As taxas de pobreza em Portugal têm vindo a diminuir desde 2014, registando a mais baixa percentagem em 2018 (17,3 % da população corria risco de pobreza). Em 2013 e 2014 eram 19,5 %, dados do INE trabalhados pela Pordata, que, assim, assinala o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, este sábado..As melhorias terão continuado em 2019, mas a pandemia levou ao decretar do Estado de Emergência a 16 de marco, o que fez com que o país praticamente parasse. Agravaram-se fatores, como a subida da taxa de desemprego, uma das grandes causas da pobreza, 8,1 % da população ativa estava desempregada em agosto de 2020..risco de pobreza Infogram."Todos os indicadores que temos é de um crescimento forte e repentino da pobreza. E a situação agravar-se-á depois de terminadas estas moratórias que têm dado a algumas empresas a possibilidade de manterem os postos de trabalho. Se o Estado não mantiver o apoio às pequenas empresas efetivamente carenciadas - o que nem sempre é distribuído de forma equitativa -, podem perder-se muitos postos de trabalho. O desafio é não só manter os postos de trabalho, como recuperar aqueles que se perderam. A pobreza vai aumentar e não depende só de fatores nacionais", alerta Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas Portuguesa..Ao problema económico, acresce o problema sanitário, com uma terceira vaga a poder provocar o encerramento de mais espaços e a infetar muitas pessoas, com a consequente diminuição dos rendimentos se estiverem em baixa e não se mantiverem as exceções..Estar em risco de pobreza significa receber 60 % do rendimento nacional mediano por adulto equivalente após transferências sociais. Em Portugal, representa um salário de 490 euros nos 12 meses do ano, enquanto na Áustria, é mais que o dobro. Pior do que Portugal só a Roménia, Bulgária, Hungria, Grécia, Letónia, e Lituânia..Copy: incapacidade de pagar despesas Infogram.Além de que o salário mediano português diminuiu entre 2010 e 2013, passando de 5 434 euros anuais em 2010 para 4 960 euros em 2012. E só há dois anos superou os valores de 2009, chegando a 5 685 euros..Mas é com prestações sociais, como as reformas e outras pensões. Caso contrário, eram 88,8 % os habitantes em Portugal que corriam risco de pobreza, a esmagadora maioria da população com 65 ou mais anos..Uma conclusão importante, é que "os beneficiários das pensões mínimas de velhice e invalidez do regime geral da Segurança Social são praticamente iguais a 1974. A pensão mínima no ano do 25 de abril era de 260, 7 euros, na conversão ajustada aos valores reais da época, contra os 266,1 euros atuais. E, quanto ao salário mínimo, a diferença é mais de 99 euros, comparando o valor em vigor no ano passado com aquele de há 46 anos (681,4 contra 582,6 euros - mais uma vez, na conversão ajustada aos valores reais da época)..Entre 2007 e 2018, são os menores de 18 anos os potencialmente pobres depois das transferências sociais, também com o melhor resultado no último ano, 18,5 % deste grupo etário..Eugénio Fonseca explica aquela situação por duas ordens de razões. Os jovens neem-nem, que não trabalham nem estudam, e que vivem em famílias carenciadas, que não os podem apoiar financeiramente. Em geral, agregados de famílias monoparentais, em grande parte dos casos de mulheres sós com os filhos..O ano passado, mais de 267 mil pessoas recebiam o Rendimento Social de Inserção, o número mais baixo desde 2006. E 51,6 % eram mulheres e 41,2 % tinham menos de 25 anos.."As mulheres são as que aparecem mais a pedir ajuda aos organismos, não só porque dão a cara mas porque estão em maior situação de vulnerabilidade. São elas que ficam com os filhos e os progenitores desresponsabilizam-se desses encargos", diz Eugénio Fonseca, sublinhando: "As dificuldades das famílias monoparentais têm muito a ver com os encargos das mulheres que ficam com as crianças, o pai não paga a pensão de alimentos (arranja artimanhas) e elas não têm meios para contratar um advogado. E os tribunais estão a falhar, além dos processos demorarem muito tempo, não vão atrás do progenitor para investigar se têm meios ou não para pagar e há muitos que têm"..Em 2018, um em cada três agregados domésticos pobre é constituído um adulto com uma ou mais crianças, o que também acontece com famílias com dois adultos e três ou mais crianças. E "o risco de pobreza é mais acentuado entre indivíduos em escolaridade ou com um nível básico de escolaridade", sublinha a Pordata..É pobre um em cada quatro indivíduos com o 9.º ano no máximo de escolaridade. Na Bulgária e na Roménia representam mais de metade..incapacidade de pagar despesas Infogram.Outro indicador, são as despesas inesperadas que essas pessoas não são capazes de suportar, 33 % no caso português. Problema que só acontece com 15, 1 dos malteses e 18,5 % dos austríacos. Os piores vivem na Croácia e Letónia, com cerca de 50 % da população a não conseguir fazer face a estes encargos..Portugal atingiu o valor mais baixo em 2019, num período de 16 anos, sendo o valor mais elevado alcançado em 2013, na sequência da crise de 2008..Quer aquele dado dizer, que os rendimentos esgotam-se nas despesas mensais, que não há poupanças. E são os que primeiro aparecem junto das Cáritas e instituições similares. Segundo Eugénio Fonseca, as mulheres com filhos a cargo; os jovens adultos, que trabalhavam em call centers, Uber e afins, o que lhes permitiu alugar uma casa que partilhavam com o companheiro, e que perderam o emprego. "Quando é só um e, se os pais podem ajudam nas despesas, se são os dois, têm de regressar a casa familiar, o que traz grandes problemas para o futuro"..Um outro grupo é o dos imigrantes, muitos deles a enviar dinheiro para as famílias dos países de origem, naturais de Angola, Guiné, Cabo Verde, São Tomé e Brasil, que ficaram sem, emprego ou viram os rendimentos reduzir substancialmente.