"Se matam a galinha, não têm os ovos de ouro"
A Baixa tem visto alguns dos seus edifícios reabilitados. Mas acabam por ser hotéis. Esta reconstrução é positiva ou negativa?
Todo o investimento na reabilitação do edificado para ser dedicado à indústria hoteleira tem o mérito de reabilitar edifícios, para os quais não havia recursos para renovar. Também tem um lado mais complicado, pois o tipo de intervenção sobretudo associado a um determinado investimento, é um retrocesso do repovoamento da Baixa que se verificava desde 2007.
A reconversão está a tirar pessoas da Baixa?
Esta reconversão está a provocar um êxodo de população e como presidente da junta só posso dizer que é preocupante, primeiro porque o território perde identidade. Depois se regressarmos ou entrarmos num paradigma de que a Baixa não é habitada, volta a insegurança e outros fenómenos que não queríamos que voltassem.
Acha que é preciso definir limites ao alojamento local?
Para os alojamentos locais é evidente que é preciso definir essa quota. Para os hotéis não tenho dados para concluir isso. Agora temos de associar isto à lei das rendas, muito agravada para os residentes, caiu como sopa no mel junto dos investidores, porque têm um instrumento muito expedito para retirar pessoas desta zona. Já não basta ter rendas em atraso, podem ser despejados porque o proprietário quer fazer obras e não há nada que proteja os arrendatários. Recebem comunicações a dizer que têm de se ir embora, pois o prédio foi vendido.
Saem as pessoas e a Baixa perde identidade...
O território fica despovoado e perde autenticidade, até tento passar a mensagem aos investidores do turismo - porque também faz falta este investimento - de que no dia em que o território perder autenticidade, perde turistas. Esta é uma parte que as pessoas deviam meditar, quem investe. Se matam a galinha, já não têm ovos de ouro.