"Saiu o tiro pela culatra a Maduro"
Que impacto tem a comunidade internacional não reconhecer as eleições venezuelanas?
Vai isolar ainda mais o regime de Maduro e, nesse sentido, o que é muito importante é sejam os países latino-americanos, o Grupo de Lima, a encabeçar isso. Já não é apenas a ação das potências imperiais, da Europa ou dos EUA, mas uma iniciativa do próprio continente.
E em relação às sanções dos EUA e resposta de Maduro de expulsar diplomatas?
As sanções começam a atingir o centro do regime de Maduro. Nesse sentido, é importante ver qual foi a reação quando se sancionou Diosdado Cabello, que foi a expulsão do encarregado de negócios da embaixada dos EUA, algo semelhante ao que tinha acontecido com o embaixador de Espanha quando a União Europeia também aprovou sanções que atingiram Cabello e outras figuras. O que estas reações provam é que estas sanções Ad hominem têm efeito, atingem e doem. O endurecimento das sanções vai depender da evolução dos acontecimentos, o que aconteça dentro do regime, se houver distensão ou não. É isso que vai condicionar as coisas.
Há alguém dentro do regime que pode surgir agora para provocar mudanças?
Até agora quem mostrou uma voz discordante foi afastado. A situação está a mudar. É preciso ver se o regime mantém esta imagem de unidade ou não.
Maduro queria legitimar-se com as eleições, mas a taxa de participação foi de 46%...
E os dados de participação são oficiais, é preciso pensar que foram inflacionados. Havia uma ausência de entusiasmo brutal. A extensão do horário de votação, a tentativa de mobilizar os mais fieis , tudo isto revela que a participação era muito baixa e que Maduro estava preocupado. E claro que isto limita a legitimidade. Os constantes governos chavistas procuraram a relegitimação a partir de processos eleitorais. Maduro quis fazer o mesmo, mas saiu-lhe o tiro pela culatra, porque a baixa participação o que revela é a falta de apoio popular ao governo.