Rússia considera inaceitáveis acusações britânicas sobre ex-espião envenenado

Porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, classificou como inaceitáveis as acusações britânicas de que o envenenamento do ex-espião russo Sergei Skripal no Reino Unido teve o aval de responsáveis superiores da Rússia
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No dia em que o ministro da Segurança britânico apontou o dedo a Vladimir Putin no caso do envenenamento do ex-espião russo Sergei Skripal (e da filha deste) em Salisbury, no Reino Unido, o Kremlin classificou como inaceitáveis estas acusações.

"Em última instância, evidentemente, ele é o responsável. Ele [Vladimir Putin] é o dirigente do Estado", afirmou Ben Wallace esta quinta-feira de manhã em entrevista à estação BBC Radio 4.

"Voltamos, uma vez mais, a dizer que ninguém, nenhum representante oficial, nem a nível superior ou a nível inferior, teve alguma coisa a ver com os acontecimentos de Salisbury. Insinuações deste género ou acusações deste tipo, repito, são consideradas inaceitáveis" para a Rússia, disse, esta quinta-feira à tarde, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.

Na quarta-feira a procuradoria britânica acusou os dois espiões da secreta militar russa GRU de conspiração para matar Sergei e Yulia Skripal. O ex-espião russo e a filha foram envenenados, a 4 de março, em Salisbury, com gás nervoso Novichok. Estiveram hospitalizados. Mas acabaram por sobreviver ao que a primeira-ministra Theresa May descreveu no Parlamento britânico como uma operação autorizada "certamente fora da GRU a um nível superior do Estado russo".

May falava aos deputados na Câmara dos Comuns depois de a procuradoria britânica ter identificado aqueles dois agentes russos da GRU como Alexander Petrov e Ruslan Boshirov. E de a Scotland Yard (Polícia Metropolitana) ter divulgado fotografias do rosto dos dois, imagens de câmaras de videovigilância destes na estação de comboios de Salisbury, mas também do recipiente em que foi encontrado o referido gás nervoso desenvolvido pela União Soviética na era da Guerra Fria.

Esta quinta-feira, citado pela Reuters, o website russo Fontanka noticia que pessoas usando passaportes com os nomes Alexander Petrov e Ruslan Boshirov viajaram por cidades europeias como Amesterdão, Genebra, Milão e Paris em várias ocasiões entre setembro de 2016 e março de 2018. A pessoa com passaporte Petrov esteve em Londres a 28 de fevereiro deste ano, antes do envenenamento dos Skripal.

Quando divulgaram as provas que conseguiram obter, as autoridades britânicas admitiram, desde logo, que os nomes dos dois suspeitos seriam provavelmente falsos. O Reino Unido emitiu um mandado europeu de captura contra os dois homens, mas não um pedido de extradição dirigido a Moscovo, alegando que a Rússia não tem por hábito extraditar os seus nacionais. O porta-voz do Kremlin precisou que a Rússia não está a investigar aqueles dois homens uma vez que os britânicos não pediram qualquer assistência legal por parte de Moscovo.

Durante a tarde desta quinta-feira, num comunicado conjunto, citado pela Associated Press, EUA, Alemanha, França e Canadá indicaram que apoiam as conclusões da investigação britânica sobre o caso Skripal. Os governos destes países instaram a Rússia a dar "total informação sobre o seu programa [com uso de gás nervoso] Novichok". No documento, estes países insistiram que o envenenamento do ex-espião "foi certamente autorizado a nível superior pelo governo" russo.

No que toca à UE, onde os 28 renovaram as sanções à Rússia por causa das interferências na Ucrânia, a Comissão Europeia avisou que, para haver novas sanções contra Moscovo por causa do caso Skripal, elas têm que ser aprovadas por todos os Estados membros. E alguns, como por exemplo Áustria e Itália, podem não estar de acordo.

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