Rui Vinhas quer mostrar que triunfo de 2016 não foi por acaso
Confiança e experiência. A vitória na Volta a Portugal em 2016 mudou a vida de Rui Vinhas (30 anos), até então um gregário importante na ajuda a Gustavo Veloso. Quando a 7 de agosto conseguiu segurar a amarela no contrarrelógio até à meta em Lisboa, o ciclista da W52-FC Porto passou a ter um contacto bem diferente com o público, com os meios de comunicação social e mesmo dentro da equipa o seu estatuto mudou. Pessoalmente, o triunfo deu--lhe "a confiança" para começar a disputar mais corridas e uma "experiência" que lhe permite encarar essas provas com outra atitude. O dorsal um será dele e Vinhas admite que se surgir a oportunidade naturalmente "gostaria de repetir" o feito. Ainda assim, será no papel de gregário que estará novamente. Gustavo Veloso é o líder e o ciclista não deixa dúvidas quanto a isso.
"Ganhei bastante experiência nessa Volta. Agora vou para as competições com mais confiança, acredito mais em mim e os resultados começaram a surgir", salientou ao DN. Mas houve mais mudanças, pois como vencedor da Volta a Portugal é agora mais reconhecido e acarinhado pelas pessoas, sendo mais solicitado para convívios e entrevistas. E a pressão mediática foi algo novo com que Vinhas teve de lidar quando vestiu a camisola amarela em Macedo de Cavaleiros, na terceira etapa. A experiência também aí terá o seu efeito. "Tenho noção de que a pressão mediática será outra. As pessoas vão estar à espera do meu resultado e os jornalistas, no início da Volta, vão estar de olho em mim. Não vou passar tão discretamente como noutros anos. Tenho consciência disso e tenho de estar à altura do momento", afirmou.
Preparar uma Volta a Portugal sendo o vencedor da última edição é diferente a nível emocional. Rui Vinhas referiu como tentou colocar "a pressão de lado", admitindo ser difícil não pensar no feito de 2016 e em como será difícil repeti-lo. Será um homem de trabalho para Gustavo Veloso, mas... "Surgindo uma oportunidade, vou agarrar com unhas e dentes, mas há líderes e há que respeitá-los. No ano passado respeitaram-me. Só com ordens [do diretor desportivo Nuno Ribeiro] é que tentarei fazer algo parecido."
Rui Vinhas chegará à Volta como vice-campeão nacional - foi batido por Rúben Guerreiro (Trek-Segafredo) -, tendo ainda alcançado o pódio na Clássica de Primavera Amorebieta, em Espanha. Apesar de há um ano muito se ter falado que Veloso era o ciclista mais forte, Vinhas sente a conquista valorizada. "A maior parte dos portugueses dá valor à minha vitória. Apoiaram-me bastante durante a corrida e estou muito agradecido por isso", disse. E para que não restem dúvidas: "Vou tentar estar ao meu melhor para mostrar que a vitória não foi por acaso, pois lutei bastante e que consegui estar ao nível dos melhores."
A união que tem feito a força
A estrutura da W52-FC Porto tem dominado a Volta a Portugal nos últimos anos. Apresenta-se novamente com uma equipa muito forte, reforçada com a chegada de Amaro Antunes, que neste ano conquistou a etapa do Malhão na Volta ao Algarve, a Clássica da Arrábida e recentemente venceu o Troféu Joaquim Agostinho. Dentro da equipa, há outros ciclistas que podem ser candidatos, como Raul Alarcón, também ele a fazer uma temporada com êxitos. E não esquecer que lá está também um antigo vencedor da Volta: Ricardo Mestre.
"Temos vários ciclistas que podem ter o mesmo papel que eu tive no ano passado e, se assim for, o que nós queremos é que a vitória fique na equipa", frisou Vinhas, sempre assegurando que Veloso é o líder indiscutível. Perante a perspetiva de haver tentativas para desestabilizar a equipa, visto existirem tantos ciclistas com potencial, Vinhas é perentório: "Muita gente quer desestabilizar-nos, mas nós não podemos cair nisso. A união do grupo tem feito a diferença." E realça que não há divisões dentro da equipa.
Gustavo Veloso (37 anos) tem feito uma temporada discreta a nível de triunfos - venceu a Clássica da Primavera -, mas Vinhas adianta que o espanhol garantiu estar "bastante bem". "É um ciclista experiente e quando aponta a um objetivo raramente falha. Acredito que será um dos homens mais fortes da Volta", afirmou, acrescentando que o percurso assenta bem a Veloso: "O prólogo tem excelentes condições para ele e as etapas de média montanha favorecem-no bastante."
A Volta a Portugal começa amanhã em Lisboa com um prólogo de 5,4 quilómetros. Rui Vinhas parte tranquilo e apostado em aproveitar todos os momentos em que irá envergar aquele muito especial dorsal número um. E, se não tiver a oportunidade para repetir o feito de 2016, juntar uma etapa ao currículo já "seria algo excelente", confessa o ciclista, que em 2016 furou todos os prognósticos.