Rubén Blades reforma-se. Mas só dos concertos de salsa

O autor de "Pedro Navaja" anunciou que se retira das digressões de salsa, mas os projetos continuam. Mesmo os políticos
Publicado a
Atualizado a

A notícia caiu com estrondo no universo hispânico. O cantautor Rubén Blades, que agora vemos no papel de Daniel Salazar na série Fear of the Walking Dead, anunciava que se retirava da salsa. O título da digressão que tem percorrido EUA, América Latina e Europa - Caminando, Adiós, Gracias - era, então, mais do que um título.

Mais de quatro décadas depois de se ter dado a conhecer, o músico do Panamá, que completa 70 anos a 16 de julho do próximo ano, põe fim às digressões. "De salsa", sublinha ao DN, como o fez ao El Periódico da Catalunha, antecipando um concerto em Barcelona. Porque é que decidiu parar? "Quero tentar outras coisas, enquanto ainda tenha energia para as fazer e fazer bem", disse ao jornal. E sublinha que é apenas da salsa, esse género que classifica de "revolucionário", que se retira. Os planos são muitos e as colaborações com outros músicos levam--no por várias geografias da América Latina.

A lista de afazeres inclui um novo álbum com Roberto Delgado, que se chama Rubén Blades Salsa Big Band, já editado, outro gravado (Las cintas perdidas de Medoro Madera), em que recupera sons cubanos dos anos 20, trabalhar com o grupo brasileiro chamado Boca Livre, com os P.R.G. e com o grupo Editus, da Costa Rica. Fora o disco de jazz que perspetiva e um outro, ao vivo, em Nova Iorque. Nos seus planos está também produzir música e filmes. Além, claro, de Fear of the Walking Dead, a série para a qual foi convidado para integrar depois de terem visto o desempenho em Detenção de Risco (2012), ao lado de Denzel Washington.

O frenesim descrito é coisa de família. Rubén Blades, nascido em 1948, cresceu entre artistas e ativistas políticos. É filho de uma atriz e cantora cubana e de um atleta, percussionista e funcionário de uma agência norte-americana ligada ao combate aos narcóticos. Um tio--avô materno combateu contra os espanhóis por Cuba.

Cresceu na capital do Panamá, era estudante de Direito quando os pais se exilaram em Miami. O pai foi acusado por Manuel Noriega de estar envolvido num golpe de estado contra Omar Torrijos. Em 1974, juntou-se a ele e foi já em solo americano que começou a mostrar as suas canções. Eram os anos 70, e ele começou a colaborar com o trombonista Willie Colón, nova-iorquino com raízes em Porto Rico. Trabalhavam juntos quando, em 1977, Rubén Blades conhece o seu primeiro grande êxito, Pablo Pueblo, que o artista tinha composto em 1968, e que é incluída no primeiro disco Metiendo Mano! No ano seguinte, sai Siembra, que inclui Pedro Navaja. Por essa época, a salsa unia muitos latino-americanos em Nova Iorque e Rubén Blades ficou associado ao que se chamou salsa intelectual. Pelo caminho, voltou à escola de Direito de Harvard, em 1985.

[youtube:ZY0vaMugAOM]

Rubén Blades é um ativista político e depois da experiência como ministro do Turismo, do Panamá, entre 2004 e 2009, no horizonte pode estar uma recandidatura à presidência do país em 2019. Perante a pergunta do DN, dispara uma resposta diplomática e suficientemente ampla para acomodar o sim. "Não estou a pensar nisso neste momento. Tudo o que tenho dito é que é uma consideração, mas não tomei uma decisão." Em 1994, fundando o partido Movimiento Papa Egoró, propôs-se às eleições presidenciais. Recebeu cerca de 18% das intenções de voto e perdeu para Ernesto Pérez Balladares.

Recentemente, usou o seu blogue para se envolver numa polémica contra Nicolás Maduro e as políticas adotadas pelo presidente da Venezuela. Recusou falar delas na entrevista ao DN. "Não vou falar sobre o assunto neste âmbito", referiu, enquanto remetia para a página da web.

Nicolás Maduro criticou as opiniões de Rubén Blades sobre a política atual da Venezuela. Nicolás Maduro respondeu-lhe num conselho de ministros televisionado dizendo ser Pablo Pueblo. O cantautor respondeu-lhe no seu blogue: Pablo Pueblo jamais reprimiria o seu povo. E retomou o tema no que chama de "glosas dominicais" após as eleições para a Assembleia Constituinte: "Nem a defesa mais absoluta do que acontece na Venezuela pode negar que o regime de Maduro se apoia através da repressão e do desconhecimento da Constituição e da Lei."

[youtube:VSJU0BBzC0U]

Depois dos compromissos em Madrid, Rubén Blades veio a Lisboa de férias por uns dias e já está de regresso aos palcos. No próximo dia 15 de setembro, no festival de jazz do mar do Caribe. O derradeiro acontecerá a inícios de 2018.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt