Schroder vai continuar no partido do governo alemão apesar dos laços com Putin
O ex-chanceler alemão Gerhard Schroder escapou esta segunda-feira de ser humilhantemente expulso do seu partido, já que os social-democratas (SPD) no poder decidiram que os laços do ex-governante com Vladimir Putin não violavam as regras do partido.
Schroder, de 78 anos, está sob crescentes críticas desde a invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro por causa da longa amizade com Putin e das suas ligações com empresas de energia russas.
A filial do SPD em Hannover, onde a sua filiação está registada, abriu uma audiência em julho para discutir 17 moções contra a sua filiação atual ao partido, mas anunciou esta segunda-feira que o ex-chanceler "não é culpado de uma violação das regras do partido, pois nenhuma violação pode ser provada".
A decisão pode ser alvo de recurso, mas especialistas jurídicos dizem que há grandes obstáculos para a expulsão de membros.
Schroder, chanceler de 1998 a 2005, recusou-se a virar as costas ao presidente russo, apesar da guerra na Ucrânia. A sua postura tornou-o num constrangimento para o SPD, que também é o partido do chanceler Olaf Scholz.
Schroder também foi amplamente criticado por ocupar vários cargos lucrativos em gigantes empresas russas da área energética e foi apenas depois de muita pressão pública que desistiu em maio do seu lugar no conselho do grupo russo de energia Rosneft. Mais tarde, também anunciou que não se juntaria ao conselho de supervisão da Gazprom como planeado inicialmente.
Em maio, o parlamento alemão removeu algumas das regalias a que Schroder tinha direito como ex-chanceler, deixando-o sem gabinete nem funcionários.
Mas Schroder, que foi o antecessor imediato de Angela Merkel, continua a ser desafiador, ao ponto de se ter encontrado com Putin em Moscovo, em julho. Após a visita, o ex-chanceler afirmou que a Rússia queria uma "solução negociada" para a guerra na Ucrânia, comentários considerados como "repugnantes" pelo presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.
Schroder também pediu a Berlim que reconsidere a sua posição sobre o gasoduto Nord Stream 2, que está concluído mas que foi bloqueado pelo governo alemão no período que antecedeu a invasão da Ucrânia.
O deputado da oposição Thorsten Frei, do partido de centro-direita CDU, disse que a decisão de não expulsar Schoreder do SPD foi "má" para esse partido mas "também má" para toda a Alemanha. "Esta decisão é muito surpreendente para mim. E também é bastante inacreditável tendo em conta o que vimos de Gerhard Schroder nas últimas semanas e meses", afirmou à televisão Die Welt.
O líder do SPD, Lars Klingbeil, disse que a decisão da filial de Hannover foi apenas uma decisão legal, garantindo que Schroder está "isolado" dentro do SPD devido às posições que tem tomado.
O SPD da Alemanha tem historicamente defendido laços estreitos com a Rússia, que tiveram origem na política "Ostpolitik" de reaproximação e diálogo com a então União Soviética, idealizada pelo ex-chanceler do SPD Willy Brandt na década de 1970.
Algumas das principais figuras do SPD, incluindo o atual presidente Frank-Walter Steinmeier, um ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, têm enfrentado crescente escrutínio desde a invasão da Ucrânia pela Rússia.
Uma sondagem publicada pelo jornal Bild no domingo colocou o SPD em terceiro lugar nas intenções de voto, atrás dos conservadores e dos verdes.