Sanders não desiste: "Para vencermos precisamos de ganhar os eleitores que representam o futuro"

O senador independente está em desvantagem e as sondagens não são animadoras, mas quer pelo menos debater no domingo com Joe Biden.
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Bernie Sanders disse que vai prosseguir com a sua campanha nas primárias democratas, apesar da desvantagem em que se encontra e de várias declarações a pedir para a sua campanha ficar pelo caminho. O senador independente garantiu que vai continuar pelo menos o tempo suficiente para debater com Joe Biden no domingo para tentar forçá-lo a responder a questões sobre a sua agenda política.

As declarações surgiram depois de não ter reagido, na terça-feira à noite, a uma derrota em toda a linha no Michigan, mas também no Missouri, no Idaho e no Mississípi. Sanders venceu no Dakota do Norte e no estado de Washington, apurados 67% dos votos, seguia na frente com décimas de vantagem.

Apenas duas semanas depois de ter perdido o estatuto de primeiro classificado na corrida, o senador não deu mais pormenores sobre como pode ser a sua campanha antes ou depois de comparecer, no domingo à noite, com Joe Biden em Phoenix, Arizona, para o 11.º debate entre democratas. Ou seja, na declaração proferida na sede da campanha, em Burlington, Vermont, Sanders não esclareceu quanto tempo vai permanecer na corrida, quando dois dias depois há eleições nos estados de Florida, Arizona, Ohio e Illinois e 577 delegados em jogo.

Sanders reconheceu que está a correr mal a campanha para eleger delegados suficientes - 1991, e neste momento tem 710, menos 150 do que Joe Biden - para garantir a nomeação na Convenção Nacional Democrata em Milwaukee, em julho. "Embora a nossa campanha tenha ganho o debate ideológico, estamos a perder o debate sobre a elegibilidade", disse Sanders, o que significa que os democratas pensam que Biden tem mais hipóteses de vencer o presidente Donald Trump no outono. "É nisso que milhões de democratas e independentes acreditam hoje."

Sanders quer questionar Biden

Sanders prometeu questionar Biden sobre milhões de norte-americanos que não têm seguro de saúde. "Joe, o que vais fazer pelas 500 mil pessoas que vão à falência no nosso país por causa das dívidas relacionadas com a saúde? E o que vais fazer pelos trabalhadores deste país e pelos pequenos empresários que pagam em média 20% dos seus rendimentos aos cuidados de saúde?" Outros temas que quer levar a debate são a justiça, que alega punir as minorias, o aumento do salário mínimo, as alterações climáticas, o acesso à universidade e a desigualdade de rendimentos.

"Joe, e o mais importante, o que vais fazer para acabar com o absurdo de bilionários comprarem eleições e de as três pessoas mais ricas da América possuírem mais riqueza do que a metade mais pobre do nosso povo?"

Sanders observou ter obtido uma percentagem maior de jovens eleitores, enquanto Biden continua a ser favorecido pelos mais velhos. "Hoje eu digo ao establishment democrata que, para vencer no futuro, precisamos de vencer os eleitores que representam o futuro do nosso país", disse Sanders. "Simplesmente não se pode ficar satisfeito por ganhar os votos das pessoas mais velhas."

Sanders atrai muito mais eleitores com menos de 30 anos do que Biden, mas falhou a estratégia de levá-los às urnas em grande número. No Michigan e no Missouri também não mostrou apelo suficiente nos eleitores de 30 a 44 anos, por norma uma fatia maior de votos do que os mais jovens.

Sanders, de 78 anos, não é homem para desistir. Em 2016, não saiu da corrida quando já não era possível vencer matematicamente. E em 2019 sofreu um ataque cardíaco a meio da campanha, mas retomou-a. E os seus apoiantes - e não só - querem que continue em campo. Por exemplo, Ayanna Pressley (uma das quatro novas representantes do denominado Esquadrão, ao lado de Alexandria Ocasio-Cortez, Rashida Tlaib e Ilhan Omar), que apoiava a candidatura de Elizabeth Warren, disse que é essencial um debate público sobre temas como o fosso de riqueza entre brancos e negros, imigração, minorias, saúde sexual, etc.

Também um comité que estava do lado de Warren, Progressive Change Campaign, disse que Sanders deve ir ao debate para impedir "uma coroação rápida de Biden".

A representante Pramila Jayapal lembrou que uma desistência neste momento de Sanders pode afastar os seus eleitores, os mais jovens, mais à esquerda e uma percentagem elevada de latinos. "Acho que não podemos ignorar a divisão geracional", disse Jayapal à NPR. "As suas ideias precisam de ser acolhidas e nós precisamos de suscitar um entusiasmo para que as pessoas votem não só a partir do medo, mas também da esperança."

Trump, adversário comum

Bernie Sanders reiterou que o inimigo comum é Donald Trump. "É o presidente mais perigoso da história moderna do nosso país e deve ser derrotado. Tragicamente, temos um presidente que é um mentiroso patológico e dirige um governo corrupto. Obviamente, não compreende a constituição dos EUA e pensa que é um presidente que está acima da lei."

"Donald Trump deve ser derrotado e eu farei tudo ao meu alcance para que isso aconteça. No domingo à noite, no primeiro debate individual desta campanha, o povo americano terá a oportunidade de ver qual candidato está mais posicionado para alcançar esse objetivo", concluiu.

Na noite de terça-feira, Joe Biden também assestou baterias contra Trump, ao mesmo tempo que prometeu devolver a "alma da nação" e enviou uma mensagem de "liderança reconfortante", num momento em que parte do país mostra preocupação com a gestão da Casa Branca relativa ao novo coronavírus, que ultrapassou os mil casos e provocou 28 mortes.

"Acredito que esta nação pode superar quatro anos de Donald Trump, mas oito... mais quatro anos podem mudar para sempre e de forma fundamental o próprio caráter desta nação. Não podemos deixar que isso aconteça", disse Biden.

Biden também fez questão de estender a mão a Sanders e aos seus apoiantes, dizendo que precisava do apoio daqueles que apoiavam todos os seus rivais. "Quero agradecer a Bernie Sanders e seus apoiantes pela sua energia incansável e a sua paixão", disse Biden, que acrescentou: "Partilhamos um objetivo comum e juntos derrotaremos Donald Trump."

Os resultados das primárias reforçam a dinâmica de vitória de Biden, iniciada com a vitória na Carolina do Sul e acentuada na super terça-feira, com os eleitores democratas reunidos em torno de um candidato que consideram poder vencer Trump neste outono.

O Michigan foi o mais duro golpe a Sanders. Considerado um swing state (estado pendular) que votou em Trump em 2016 e onde Sanders superou Hillary Clinton nas primárias democratas, é um dos estados cruciais para a definição do candidato dos democratas.

No estado rural do Missouri, um estado rural do centro do país, Biden derrotou Sanders por quase 25%, mas foi no Mississípi que a vitória foi esmagadora: recebeu quase 80% dos votos, o que é reflexo da sua popularidade entre os eleitores negros.

"Linha reta para a nomeação"

Com vários democratas a pedir a desistência de Sanders, Biden recebeu um apoio de peso, o de um importante comité de recolha de fundos. "A aritmética dos delegados é agora uma linha reta para a nomeação de Joe Biden", disse o presidente do Priorities USA, Guy Cecil, à NPR. "Por isso vamos fazer tudo o que pudermos para o ajudar tendo em vista [as eleições de] novembro."

Para agravar o quadro de Sanders, nas próximas primárias, a decorrer na terça-feira, as sondagens não lhe são favoráveis. Na Florida, é esperada uma enorme vitória de Biden (61% contra 25% de Sanders); no Ilinóis e no Arizona as sondagens são semelhantes (Biden com 53% e 51% contra 31% e 32%, e por fim no Ohio com 54% contra 36% de Sanders.

Em sondagens realizadas noutros três estados (Geórgia, Wisconsin e Pensilvânia), a vitória também parece certa para Biden, que recebeu os apoios da grande maioria dos ex-candidatos.

De acordo com a última sondagem da CNN, em termos nacionais Joe Biden tem 53% de intenções de voto contra 43% de Donald Trump, enquanto num cenário entre Bernie Sanders e o candidato republicano, o senador recebe 52% e Trump 45%.

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