Russos perdem facilidade de entrada na UE, inspetores à porta da central de Zaporíjia
Como é habitual nos assuntos europeus, depois de alguns países defenderem posições extremadas, chegou-se a acordo político. Os chefes da diplomacia dos estados-membros decidiram pelo fim do acordo de facilitação de vistos com a Rússia. Na Ucrânia, a equipa da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) espera entrar hoje na central nuclear de Zaporíjia, onde quer estabelecer uma presença permanente.
Finlândia, Polónia, Estónia, Letónia e Lituânia, os cinco países com fronteira com a Rússia, defendiam a proibição total de concessão de vistos turísticos a cidadãos russos; outros, como a Alemanha, a França, além da Comissão Europeia estavam em frontal desacordo. A revogação do pacto assinado há 15 anos foi o compromisso alcançado entre os ministros dos Negócios Estrangeiros, reunidos em Praga. O acordo já não se aplicava na totalidade, uma vez que dirigentes e oligarcas russos já estavam impedidos de entrar no espaço Schengen.
DestaquedestaqueNa prática, com a suspensão do acordo cada um dos 27 países passa a ter autonomia na concessão de vistos aos cidadãos russos.
Para o chefe da diplomacia europeia, "o crescente número de entradas" de cidadãos russos em solo europeu, que se regista desde "meados de julho", representa um "risco para a segurança", pelo que este acordo é para Josep Borrell uma medida lógica, mas ao mesmo tempo equilibrada: "Não queremos isolar-nos daqueles que são contra a guerra na Ucrânia."
Para o diplomata catalão este acordo significa que o número de novos vistos emitidos será "significativamente reduzido", porque o processo vai "ser mais difícil e mais longo". Consequência da suspensão do acordo, cada um dos 27 passa a ter autonomia na concessão de autorizações de entrada a cidadãos russos, pelo que não é de excluir que alguns países deixem de emitir vistos, exceto por razões humanitárias, como foi defendido pela primeira-ministra da Estónia, Kaja Kallas, e pela primeira-ministra da Finlândia, Sanna Marin.
Na Ucrânia, a equipa de 14 elementos da AIEA, chefiada pelo diretor Rafael Grossi, chegada à cidade de Zaporíjia, fez saber que têm como objetivo manter uma presença na central nuclear situada em Enerhodar, para evitar "um acidente nuclear". "A minha missão é evitar um acidente nuclear e preservar a maior central nuclear da Europa", disse Grossi, chegado de Kiev.
Enquanto isso, o ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano Dmytro Kuleba disse que "a Rússia não tem o direito de fazer parte" da missão dos inspetores da agência da ONU. Além disso, apelou para a União Europeia impor sanções à Rosatom, a empresa estatal de energia nuclear da Rússia. "A Rosatom sequestrou a maior central nuclear da Europa e ainda não foi sancionada. Trata-se de uma situação muito estranha", disse Kuleba.
Noutra latitude, os serviços secretos alemães estão a investigar dois funcionários do Ministério da Economia por suspeita de espionagem para Moscovo, noticiou o Die Zeit. Há dias, foi noticiado que as autoridades alemãs tinham indicações de que os serviços secretos russos espiavam os soldados ucranianos que estão a receber formação militar na Alemanha.
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