Há sondagens que mostram que Pedro Sánchez poderá não precisar dos independentistas catalães para governar. É o melhor cenário para os socialistas? Sánchez está a apostar na divisão da direita porque quanto mais dividido estiver esse eleitorado menos provável é uma maioria de direita, algo longe de poder ser excluído. Para Sánchez, é muito mais confortável depender apenas do Podemos e do Partido Nacionalista Basco. Sánchez foge como o diabo da cruz do apoio dos independentistas, sobretudo de [Carles] Puigdemont, do Junts per Catalunya, mas também da Esquerda Republicana da Catalunha [ERC], porque isso beneficia o discurso da direita de o associar ao que consideram um golpe de Estado. A posição mais confortável é depender apenas do Podemos, uma vez que o Ciudadanos já disse que não quer governar com o PSOE, e do Partido Nacionalista Basco..Apesar de serem nacionalistas, não representam o perigo dos catalães... Já tiveram em tempo, mas neste momento está totalmente excluída qualquer deriva desse género no País Basco. Enquanto não tivermos o resultado das últimas sondagens, e é preciso ver que na última semana de campanha não se podem fazer sondagens, enquanto não tivermos o debate de segunda ou terça-feira, sem o Vox porque a Junta Eleitoral não o permitiu, não saberemos mais. O que realçaria nesta etapa é que Sánchez foge de qualquer associação com o nacionalismo catalão porque isso permite à direita o crescimento do nacionalismo espanhol e um discurso que o associa a quem pôs em causa o Estado espanhol..Foram os catalães que forçaram Sánchez a antecipar as eleições, ao não aprovar o Orçamento. Se agora ele não precisar deles, que força terão? O nacionalismo catalão está dividido em dois e há uma fratura cada vez mais acentuada entre a antiga Convergência e União, o partido de Puigdemont, e a Esquerda Republicana. Porque a ERC considera que a atitude do seu líder [Oriol Junqueras] ao não ter fugido de Espanha é uma atitude mais nobre e que lhe permite uma maior rentabilização em termos eleitorais. A ERC é, neste momento, claramente superior nas projeções de voto. Logo há que distinguir entre os republicanos e a lista de Puigdemont, que é, à partida, mais radicalizada e que terá menos tendência para fazer acordos com o governo espanhol, seja ele qual for. Puigdemont está, neste momento, numa lógica de quanto pior, melhor. Quanto pior para o Estado espanhol, melhor para o nacionalismo catalão. Os republicanos não, sobretudo porque pode haver, não é de descartar, uma amnistia caso haja uma condenação dos nacionalistas catalães..Sánchez ainda não negou essa hipótese... Nem vai negar. É evidente para o eleitorado da Catalunha e para os moderados catalães que o Estado espanhol está a sobreatuar, está a exagerar com este julgamento, com esta moldura penal muito elevada. Sánchez também não quer alienar eventuais coligações ou eventuais votos que possa conseguir na Catalunha no eleitorado mais moderado, que considera tudo isto disparatado. Neste momento, para o PSOE, a Esquerda Republicana, como noutras ocasiões, é um parceiro mais fiável do que os nacionalistas do centro-direita de Puigdemont. Não há ali um bloco homogéneo, há cada vez mais fraturas internas no nacionalismo catalão, e fraturas que podem acentuar-se sobretudo depois de ser ditada uma sentença. .E o que esperar do Vox? Acho que vai eleger bastantes deputados. Está bem posicionado nas sondagens e normalmente o eleitorado espanhol omite o seu voto na direita mais conservadora e na extrema-direita. Agora, acho que Sánchez está a brincar com o fogo. François Mitterrand fez o mesmo com a Frente Nacional nos anos 1980 que Sánchez está a fazer com o Vox. A estratégia é engrossar e dar importância ao Vox, para assim retirar relevância e votos ao PP. No entanto, na prática, pode estar a criar um monstro, como aconteceu com a Frente Nacional, que a determinada altura deixou de ser eleitoralmente "controlável". É uma perspetiva de curto prazo, que não tem em conta as consequências do que é ter um partido neofranquista no Parlamento com uma votação expressiva.