Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto, afirmou esta terça-feira que a carta do Ministério da Defesa sobre as instalações militares, ocupadas por toxicodependentes, é "um desprezo absoluto pela realidade" e demonstra que o Estado vive "alheado" dos problemas dos cidadãos.."Isto [carta] é um desprezo absoluto pela realidade", referiu, em declarações à Lusa, Rui Moreira..O autarca considerou que a resposta da tutela à carta que enviou a 26 de janeiro, a propósito da ocupação das instalações militares por toxicodependentes, demonstra que "o Governo central vive completamente ausente e alheado dos problemas com que nós [cidadãos] nos vemos confrontados".."Nunca imaginei que um ministro assumisse uma carta desta natureza quando lhe chamamos a atenção para aquilo que é uma coisa absolutamente óbvia, que toda a gente percebe que está a acontecer em que no fundo estamos a pedir para o Estado, naquilo que é seu, garantir o normal funcionamento democrático", salientou..Rui Moreira disse ainda que a resposta da tutela demonstra que "o que é do Estado central é como se fosse uma ilha dentro da cidade", ainda que considere que, nesta matéria, o Estado tem uma responsabilidade acrescida.."A senhora ministra diz que fazem lá umas fiscalizações, mas não sei quais são", observou, dizendo ter sido com "perplexidade" que viu a resposta do Ministério da Defesa Nacional.."Isto tem muito a ver com o exercício do cargo público. Tenho um mandato da população que neste momento está posto em causa pelo Estado central", acrescentou..Na carta, enviada na segunda-feira a Rui Moreira e a que a Lusa teve hoje acesso, a ministra da Defesa, Helena Carreiras, agradece a missiva e o relato feito pelo autarca, que, considera, "naturalmente, a todos deve preocupar"..À semelhança da resposta enviada pelo Ministério da Defesa Nacional à agência Lusa, a ministra esclarece que o processo de afetação do imóvel está "em fase final" e que a conclusão do processo permitirá "concretizar um desígnio tão importante como a disponibilização de habitação para arrendamento acessível, mas também colocar termo a potenciais situações de ocupação indevida"..À Lusa, o Ministério da Defesa Nacional afirmou hoje que está em "fase final" a afetação das instalações militares no Porto, ocupadas por toxicodependentes, ao programa de arrendamento acessível do Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU)..O Quartel de Manutenção Militar, imóvel tutelado pela Direção-Geral dos Recursos da Defesa Nacional, foi afeto ao programa de arrendamento acessível do IHRU depois de, a 16 de setembro de 2021, o Conselho de Ministros ter aprovado a desafetação do domínio público hídrico e militar do Trem do Ouro e da Casa do Lordelo do Ouro.."A regularização do registo foi efetuada recentemente, depois de um levantamento topográfico que envolveu, entre outros, em dezembro de 2022, técnicos do município do Porto, aguardando-se agora no Ministério da Defesa Nacional a receção do auto de constituição de direito de superfície, pelo IHRU, momento após o qual o imóvel será entregue ao referido instituto", acrescenta..À Lusa, o ministério salienta que o imóvel tem sido alvo de várias intervenções, com vista a impedir a entrada de pessoas, como o "emparedamento de vãos e vedação de possíveis entradas", e a realização de rondas por parte do Exército..Apesar das intervenções, as instalações "têm sido objeto de intrusão e vandalização", salienta o Ministério, que diz acreditar que a conclusão dos procedimentos necessários de tramitação do imóvel permitirá "concretizar um desígnio tão importante como a disponibilização de habitação para arrendamento acessível, mas também colocar termo a potenciais situações de ocupação indevida"..Na carta enviada a 26 de janeiro à ministra da Defesa, a que a Lusa teve acesso, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, apela a que se adotem medidas para resolver o "grave problema de segurança" do Quartel de Manutenção Militar e da Casa da Superintendência, espaços frequentados por toxicodependentes.