Venha o 16:9/SD
Sejamos claros: a única razão por que a SIC e a TVI não pagam mais cara a insistência no formato 4:3 é a falta de discernimento plástico de uma gigantesca franja dos telespectadores portugueses.
Lembro-me de, no início do século, quando aparecerem os primeiros ecrãs planos, entrar em casa de amigos mais endinheirados, suspirar: "Mas, caramba, essa imagem está mal..." e receber como resposta: "Como assim, mal?!" Pensei então: "Bom, não vale a pena explicar. Mais cedo ou mais tarde, os próprios canais resolvem o problema - e pronto."
Não resolveram. Pelo menos alguns não resolveram. A SIC e a TVI, por exemplo, continuam a emitir em 4:3 e a ser vistos em 16:9. Manuel Luís Goucha e Cristina Ferreira decidiram, bem ao seu jeito, brincar com o problema, pedindo a extinção, não do formato 4:3, mas dos ecrãs 16:9, de maneira a deixarem de parecer gordos. E, de facto, bem podiam ter aproveitado os dois canais para celebrarem o 20.º aniversário com o arranque das emissões em formato proporcional, ainda que mantendo a resolução SD.
Mas não: a SIC já fez anos e nada, a TVI está a fazer e ainda não anunciou medidas. Aparentemente, tanto a estação de Carnaxide como a de Queluz de Baixo acreditam que não faz sentido avançar com a imagem distendida enquanto não lhes for possível emitir em full HD.
É um absurdo. Nem toda a gente se apercebe dos problemas de proporcionalidade da imagem, mas seguramente muito menos gente se dá conta das nuances de pixilização. O 16:9/HD é o ideal, claro. Mas o 16:9/SD seria, apesar de tudo, um vago conforto. Continuar simplesmente com o 4:3 não passa de um gesto de enorme condescendência sobre o espectador.