Sade e Freud segundo Álvaro Lapa, em Lisboa
Álvaro Lapa: alguns desenhos e pinturas é o título desta exposição com curadoria de João Pinharanda, e apresenta um núcleo da obra do artista que inaugura no próximo dia 18 e ficará patente até 21 de fevereiro, na Sala Cinzeiro 8 do Museu da Eletricidade, em Lisboa.
A mostra apresenta algumas séries completas de trabalhos criadas entre os anos 1970 e 1990, parte delas inéditas e outras que não são vistas há muito tempo pelo público, segundo o curador.
Álvaro Lapa explora nestes trabalhos três personagens míticas que são as referências literárias nesta exposição: Milarepa, monge tibetano que se libertou do prazer e da dor, do bem e do mal, através da meditação; Sade, que ultrapassou todos os limites da liberdade política, social e sexual; e Freud, que tentou racionalizar o funcionamento do inconsciente colocando o sexo no centro explicativo do comportamento humano.
"Na exposição, são reunidas algumas pinturas e algumas séries de desenhos onde somos confrontados com a palavra e a imagem, com a morte e o sexo, com a liberdade do fazer e a submissão do olhar, com a violência e o vazio, com grandeza da ideia e a miséria das matérias. O corpo destas obras abre-nos para o que foi espírito intransigente e exasperado de Lapa", descreve João Pinharanda num texto sobre a mostra.
Nascido em Évora, em 1939, e falecido no Porto, em 2006, Álvaro Lapa viveu a infância e adolescência no ambiente culturalmente fechado dos anos 1940 e 1950 daquela cidade alentejana.
No liceu foi aluno de Vergílio Ferreira, que lhe despertou o interesse pela arte através da literatura, e colega de António Palolo e Joaquim Bravo, pintores com quem partilhou afinidades.
O primeiro contacto com a pintura surgiu nas aulas de desenho com o artista António Charrua, fixando-se depois em Lisboa, em 1956, tendo-se licenciado em Filosofia, em 1975.
No início dos anos 1960, viajou para Paris, onde estabeleceu contacto com pintores próximos do surrealismo e da arte norte-americana, como Robert Rauschenberg.
De regresso a Portugal começou a pintar, incentivado por António Areal, de quem recebeu o modelo de uma pintura sem escola, a ideia de Nova Figuração.
Em 1964, Álvaro Lapa realizou a sua primeira exposição individual, na recém-inaugurada Galeria 111, que viria a lançar e a representar vários artistas que se tornaram consagrados.
No Algarve, no seu retiro em Porto de Mós, iniciou-se na escrita, publicando "Raso como chão" (1977) e, em seguida, estabeleceu-se definitivamente no Porto.
A palavra escrita vai tendo uma presença cada vez maior na sua obra plástica, e, apesar da boa receção crítica da sua obra, manteve-se à margem dos mecanismos tradicionais de reconhecimento artístico.
Em 1978, foi apresentada a primeira retrospetiva de Álvaro Lapa no Centro de Arte Contemporânea, no Porto, e depois na Fundação de Serralves e na Fundação Calouste Gulbenkian, em 1994.
Foi-lhe atribuído o Grande Prémio EDP em 2004, que originou a exposição Álvaro Lapa: Obras-com-palavras e Paisagísticas, no Museu da Cidade, em 2006-2007.