costa", Costa parece dizer "se não votarem em mim, é melhor Rio que a esquerda da geringonça com PNS".
Faltam sete dias. Uma eternidade para os socialistas.
2. Perante o tsunami em curso, um autoteste positivo pode ter de aguardar por três ou mais dias para se encontrar um laboratório disponível para teste PCR. Ou uma urgência de hospital, criando o caos. Ora, para quê manter os cinco dias de isolamento em vez dos sete, como fizeram já muitos países? Mesmo que fossem decretados apenas cinco dias de isolamento, eles representam efetivamente mais. Como habitualmente, a DGS e o Ministério da Saúde veem o mundo pela janela do gabinete e não compreendem que o facto do país estar a funcionar é um milagre. Sim, cinco dias chegam. Urgente! Antes que o país pare. O vírus estará cá para sempre.
Jornalista