"Sábados na Autoeuropa têm de ser pagos como um dia extra"

A nova comissão de trabalhadores da Autoeuropa insiste que o trabalho ao sábado tem de ser pago como um dia extraordinário, mesmo que os operários só estejam na fábrica de Palmela cinco dias por semana.
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A posição é defendida por Fernando Gonçalves, líder da lista E, vencedora das eleições de terça-feira, em entrevista ao DN/Dinheiro Vivo. Sem maioria - 4 em 11 mandatos -, Fernando Gonçalves garante que da comissão de trabalhadores sairá uma proposta conjunta antes da primeira reunião com a administração.

Venceram as eleições na Autoeuropa sem maioria. Qual será a estratégia para conseguir consenso na comissão de trabalhadores?

Vamos ter uma reunião e ouvir as listas eleitas, que têm as suas propostas. A lista C será aquela que tem as ideias mais convergentes com a nossa lista, porque desde sempre estivemos juntos na maneira como defendemos os trabalhadores. Isso será uma das hipóteses, mas nunca descartaremos as ideias das outras listas, que são muito válidas. Temos o objetivo comum de defesa intransigente dos trabalhadores.

O que têm mais em comum com a lista C em relação às outras listas?

Defendemos de forma clara que não se pode querer continuar a explorar os trabalhadores como querem. Primeiro do que o dinheiro está a nossa saúde. Temos de perceber que estes operários, que construíram a empresa, estão agora a ser encostados à parede. Não têm culpa que a Autoeuropa tenha recebido 677 milhões de investimento da Volkswagen e benefícios fiscais de 36 milhões do Estado português e que não tenha sabido fazer um planeamento correto daquilo que estava a acontecer para o lançamento do T-Roc. Isto tem de ser uma balança equilibrada: sem os trabalhadores, a empresa não pode fazer nada.

A lista C tem membros ligados ao SITE Sul, sindicato afeto à CGTP. Receia ser acusado de cedência aos sindicatos?

Quando estamos dentro de uma comissão de trabalhadores não há partidos nem sindicatos. Apenas discutimos ideias e propostas. Não teremos qualquer interferência. O trabalhador tem de ser defendido. Esse é o nosso objetivo. Chegaremos a uma plataforma de entendimento com todas as listas, que não estão preocupadas com outros assuntos que não os trabalhadores.

O que esperam da primeira reunião com a administração?

Desejamos que desta vez a administração tenha a perspicácia de entender o sinal dado pelos trabalhadores depois do chumbo do pré-acordo do novo horário, da greve de 30 de agosto e do resultado das eleições desta semana. Esperamos propostas com espírito aberto e condizentes com o que defendemos. Nunca nos negámos a trabalhar em dia nenhum. Não podemos é trabalhar de forma contínua sem ser pagos devidamente.

A Autoeuropa insiste no trabalho aos sábados. Em que condições aceitam a proposta?

Trabalhámos sempre ao sábado quando era um dia extra. E assim tem de ser. O sábado é um dia de descanso desde o 25 de abril. Não há volta a dar. Sempre foi pago como trabalho extraordinário e assim tem de continuar a ser mesmo que a semana de trabalho só tenha cinco dias. E as pessoas têm de ter liberdade para escolher se querem fazer isso. Há vida para lá da fábrica. A Autoeuropa não pode pensar que somos uns robôs. O humano precisa de descansar para garantir a produtividade, sobretudo numa área como esta, que é extremamente desgastante. Os trabalhadores aceitam trabalhar ao sábado desde que seja pago como um dia extraordinário. Não posso conceber que um sábado não seja pago o dobro de um dia normal. Os quatro sábados pagos, cada um, como um dia extra valem 3 vezes mais do que os 175 euros brutos que a fábrica nos quer oferecer para trabalhar quatro sábados por mês. Isto é surreal. Tem de haver sensibilidade da parte da empresa.

O que vão fazer se a administração insistir em pagar o sábado como um dia normal de trabalho?

Temos de chegar a um entendimento. Haverá diálogo até chegarmos a um consenso. Não podemos ir contra as ideias dos trabalhadores, que devem ser ressarcidos pelo valor justo. Adquirimos esse direito e não queremos passar de cavalo para burro. Vamos fazer isso por que motivo? Nós não fizemos uma greve por acaso. Chegámos a um limite nessa altura. Vai haver, por isso, um entendimento de todas as partes. Não pode haver chantagem constante na Autoeuropa de cada vez que é introduzido um modelo novo.

O que falhou da parte da Autoeuropa na preparação do T-Roc?

Para se atingir determinados números têm de ser desenvolvidas estruturas adequadas. Isso não aconteceu: por exemplo, na montagem final não houve qualquer renovação. Isto é grave e não podem ser os trabalhadores a pagar os erros.

Há tempo de reverter esta situação?

Não, por isso é que o trabalhador vai pagar a fatura, a nível físico e mental. Devia ter havido outra preocupação da administração. Não basta dizer que vão entrar dois mil trabalhadores e depois há cada vez menos tempo para formação. Foi tudo feito em cima do joelho.

(Notícia corrigida às 14h24: A frase correta é "Os quatro sábados pagos, cada um, como um dia extra valem 3 vezes mais do que os 175 euros brutos que a fábrica nos quer oferecer para trabalhar quatro sábados por mês" e não "Um sábado pago como um dia extra vale 3 vezes mais do que os 175 euros brutos que a fábrica nos quer oferecer para trabalhar quatro dias por mês", como escrito na primeira versão desta entrevista.)

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