Rui Rio: "Isto não é país que se apresente em lado nenhum"

Rui Rio em entrevista à SIC, esta sexta-feira, mostrou-se indignado com a investigação levada a cabo pelo Ministério Público que na passada quarta-feira fez buscas em sua casa e na sede nacional do PSD, em Lisboa. "Estão a atacar a democracia toda", afirmou o ex-líder do PSD.
Publicado a
Atualizado a

Rui Rio, ex-lider do PSD (entre 2018 e 2022),em entrevista ao Jornal da Noite na SIC, explicou que está a ser vítima de um ataque por parte do Ministério Público e que este está a atacar os políticos: "a melhor forma de defender a corrupção é dizer que os políticos são todos corruptos. É isso que um corrupto mais quer", frisou. "O Ministério Público atua de maneira para que todos pensam que os políticos são todos corruptos", acrescentou.

Rui Rio instigou o poder político a ter coragem de fazer uma reforma na justiça. "Se o poder político tiver medo de fazer a reforma da justiça e de dizer basta, vai haver um momento em que alguém vai dizer chega"

Recorde-se que esta semana, na quarta-feira, a Polícia Judiciária (PJ) realizou buscas na casa do ex-presidente do PSD, Rui Rio, no Porto, e também na sede nacional do partido, em Lisboa. Em causa estão suspeitas de crimes como peculato e abuso de poderes por alegada utilização indevida de verbas públicas, mais concretamente da Assembleia da República.

Rui Rio explicou que os partidos políticos recebem dois tipos de verbas: "uma verba porque tiveram mais de 50 mil votos nas eleições, outro porque têm um grupo parlamentar. E é muito dizer importante: o grupo parlamente é um órgão do partido! Quem trabalha na sede ou no grupo parlamentar trabalha para o partido".

E acrescentou: "O que estamos a falar é uma prática transversal a todos os partidos desde sempre, já nos anos 1980 eram assim".

"Só gostava que a saber porque só o PSD foi alvo de buscas e porque é que dentro do PSD foi escolhido o mandato de 2018 a 2021, no período em que eu fui presidente ", acrescentou.

"Ambas as verbas são despachadas pelo Presidente da Assembleia da República. É obrigação dos partidos políticos gerirem estas verbas com rigor e seriedade, e não como o Ministério Público diz não sabe gerir as verbas", indicou Rui Rio no Jornal da Noite da SIC.

Na mesma entrevista, o ex-líder do PSD, exemplificou com um caso: "Se um partido tem um assessor numa determinada área, como o ambientou ou a saúde, por exemplo, o Ministério Público quer que existam dois assessores na mesma área, um para o grupo parlamentar e outro, na mesma área, para estar na sede do partido, o que é completamente absurdo".

Em 2019, no processo que Rui Rio elaborou na redução de custos no PSD foi alvo de uma denuncia anónima. Rio opinou sobre essa denuncia que levou à investigação da PJ: a situação: "Existiam duas funcionárias, irmãs, com as mesmas funções. Uma no grupo parlamentar e outra no partido e uma ganhava o dobro da outra. O que fiz foi baixar um pouco o ordenado de uma e ajustei quem estava pior. . E isto é uma vingança de quem baixei o vencimento, e são inimputáveis. Mas o que é gravíssimo é que o Ministério Público intromete-se politicamente a dizer aos partidos como devem gerir dinheiro que o Estado lhes coloca à disposição".

E acrescentou, indignado: "O mais grave é que só aconteceu ao PSD e dentro do PSD no período em que foi presidente. Isto não é país que se apresente em lado nenhum!".

Sobre a possibilidade da lei ser alterada, Rui Rio, diz que a lei é clara e o que o Ministério Público é inadmissível, "o poder político vai ter que se agachar e clarificar o que já está clarificado".

Rui Rio acrescentou não estar interessado em voltar à política. Indicou ainda que já falou com Luís Montenegro numa conversa que adjetivou de "nada de especial, mas de deitar as mãos à cabeça com todo isto". E acrescentou: "O que digo em relação ao líder do PSD é transversal a todos os órgãos de soberania com poder político, têm de ter coragem de fazer a reforma da justiça! É inadmissível".

Sobre este caso, e já na quinta-feira, ao final do dia o Presidente da República disse que há uma zona cinzenta na legislação."Lembro-me quando era líder do PSD a lei era diferente, aliás já mudou muitas vezes desde o início do século, mas havia esse problema, que tem consequências, por exemplo, o grupo parlamentar pode decidir o voto, ou há matérias que pode decidir o voto", referiu.

"Esta dupla natureza torna muito difícil saber o funcionamento e financiamento do dia a dia". E acrescentou: a legislação de financiamento, foi mudada em 2010 e desde então prevê que os deputados recebam uma subvenção para vários fins. E na última versão de 2015, diz que é atribuída a cada grupo parlamentar é atribuído um montante para encargos de assessorias aos deputados e para atividade política e partidária. Fica uma zona cinzenta, e aí entra possibilidade de entrar as despesas da atividade de assessoria", disse aos jornalistas "É uma reflexão que vale a pena fazer para o futuro, porque não é muito fácil definir as fronteiras, entre o grupo parlamentar como órgão do partido ou como órgão do parlamento, deve-se clarificar o que pode ser ou não pode ser", explicou.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt