Rui Vitória vai ganhando a sua carta de alforria
Escrevi aqui no início do campeonato que o Benfica era também candidato ao título. A vitória em Braga, depois da qualificação a meio da semana para os oitavos--de-final da Liga dos Campeões, provam isso. Mesmo sem o cérebro, mesmo num ano em que ficou sem jogadores importantes, teve capacidade para ir buscar jogadores interessantes e a aposta na formação começa a dar frutos.
Os treinadores são o que são e eu acredito pouco nos génios - até porque mesmo os génios não conseguem ser geniais todos os dias. Rui Vitória tem formação e experiência, falta-lhe carisma e, creio, algum golpe de asa no banco. Mas tem sabido, de forma doseada, dar corpo à tal aposta na formação. Que se nota mais porque durante os anos de Jesus este nem sequer tentou essa aposta. Em parte também porque lhe deram tudo o que ele queria e não queria. Os treinadores são elementos importantes, decisivos, mas penso que, na maioria dos casos, precisam de ser muito acompanhados, terem capacidade para ouvir os outros, mesmo os dirigentes. Jesus e Lopetegui - e outros - seriam melhores se tivessem capacidade para ouvir outras opiniões. O espanhol então poderia ser muito melhor, mas de facto não é capaz de estabelecer diálogos, só fala sozinho. Jesus também.
Hoje, Rui Vitória mostra que se vai adaptando. Parece ser mais humilde e vai aprendendo - depois de aceitar uma inacreditável digressão americana na pré-época - e mostrando que uma das coisas essenciais é a coesão interna. Que passa por resultados, mas também passa por coerência de decisões. E não ter medo delas.